terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Jazz Brasil - Glória Santarritense.


De seda, de organdi,
De linho ou casimira
No salão encerado,
Na escada de espelho,
Se reúne
A sociedade dos donos da terra.
Em tempo e hora contados.
Era meu primeiro baile nesta cidade e eu subia a rua da ponte cheio de espectativa. Noite fria de Maio e já havia promessa de nevoeiro apesar de ser a-penas 10 da noite.

Vestia o único terno que possuía, terno branco de linho inglês, gravata borboleta azul marinho e lenço da mesma cor no bolso do paletó, sapatos de verniz. Estava muito bem vestido.  Por baixo usava dois pijamas para suportar  o frio.

Subi com alegria as escadas do Clube Santarritense e me deslumbrei com o salão de baile com suas luzes, suas moças bonitas, o colorido e o murmurinho de várias vozes. Muitos jovens estavam vestidos como eu e isso me colocou bem à vontade, embora a maioria vestia terno azul marinho.

A orquestra deu seus primeiros acordes  e eu fiquei hipnotizado, não consegui sair para a dança, a música era muito bonita mas a orquestra era uma maravilha e eu me quedei a ouvi-la admirado. Sax, trambone, piston, clarineta, se harmonizavam deliciosamente. Era o JAZZ BRASIL comandado pelo maestro Alan Kardec do Nascimento, maestro, compositor e arranjador, e seus músicos, Romeu Paduan , os irmãos Geraldo  e Darci Soares , Zequinha Major, Zito Telles, Dalto Telles, J de Abreu, Carmelo de Abreu. O cantor era Benedito Mo-reira da Silva.

Uma das grandes composições do maestro Alan é a musica Lydia que ele fez para sua esposa. Por muito tempo esse Jazz abrilhantou os bailes da região e muitas e muitas vezes eu dancei ao som de suas músicas, sem nunca perder o fascínio da primeira noite.  Foi o tempo de glória da música em Santa Rita, época em que o Jazz Brasil recebeu por duas vezes o cantor Gregório de Barrios, que fazia tremeluzir os olhos das donzelas da época.

Em Três Corações ocorreu um fato interessante com o Jazz: Zezinho Caxambu executava em sua clarineta a valsa Chorando Baixinho. Ninguém dançou, o baile parou e ficou a ouvir extasiado a beleza da execução. Romeu Paduan, que também fez parte do Jazz Brasil, conta que todos os anos eles iam abrilhantar a festa de Silvianópolis. Zequinha Major gostava muito de um frango assado, mas um  certo ano estava demorando muito para vir o frango e Zequinha reclamou para o Romeu de que eles não traziam nenhuma ave. Já no final da refeição um garçom aparece com uma leitoa na bandeja e Zequinha todo eufórico fala pra o Romeu: “não tem aves mas tem fuça-fuça”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário