Show com a banda Patronagens lotou o Teatro Inatel, e marcou o Lançamento da programação do Vale Music, festival de Jazz e Blues de Santa Rita do Sapucaí, que ocorre em 15 de agosto.
Com 2 horas de show, a banda santa-ritense Patronagens Band conseguiu o que parecia improvável: lotou o Teatro Inatel, com capacidade para cerca de 800 pessoas, e emocionou a plateia com canções desconhecidas para a maioria. ‘Uma Viagem pelo Mundo do Blues’ foi o nome do espetáculo, que aconteceu no último sábado, 30 de maio, em Santa Rita do Sapucaí.
A banda começou com
a música Long John, emblemática na
fase que antecedeu o blues. Eram os chamados worksongs, canções em coro, sem instrumental, que ditavam o ritmo
dos escravos nas plantações de algodão e arroz no sul dos Estados Unidos. “Este
tipo de música foi a base da música negra norte-americana. Deu origem aos
Blues, ao Jazz e ao Soul”, conta Juliano Ganso, baixista do Patronagens.
Em seguida, veio a
fase do Delta Blues, nome dado em
referência ao delta do Rio Mississippi, onde o estilo foi se desenvolvendo.
Tocaram St. Louis Blues, considerado
o primeiro Blues da história, de W. C. Handy. Em seguida, Shake That Thing, de Mississippi John Hurt, e duas composições de
Charlie Patton, Shake It and Break It
e Spoonful Blues – todas elas datadas
das duas primeiras décadas do século XX. “Os temas do início do Blues traziam
em suas letras o lamento dos trabalhadores em relação ao trabalho escravo e aos
maus tratos. E nas fases seguintes, começaram a abordar também a dança, que
animava os bailes e era um dos únicos momentos de alegria dos escravos. É por
isto que muitas composições traziam a palavra ‘shake’ (chacoalhar, dançar, em
inglês) em seus títulos”, destaca Ganso.
Um dos momentos
mais aplaudidos foi quando falaram sobre aquele que é considerado o Rei do
Blues, Robert Johnson. Foi ele que trouxe ao estilo os famosos riffs, solos e levadas, que hoje são
característicos. Diz a lenda, que Johnson teria ido a uma encruzilhada e feito
um pacto com o diabo, que mudou a afinação do seu instrumento e o ensinou a
tocar desta forma. “Ele gravou apenas 29 canções, entre 1936 e 1937, e morreu
em seguida, aos 27 anos, vitima de envenenamento”, lembra Carlos Henrique
Vilela, um dos organizadores. Desta fase, a banda tocou When You Got a Good Friend, com a ajuda do tecladista Ticiano Abreu,
Crossroads, com a participação do
guitarrista Luiz Fernando Bertoloni, e Sweet
Home Chicago, com o gaitista Mark Dee, que acompanhou a banda em grande
parte do show.
Em seguida, veio a
fase do Blues de Chicago. Foi lá, na década de 1940, que o estilo se consolidou
como parte da cultura popular norte-americana. Esta etapa marca a chegada da
guitarra elétrica, e o surgimento de artistas como Muddy Waters, John Lee
Hooker, Buddy Guy e B.B. King – considerado o maior blueseiro de todos os
tempos, e que faleceu nas últimas semanas. Desta época, as canções tocadas
foram Hoochie Coochie Man e You Shook Me, de Waters, Boom Boom, de Hooker, além de 3
gravações de B.B. King: The Thrill Is
Gone, Guess Who e Riding With The King - esta última feita
em parceira com Eric Clapton.
O Blues Britânico
foi o tópico seguinte, retratado com duas composições da fase do Delta, mas que
se tornaram popular em releituras de Eric Clapton, maior expoente do estilo no
Reino Unido. Foram Before You Accuse Me,
com a participação do músico Lucas Julidori, e Blues Before Sunrise, novamente com Ticiano Abreu nos teclados. Em
seguida, a banda tocou Revolution,
dos Beatles, para mostrar a influência do Blues no Rock and Roll dos anos 60. E
aproveitando o gancho, entraram em um assunto controverso para os mais
puristas: o Blues Rock. Para Tiago Abranches, guitarrista e vocalista do
Patronagens, “seja Blues Rock, ou seja Rock com pitadas de Blues, é essencial
ressaltar que os artistas dessa linha vem ajudando muito na popularização do
Blues mundo afora”. Para demonstrar, tocaram Hide Away, de Freddie King, Pride
and Joy e Mary Had a Little Lamb
de Stevie Ray Vaughan e, com a participação do músico Alexandre Zamat,
apresentaram uma versão de Soulshine,
da banda Allman Brothers.
Para finalizar,
fizeram algumas homenagens. A influência do falecido guitarrista Márcio Vilela,
grande disseminador do estilo em Santa Rita do Sapucaí foi lembrada pela banda
– diante de muitos aplausos. Em seguida, tocaram Mississippi, composição de Celso Blues Boy, gravada em parceria com
B.B. King – um dos hinos do Blues brasileiro. O baixista Ricardo Amaral
acompanhou a banda neste momento. Logo depois, com uma imagem de King apontando
para o céu, ao fundo, homenagearam o maior blueseiro de todos os tempos com a
canção que é, provavelmente, o maior clássico da música
negra norte-americana: When The Saints Go
Marching In. “King costumava fechar seus shows com ela – que, certamente
por isto, foi tocada no seu funeral”, pontuou Ganso. Para o baterista Tiago
Silvério, maior do que a emoção de levar ao público uma história que merece ser
conhecida por todos, foi ser aplaudido de pé pela plateia. “Um momento
inesquecível”, destaca.
O evento foi
realizado pela equipe organizadora do Vale Music Festival, em parceria com as
comemorações dos 50 anos do Inatel, e suporte da Goose Productions e do Inatel
Cultural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário