Vladas Urbanavicius veio para o Brasil de navio em 1930, com dois de seus irmãos. O então garoto de apenas 9 anos de idade, atravessava o continente, pela primeira vez, em busca de vida nova. O sonho de sua família era conseguir juntar algum dinheiro para trazer os outros dois irmãos que ficaram na Lituânia, sua terra natal. Ao aportarem no Rio de Janeiro, perceberam que a realidade brasileira era bem diferente. O único trabalho disponível era de apanhador de café em Ribeirão Preto. Os 3 jovens não tiveram outra alternativa senão aceitarem a oferta. Alguns anos depois, Douglas, seu irmão, foi trabalhar em um restaurante em São Paulo e todos acabaram se mudando para a capital paulista. Uma das primeiras ocupações de Vladas foi com a venda de máquinas de escrever. Através desse novo emprego, o jovem lituano passou a conhecer muitas cidades do interior de São Paulo e de Minas. Sua vida itinerante só teve uma pausa quando chegou a Santa Rita do Sapucaí para fazer negócio. Ele adorou a cidade. Em pouco tempo, Vladas já havia conquistado muitos amigos e acabou decidindo mudar de vez para cá.
Ao contar seu projeto para o comerciante Antônio de Cássia Filho, que acabara de conhecer, este ofereceu a ele um empréstimo para que pudesse montar seu primeiro negócio. O mais interessante dessa negociação foi que o senhor Cássia pressentiu a honestidade do estrangeiro e não fez nenhuma exigência de documentos ou contratos para a concretização do empréstimo. Em três meses, Vladas voltava à casa do seu novo amigo para saldar o restante da dívida e convidá-lo a conhecer o seu novo estabelecimento, localizado em um porão, em frente ao cinema. Desde então, o lituano passou a comercializar frutas, legumes e verduras no local e a prosperar na terra que adotara.
Em alguns anos, Vladas conseguiu economizar uma quantia necessária para que realizasse um grande sonho: inaugurar seu próprio restaurante. Esse projeto era antigo. Vinha dos tempos de criança, quando ajudava seu irmão a preparar refeições no restaurante em que trabalhou em São Paulo. O nome escolhido, “Bife de Ouro”, foi em homenagem a um famoso restaurante que conheceu em Copabacana, Rio Janeiro.
No final da década de quarenta, comer em restaurantes não era um hábito comum. Era quase um luxo ou uma necessidade de quem se encontrava viajando. Por esse motivo, logo surgiram brincadeiras com o nome do estabelecimento. Os moradores de Santa Rita diziam que para um bife custar tão caro, só mesmo sendo de ouro. Quando chegava à cidade alguma jardineira trazendo romeiros em direção a Aparecida, os frequentadores da Praça Santa Rita sempre comentavam: “Se eles entrarem no Bife de Ouro, não vai sobrar dinheiro pra comprar lembrancinha!” No entanto, apesar dos hábitos serem bem diferentes naquela época, o recinto estava sempre repleto de fregueses. Não era pra menos, os sanduíches eram simplesmente deliciosos. Quem experimentou os famosos lanches preparados por Vladas em seu restaurante, garante que nunca mais comeu outra refeição tão saborosa. O se-gredo era utilizar sempre ingredientes de primeira qualidade. Para amaciar a carne, o lituano usava uma garrafa de Coca-cola com a qual batia sem dó, nem piedade. Segundo nos contou alguns de seus frequentadores, o tempero levava muito alho e muita cebola. A maionese era preparada na hora.
No início, como o restaurante não dispunha de banheiro, os frequentadores do recinto tinham duas alternativas: ou corriam para casa, ou recorriam a um murinho estrategicamente disposto ao lado do estabelecimento. A segunda opção, ao que parece, era mais apreciada pelos boêmios. Os fregueses do Bife de Ouro eram sempre os mesmos. Uma turma cativa que passava os seus momentos de lazer jogando conversa fora ou tomando decisões importantes para o futuro da cidade.
Dentre os personagens mais conhecidos da casa estavam: “Mário do Putieu”, “Antônio do Pinho”, “Zé Cunha”, “Chico do Bilac”, “Amílcar Faria”, “Hilton Matragrano” e “Carlos Alfano”. Já o promotor da cidade, conhecido como “Sr. Porto”, raramente era visto no local. Ele passava o dia todo no restaurante, mas ficava sempre escondido atrás da balança.
O caso do político
Conta-se que, certa vez, a esposa de um famoso político da cidade procurou o senhor Vladas para pedir que não vendesse mais bebida ao marido. Há algum tempo, ela andava preocupada com os excessos do importante homem público. Como o lituano não teve coragem de proibir o freguês e amigo de tomar seus rabos-de-galo, não teve outra alternativa senão anotar “bife”, sempre que ele pedia alguma dose. No final do mês, a esposa foi pessoalmente ao restaurante pagar a conta do marido e conferir de perto se sua solicitação estava sendo acatada. “Prontinho, madame. Aqui está a conta de seu marido: 235 bifes.”
O ganhador da loteria
Dentre as diversas histórias que fi-zeram parte daquele lendário estabelecimento, uma delas foi assunto entre os seus frequentadores durante décadas. Certo dia, “Carlos Alfano” começou a imaginar o que faria, caso ganhasse sozinho na loteria. Ele dizia: “Se eu acertar sozinho na loteria, vou comprar um Cadilac, pegar a “Maria Cascavér” na casa dela e ficar o dia todo, passeando em volta da praça! Eu vou deixar todo mundo dar uma voltinha no meu carrão, menos o Mané!” Mané Meira era o nome de um barbeiro gaguinho que passava o dia inteiro filando cigarros dos fregueses. Eles adoravam fazer brincadeiras com ele, porque sabiam que seu estopim era curtíssimo. Ao ouvir aquela desfeita de Carlos Alfano, o gaguinho de calça justa e cabelos repartidos no meio, logo começou uma gritaria dentro do recinto: “Má Má Má, porque só eu que não vou andar no seu carro? Eu vou andar, sim senhor!” Ao perceber que o barbeiro criou toda aquela situação em torno de uma mera hipótese, os outros amigos não hesitaram em colocar ainda mais lenha na fogueira e passaram horas enfernizando o coitado do gaguinho até que ele perdesse a paciência e voltasse bravo para a sua casa.
O bife e o patrimônio
Quem fez parte da vida daquele importante estabelecimento de Santa Rita do Sapucaí, certamente já presenciou uma cena muito comum. Enquanto beliscava alguns pedaços de alho ou cebola que passava na chapa, Vladas tomava sua cervejinha e declarava satisfeito: “Com esse bife eu construí um patrimônio!” De fato, aquele restaurante lhe trouxera muitos momentos felizes que duraram até 1990, quando faleceu aos 69 anos de idade. No seu lugar, assumia o seu filho, Vladas Urbanavicius Júnior, com apenas 14 anos de idade, junto com sua mãe e seus irmãos mais novos. A família Urbanavicius continuou tocando o estabelecimento até chegar o momento em que os três filhos tiveram que se mudar da cidade para estudar e ganhar a vida. No entanto, as lembranças do saudoso “Bife de Ouro” permanecem vivas nos corações dos santa-ritenses que fizeram daquele local, um recanto de grandes alegrias.
Meu nome é Marco Antonio Manes,sou de Alem Paraiba
ResponderExcluirMg.Morei em Santa Rita de 1973(julho)a1976(julho).
Periodo em que estudei na ETE.Guardo boas lembran
ças Daí,sempre que a grana dava,e batia aquela von
tade de comer um bom bife,iamos almoçar no bife de
ouro,que pena saber que já fechou e que o sr.Vladas ja faleceu.