sábado, 22 de junho de 2013

SANTA-RITENSES VÃO ÀS RUAS PARA REIVINDICAR SEUS DIREITOS E DÃO LIÇÃO DE CIDADANIA

Na segunda-feira, 17 de junho, uma internauta usou uma comunidade de Santa Rita no Facebook para fazer uma reclamação. Ela acusava a COPASA de ter feito um aumento absurdo em sua conta, ao cobrar uma taxa para tratamento de esgoto. Ao mesmo tempo, em outro tópico sobre as manifestações que ocorriam pelo país, algumas pessoas discutiam a necessidade da cidade também aderir ao movimento e uma reunião foi agendada, no coreto da praça, para discutir sobre o assunto. Às 18 horas, cerca de 120 pessoas se reuniram, sentadas no gramado da praça, para debater sobre a necessidade mais urgente naquele momento. Depois de muito conversar, o grupo decidiu que deveria ser questionada a taxa cobrada para tratamento de esgoto, considerada abusiva pelos participantes. Tinha início uma manifestação que mobilizaria a cidade naquela semana. 
Ao chegar em casa, dois grupos foram criados no facebook para promover a manifestação. Com o tema "Vem pra rua Santa Rita. Manifestação pacífica contra as mazelas e a corrupção na cidade." Cartazes foram confeccionados e disponibilizados na internet para que os participantes pudessem imprimir e divulgar livremente. 

Pouco mais de 24 horas depois da criação da comunidade, cerca de 500 pessoas haviam aderido ao protesto e a manifestação ganhou força. Em todos os lugares, o assunto da vez era se a população iria aderir ao movimento e se algum ato de vandalismo seria visto entre os participantes.
Na data marcada, os manifestantes começaram a tomar conta da pracinha da Câmara Municipal que havia passado por uma reforma emergencial e ganhado iluminação naquele dia. Meia hora antes, diversas viaturas foram espalhadas em pontos estratégicos e mantiveram uma certa distância para dar liberdade aos participantes. Crianças, muitas crianças, traziam cartolinas pintadas com canetinha, rostos pintados e camisetas amarelas. A maioria, entretanto, era de estudantes com faixas e cartazes.

A temática das manifestações se dividiu entre reivindicações locais e nacionais. Enquanto alguns jovens pediram a reprovação da PEC 37, outros queriam "o fim da indicação de cargos por vereadores", "a redução da taxa de esgoto" e "melhorias na qualidade do transporte público".

No horário marcado, cerca de 1500 pessoas formaram um bloco compacto e rumaram para o escritório da COPASA, bem próximo ao local onde os protestos começaram. Neste momento, todos perceberam que a cidadania daria o tom daquele evento. As pessoas sequer se posicionaram na calçada. Os manifestações mantiveram uma distância considerável do prédio da empresa de saneamento, gritaram frases que pediam a redução da taxa e vaiaram o valor que consideravam abusivo.
Em seguida, os manifestantes se dirigiram à praça, onde fariam uma parada estratégica. No trajeto, pediram para as pessoas que estavam nas janelas para que aderissem à manifestação com os gritos de "Vem pra rua!". Como em Santa Rita todo mundo conhece todo mundo, foi engraçado ver os manifestantes chamarem as pessoas pelo nome e pedir que participassem.

Ao ocupar a praça, a multidão de manifestantes era de cerca de 2000 pessoas. No coreto, alguns santa-ritenses questionaram vários pontos críticos que assolam o município e o país. Em seguida, a multidão desceu a rua Francisco Moreira da Costa fazendo muito barulho. Os passos eram rápidos. Muitas personalidades locais aderiram ao protesto e emprestaram uma credibilidade ainda maior às reivindicações.
Como o horário do protesto coincidiu com a passagem do caminhão de recolhimento de lixo, alguns sacos estavam amontoados nas esquinas, mas nenhum manifestante cogitou tocar neles. Naquele dia, deu orgulho de fazer parte daquela comunidade tão consciente e que mostrava que as mudanças que o país precisa devem partir da educação. Nenhum jovem estava com lata de cerveja na mão. Nenhuma bandeira partidária. Nenhum gesto hostil. Estava tudo perfeito.

Ao se aproximar da prefeitura, os manifestantes começaram a andar de costas para indicar que eram contra uma série de hábitos que reprovam na administração pública municipal, uma vez que - nos últimos 20 anos - apenas dois prefeitos terminaram seus mandatos. Jovens bradavam contra o nepotismo, contra o tráfico de influência, contra a doação de casas populares que só privilegiam uma parte da população, contra a baixa qualidade da saúde pública, contra o baixo efetivo policial e a alta criminalidade, contra as negociatas partidárias e pelo apoio a outras modalidades esportivas e à cultura do município.
Diante do Paço Municipal, os manifestantes se sentaram na rua e mantiveram uma distância considerável do prédio público. Nesse momento um manifestante pegou o megafone para pedir uma investigação profunda da denúncia de tentativa de extorsão dos donos de um parque durante a Festa de Santa Rita, registrada através de uma suposta gravação.

Em seguida, os protestos ganharam a Avenida Frederico de Paula Cunha. Apesar dos manifestantes gritarem que iriam à Nova Cidade, estava claro que o objetivo do grupo era fazer com que o prefeito tomasse conhecimento dos protestos. Pouco antes de chegar à Praça Benedito Marques, residência do representante que acaba de iniciar seu quarto mandato, um manifestante tomou a palavra para pedir respeito ao prefeito e teve suas frases repetidas por quem estava perto para que a mensagem fosse ouvida por todo o grupo.
Ao chegar à casa do prefeito, os cartazes foram colocados no chão para que fossem lidos da sacada e os manifestantes pediram pela presença do homem público. Corajosamente, Jefferson Gonçalves Mendes acendeu as luzes da garagem e desceu as escadas na companhia de sua esposa e de seu filho, enquanto os participantes cantavam o hino nacional. O prefeito recebeu um megafone e afirmou que aquele protesto era legítimo e que também reprovava as mazelas do Brasil. Em seguida, afirmou que iria ao fórum e que entraria com um processo contra a COPASA, na segunda-feira (dois dias depois). Acompanhado pela EPTV e por cinegrafistas locais, Jeffinho afirmou que era um político idôneo e que se fosse constatado qualquer ato de corrupção em sua carreira, faria questão de ir para a cadeia. Os manifestantes o aplaudiram e ele entrou na multidão. Nesse momento, a maionese esteve bem perto de azedar.

Apesar do clima ser bem pacífico, alguns manifestantes o agrediram verbalmente e o prefeito discutiu com alguns deles. Outros santa-ritenses aproveitaram a oportunidade para pedir pessoalmente ao prefeito que tomasse algumas iniciativas que consideravam importantes. Algumas pessoas abraçaram o prefeito e ele assumiu a dianteira da passeata, enquanto cumprimentava as pessoas que estavam em suas casas. Nesse momento, muitos participantes do manifesto não aprovaram a atitude do prefeito e ele foi vaiado. O prefeito dizia: "Eu estava jantando quando eles me tiraram de casa e pediram para que eu viesse aqui. Agora estão reclamando?" A afiliada da Rede Globo tentou entrevistá-lo. A multidão vaiou e o acusou de oportunismo. A repórter desistiu e um garoto, bem atrás do prefeito, abaixou um cartaz com os dizeres "Mais recheio no Pastel". Os manifestantes começaram a gritar que o prefeito deveria ir atrás e correram à frente da passeata.
Novamente em frente à prefeitura, os manifestantes sentaram-se e um líder pediu para que as pessoas se politizassem e tomassem consciência dos diversos tipos de manipulação a que os brasileiros têm sido submetidos. Um jovem da Nova Cidade pediu para dizer que ele representava o bairro. Uma moça pediu para que o prefeito cancelasse a proibição de seu pula-pula na praça e a multidão gritou "queremos pula-pula" enquanto o líder esboçava um sorriso. A EPTV assediou alguns jovens depois de entrevistar uma garotinha de 5 anos que mostrava que estava aprendendo a ser cidadã ao dizer que queria "menos dever de casa". Um entrevistado criticou o abismo social entre a cidade e a Nova Cidade, separadas "por um fio de calçamento".

No final, a multidão se dirigiu novamente à praça. Ao passar em frente a um velório, os manifestantes fizeram total silêncio. A multidão começou a se dissipar até chegar à Matriz, onde todos se despediram e retornaram às suas casas com a alma lavada. Valeu a pena.

(Carlos Romero Carneiro)

4 comentários:

  1. isso ai tem que protestar mesmo !

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  2. A copasa,desde quando chegou em SANTA RITA já vinha cobrando tratamento de esgoto,pois nunca foi tratado,aquela estação de tratamento foram nós aqui de SANTA RITA que pagamos para ser construídas e agora a copasa quer se desfrutar da ESTAÇÃO,ISSO É UM ABSURDO,não podemos deixar que isso aconteça..L.M

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  3. O importante disso tudo é a prova de que somente se manifestando, o povo conseguirá se fazer ouvir.
    Acredito que o primeiro passo para a "cidadanização" do santa-ritense aconteceu ao longo de 2012, na luta pela aprovação do plano diretor, que resultou em prisões por corrupção ativa e passiva e a derrubada da velha e viciada Câmara dos Vereadores.
    O Facebook, mais precisamente o grupo "Povo de Santa Rita do Sapucaí", foi a nossa praça, onde o movimento cidadão Ágora nasceu.

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