quarta-feira, 3 de abril de 2013

Estamparia Santarritense e Rodoviário São Cristóvão (Por Rita Seda)

Ninguém em Santa Rita precisava de relógio para saber as horas... O apito da Estamparia, direcionado a seus funcionários, servia  a todos.

-Menino! A Estamparia já apitou, você está atrasado para a aula! – Não ouviu o apito? Seu almoço está esfriando. - Agora não posso parar, tenho um compromisso e a Estamparia já apitou. - Graças a Deus, mais um dia ganho! O apito da Estamparia está anunciando o fim de mais uma jornada!

Todos queriam um emprego na Estamparia, modelo de empresa idônea. Meu irmão mais velho, o Pedrinho, trabalhava ali. Operava uma gigantesca máquina, com orgulho e eficiência. Gostava de seu trabalho. Ambiente sadio, patrões excelentes e colegas amigos. Mas como todo jovem ele tinha um sonho: comprar um caminhão. Trabalhar com transportes de carga, devorar distâncias, conhecer novas terras, aventurar-se pelas estradas, onde o panorama muda de curva em curva, mesmo sendo as estradas de terra e intransitáveis na temporada de chuvas. Como não tinha cacife para isso e naquele tempo não havia as facilidades de crédito que existem hoje, costumava, regularmente, fazer uma fezinha na loteria. Toda semana ia ao Caruso e voltava com seu bilhete. Conferia, esperançoso, e voltava a sonhar com seu caminhão até na rotina de seu trabalho... Mas, um dia, teve a grande sorte! Foi premiado! Comprou um caminhãozinho, ou melhor, um pequeno caminhão... E passou a transportar as folhas de flandres da Estação Ferroviária para a Estamparia Santarritense. Dizia ele que, no primeiro dia, sem conhecer a capacidade do carro, foi, com aquele entusiasmo que lhe era peculiar, colocando a carga até não caber mais. Quando acionou a partida, quem diz que o carro andou? Ficou ali empacado, igual a uma besta quando não obedece ao dono! Desse fato tirou uma lição que  repetia em nossos momentos difíceis: “É errando que se aprende!” 
Com tenacidade e firmeza de caráter foi progredindo. Comprando novos e maiores caminhões, passou a fazer transporte para São Paulo e fundou o Rodoviário São Cristóvão. Deu emprego para muitas pessoas, entre motoristas, carregadores, pessoal de escritório, contadores, sem jamais deixar a Estamparia. Foi sua cliente até o fim de seus dias. Havia, entre as duas empresas, uma amizade que ultrapassava  o profissionalismo. Pedrinho e seus companheiros de trabalho passaram muitas tribulações nas estradas. Para São Paulo o caminho era Cachoeira de Minas, Conceição dos Ouros, Paraisópolis, São Bento, Buquira, Jacareí, e iam passando por outras cidades até chegar à Capital, depois de três, quatro dias... Nas chuvas, encravados no barro, puxados por carros de boi para desatolar, tirando o barro com a enxada, colocando correntes nas rodas... Muitas e sinceras amizades surgiram da demonstração de solidariedade dos donos das boiadas, bares, restaurantes e pousadas!  Numa da viagens, o caminhão pegou fogo e meu irmão se queimou muito. Trouxeram-no para casa embrulhado em folhas de bananeira e  lençol. Lembro-me com grande dor desse aconteci-mento. Mas venceu, fez  o bem para muita gente, tinha grande número de amigos, a muitos ajudou e teve uma vida de sucesso e grandes alegrias.  De outra vez, trago um pouco mais do dia a dia desse  amado e saudoso aventureiro que teve coragem de transformar em realidade um sonho que mudou a rotina de nossa cidade.
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