segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A história “Chique 10” do estimado comerciante Rubens Schmidt

Da medieval família Schmidt cujo significado remete aos homens que produziam artigos em metal, Rubens herdou apenas o sobrenome. Como gosta de dizer, sua origem vem da cidade vizinha de Borda da Mata e o tino comercial parece estar entranhado em sua essência. 

Nascido às 6 horas de uma segunda-feira, 19 de março de 1928, Schmidt mudou-se para Pouso Alegre, ainda pequeno, quando seu pai montou uma loja perto da Catedral.
De origem muito religiosa, o garotinho de 5 anos era coroinha e estava sempre presente nas missas que aconteciam várias vezes ao dia. Em uma das cerimônias, ouviu o padre dizer que daria uma medalhinha para a pessoa que chegasse mais cedo para a missa das 6 da manhã e decidiu que o prêmio seria dele. Ao anoitecer, sentou-se à porta da Catedral e lá ficou até que alguém passou de madrugada pelo local e reconheceu o filho do comerciante. Muito contrariado, Rubens foi levado para casa e acabou não conseguindo acordar para a esperada missa. Ao tomar conhecimento do acontecido, o padre ficou comovido com a história e deu a ele a recompensa.

Aos 12 anos, Rubens veio com a família para Santa Rita, onde seu pai abriu uma selaria, na rua da Ponte, ao lado do Cine Vitória. Sua primeira residência, localizada à rua Cel. Antônio Moreira da Costa, já não existe mais. Foi destruída para dar origem à Rua Gabriel Capistrano. De seu terreiro era possível ver o campo do 13 de maio, onde jogava bola com os amigos Décio, Alberto e outras crianças da vizinhança.
Apesar de ser muito jovem, seu sonho era arrumar um emprego, o que se concretizou quando um fato curioso aconteceu em sua vida. Certo dia, quando o senhor Antônio Nunes entrou na selaria para fazer compras, o garoto lembrou que ele era proprietário de uma loja localizada na esquina do antigo Mercado Municipal e pensou: “Bem que ele podia me contratar...” Por coincidência, o comerciante fez mesmo um convite para que ele se tornasse o seu ajudante. 

Em pouco tempo, Schmidt conquistou a confiança do vendedor e, mesmo com sua pouca idade, era responsável por abrir a loja pela manhã e realizar os mais variados serviços, enquanto o proprietário não vinha.

Em 1941, um ano depois de ser contratado, estourou a II Guerra Mundial e Antônio Nunes decidiu fechar o estabelecimento, antes mesmo de acontecer qualquer imprevisto. Muito bom e honesto, o comerciante ainda pagou o salário ao garoto por 6 meses seguidos, mesmo com o local fechado, até que Rubens fosse contratado pelo senhor Manoel Sampaio para trabalhar em sua loja.

No dia 3 de outubro de 1942, aos treze anos, Rubens foi contratado para trabalhar na Loja Sampaio, onde permaneceu por 34 anos. Ali, era responsável pela venda de tecidos, chapéus, armarinhos e os mais variados utensílios domésticos. Assim como aconteceu no emprego anterior, o rapaz conquistou a confiança de seu patrão e tornou-se o braço direito do senhor Sampaio.
Quando completou 30 anos, Rubens contabilizava uma grande quantidade de amigos, mas era o único que ainda permanecia solteiro. As coisas mudaram quando foi a um baile em Pedralva e lá conheceu uma santa-ritense que também estava na cidade vizinha a passeio. Daquele dia em diante, seu destino estaria entrelaçado ao de Terezinha e o casamento aconteceria um ano depois.

Em 1963, Rubens construiu a casa em que mora até hoje e fez questão de registrar em um cartãozinho o quanto estava satisfeito pela realização de mais um sonho: “Hoje comecei a construir minha casa, graças a Deus.” Naquele local, o comerciante teria 7 filhos e colecionaria uma infinidade  de histórias bem sucedidas.

Em 1976, Shimidt decidiu que era o momento de abrir o seu próprio estabelecimento e buscou nos fornecedores o apoio que precisava para que seu negócio começasse à altura das lojas concorrentes. Todos foram unânimes em fornecer a mercadoria para pagamento a prazo, já que o conheciam de longa data. Naquele ano, seria inaugurada a “Loja Schmidt” com uma grande variedade de produtos. Com seu jeito simples e cordial, sempre que um freguês chegava e ficava interessado em algum produto, Rubens esboçava um sorriso e dizia: “Pode levar. Quando quiser, você paga.”

Com tamanha simpatia e trato para atender a todos, sua loja recebia um bom número de amigos que chegavam para bater papo ou dizer um “bom dia”. Frequentador assíduo do estabelecimento, Monsenhor José ainda passa pela loja uma vez por semana, quando abençoa o ambiente e brinca com os vendedores. Outra personalidade que não saía da loja era um homem mudo, conhecido como Guiga. Diariamente, ele chegava bem cedinho, se posicionava em algum canto e começava a se comportar como um vigia.
Certo dia, Sampaio passou pelo estabelecimento do antigo colaborador, parou para ver toda aquela movimentação de fregueses e chamou Shimidt para dizer uma frase que até hoje ele não esquece: “Por que eu não o segurei em minha loja?” Anos mais tarde, Rubens realmente retornou à Loja Sampaio, mas para comprar as suas mercadorias e conquistar o ponto em que permanece até os dias de hoje.

Após 73 anos de atuação no comércio santa-ritense, Rubens diz que está parando de trabalhar aos poucos. “Minha loja é chique 10, mas minha energia já não é a mesma.” Apoiado por Marcelo, vendedor que trabalha com ele desde os 13 anos de idade e que é tido como um filho para o comerciante, Rubens ainda administra o estabelecimento como fazia na mocidade e está sempre atento ao que acontece no local. A excelência dos trabalhos deve-se à dedicação de seus funcionários, como é o caso de Tarcísio – colega de Schmidt nos tempos da Loja Sampaio – e que passou a ajudá-lo após a aposentadoria. 

A tradição familiar continua. Rubens recebe todo o apoio que precisa de sua filha Salete, de sua neta Luciana e ainda pode se dar ao luxo de ir e voltar a pé ao serviço, como fazia desde o início, ainda criança. Schmidt  conta que anda muito emotivo e que tem valorizado ainda mais a presença das pessoas que o rodeiam. Aos 86 anos, o comerciante se realiza através do trabalho e é feliz por levar uma vida em que a própria alegria baseia-se na satisfação dos amigos que atende. 

(Carlos Romero Carneiro)

2 comentários:

  1. o Sr. Shimidt fez parte da minha história, da minha infancia e mocidade. Grande amigo de minha mãe que sempre o considerou um Homem de Bem. Parabens a toda familia Shimidt e abraço carinhoso ao Sr. Shimidt.

    ResponderExcluir
  2. Que homem de fibra.!!!!!
    Parabéns pelo carisma,energia e um dom que poucos possuem.
    Adorei ler essa história cheia de amor e alegria de vive e trabalhar com dignidade.
    Abraços em toda a família.
    YNA

    ResponderExcluir