Os músicos sentados são, da esquerda para a direita: Quincas com seu filho Carmelo (criança), o Sr. Longuinho - Presidente de Honra, Dona Corina e seu esposo Vindilino e José Marques. |
Em 1893, chegou a Santa Rita um circo de cavalinhos, cujo integrante era o senhor Barbosa. Um músico de grande talento e exímio pistonista que, logo que aqui chegou, fez a amizade com o senhor Joaquim Carneiro de Abreu - conhecido como Quincas Neto. Quincas, na época, era dentista. Apaixonado por música, frequentava o circo para ver o senhor Barbosa executar o seu piston. Não demorou muito, os dois se tornaram grandes amigos. Foi através dessa amizade que o senhor Quincas, sabendo que o circo ficaria 8 meses na cidade, propôs ao senhor Barbosa que abrisse uma escola de música por aqui. Quincas foi seu primeiro aluno. Quando terminou a temporada circense, Barbosa deixou que o circo partisse sem ele e fixou residência na cidade. Alguns anos depois, formava a primeira banda da cidade - “A Banda do Barbosa”, como era chamada.
Em 1909, foi recebido na Estação Afonso Pena o primeiro santarritense bacharelado em Direito - o Doutor Leopoldo de Luna - que formou-se em Belo Horizonte e foi recebido na estação ferroviária pela população, entre fogos de artifício e alegres dobrados da Banda musical dirigida pela primeiro Maestro de Santa Rita, o Senhor Barbosa.
Os reconhecidos: Senhor Barbosa, Lúcio, Pedro Eduardo, José Marques, Augusto Telles e Esquisito |
Em 1892, era prefeito da cidade o fazendeiro Joaquim Carneiro de Paiva (Cel. Joaquim Neto), pai de Quincas Neto. O Coronel era líder de um partido político formado pela elite de Santa Rita, cujos afiliados eram chamados de “Gafanhotos” e apoiavam a primeira banda dirigida pelo Maestro Barbosa. Outro partido se formou na cidade e seus membros foram apelidados de “Baratas”. Quando surgiu uma nova banda dirigida pelo Maestro Vindilino, chamada de “Lira Nova Aurora”, o partido das “Baratas”, dava a ela o seu apoio. A Banda que era digirida pelo Maestro Vindilino, após a sua morte, passou a ser dirigida pelo Maestro Augusto Telles.
Imagem dos integrantes da Lira Santarritense |
Nesta mesma época, formou-se uma nova banda com o nome de “Lira Tiradentes”, que era regida pelo Maestro Quincas Neto. Quincas viajou para São Paulo, para comprar novos instrumentos musicais. Trouxe com ele oito instrumentos fabricados em Paris. Era o instrumental básico para montar uma pequena banda: baixo, pratos, bumbo, requinta, trombone, piston, clarinete e bombardino. O ensaios eram feitos na sua própria residência. A “Lira Santa-ritense” prestava muitos serviços à comunidade, se apresentando em festas cívicas, partidas de futebol, temporadas circenses, eventos maçônicos e políticos. Por esse motivo, a lira ficou conhecida como “A Banda profana”. Durante esse período, Quincas, que era amante da arte musical, ensinava os jovens em suas horas de folga. Em 1942, a Lira Tiradentes tinha os seguintes membros: Mário Herculano, José Grilo, Benedito Grilo, João Marcelino, Hernani Carneiro, Romeu Paduan, Sebastião Bigodinho, Benedito Cândido da Silva (Nem), Benedito Flemings e outros.
Em 1946, a “Lira Tiradentes” foi convidada para um encontro de bandas em Belo Horizonte. Quincas convidou todos os músicos da cidade por achar que, por sua idade, não estava em condições de reger a banda. Por este motivo, passou a regência ao seu filho, Carmelo Carneiro de Abreu. Naquela época, eu contava com 14 anos e também fui convidado (intimado) a fazer parte e tocava “centro de harmonia”.
Duas vezes por semana, durante dois meses, a banda ensaiou firmemente, contando com a presença das famílias: Abreu, Soares, Telles, Faria e Paduan, além da participação do Maestro e fundador da Orquestra Jazz Brasil, o senhor Alan Kardek do Nascimento.
Carmelo preparou para esse evento um repertório selecionado com as seguintes músicas: Poeta e Camponês, Flores Agrestes, O guarani, dentre outras músicas. Esta apresentação na capital mineira, por falta de apoio da prefeitura de Santa Rita, foi cancelada e muitos músicos, decepcionados, acabaram abandonando a banda. Chegava ao fim a “Lira Tiradentes”.
Passaram-se seis anos. Em novembro de 1948, a pedido da Loja Maçônica Caridade Sul-Mineira, o Maestro Carmelo Carneiro reuniu pela última vez a “Lira Tiradentes” para um churrasco na fazenda do Senhor João Capistrano. A foto a seguir ilustra o encontro:
A banda “Nova Aurora” fazia seus ensaios na residência do Maes-tro Augusto Telles, localizada na Rua da Pedra. Augusto Telles foi um músico e compositor que deixou várias obras musicais, muitas delas vendidas por todo o Sul de Minas. Seus familiares, Zito Telles, Zizinho Marques, Cincinato e outros, também eram membros da lira. Abílio, Alípio e Zequinha Major também prestavam serviços, tocando na Igreja Católica ou apoiando o partido dos “Baratas”. Essa banda, entre 1945 e 1950, passou a se chamar “Lira São José” e passou a ser mantida pela Igreja. Mestre Heliodoro Soares (Dorico) era quem regia a banda, juntamente com seus filhos Geraldo Soares, Ladico, Heliodorinho, Darci, dentre outros músicos que antes pertenciam à “Lira Nova Aurora”. Com a saída da família Soares, formou-se uma nova diretoria tendo como presidente o Sr. Antônio Raposo e como Maestro o Sr. Zequinha do Major. A lira era formada também por seus irmãos Henrique Faria, Arthur Faria, João Faria e seu sobrinho Romeu Paduan, além de outros elementos como: Sarjobe, José Alfredo de Paiva (Paquinha), João Ananias, José Telles, Lupércio e outros. Os ensaios eram feitos na Casa São Vicente de Paula.
Algum tempo depois, o Maestro, em idade bem avançada, abandonou a música. Quem assumiu a regência foi seu filho Geraldo, juntamente com Antônio Lemos Carneiro, Aloísio Ribeiro, Romeu Paduan, dentre outros. Nessa época o nome da banda mudou para “Lira Santarritense”. Os ensaios eram feitos na casa do Sr. Aloísio. Esta banda participou de vários eventos na cidade e durou mais ou menos dois anos. Nessa época, quando morria um músico, era comum os outros se reunirem para prestar uma última homenagem. As bandas acompanhavam o cortejo, executando a marcha fúnebre até os portões do cemitério. Quando a morte era de um maestro, os músicos não tocavam. Apenas carregavam os instrumentos. Um dia, eu perguntei para um dos músicos mais velhos porque eles não estavam tocando. O músico deu uma olhada pra mim e respondeu bai-xinho: “Você não vê que o maestro morreu?”
Em 1968, o Capitão Paulo era diretor da Escola Estadual Sinhá Moreira. Doutor Arlete Telles era o prefeito. Com o apoio do diretor da escola, eu e o dedicado músico Antônio Anézio Felipe (Tonico) formamos uma nova banda, incluindo na fanfarra da escola com o nome de “Lira Tiradentes”, em homenagem ao meu avô Quincas. Esta banda contava com elementos da Escola e de outros músicos como: Antônio Carneiro, Geraldo Soares, Salim, Dilermando, Luiz Carlos F. Pinto que era meu contra-mestre e outros. Fizemos várias apresentações nas cidades vizinhas. Com a saída de vários alunos, a banda encerrou suas apresentações, continuando somente a fanfarra.
Em 1978, por iniciativa dos senhores Antônio Carneiro, José Seda, José Carneiro de Morais, Romeu Paduan e outros, formaram uma nova banda com o nome de “Corporação Santarritense”, sob a regência do maestro Carmelo Carneiro. Essa banda contava com quase todos os músicos da cidade. Essa banda teve curta duração. Carmelo, que contava com 78 anos, resolveu deixar a regência da banda. Como ninguém assumiu, encerrou-se as atividades da corporação.
Passaram-se alguns anos e a Lira São José continuava sob a regência do Maestro Zequinha do Major. Entre 1966 e 1970, por motivo de mudança de Zequinha para Poços, o Sr. Geraldo Floriano passou a reger a banda.
Em sete de setembro de 1972, Antônio Lemos Carneiro assumiu a presidência e o Sr. Adail Ribeiro passou a ser o regente da banda. Em 1987, a Lira Santa Rita voltou a se chamar “Lira Santarritense”. Já em 1999, voltou novamente a se chamar “Lira Santa Rita” quando o presidente passou a ser o Sr. Mauro Vitor da Silva.
No dia 4 de outubro de 2001, através de uma reunião, foi eleito presidente da Lira o Senhor Décio Soares Saretti e, alguns dias depois, Benedito César Simão assumiu a regência. Em 2004, a Lira Santa Rita contava com elementos novos, sendo que alguns passaram ou ainda estudam na Escola do Maestro Joaquim Carneiro de Abreu.
(Esta matéria teve a colaboração da filha de João de Abreu, Carmem Lúcia Abreu de Toledo que também ajudou na elaboração desse projeto.)
Esta reportagem é um oferecimento de:
JOAQUIM CARNEIRO DE PAIVA NÃO ERA PAI JOAQUIM CARNEIRO DE ABREU(QUINCAS0).
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