Brasil é o país do jeitinho. Aqui, sujeito acha bonito
fazer nas coxas e se dar bem em cima dos outros. Somos o país da gurizada
fandangueira. Uma nação onde as pessoas ultrapassam o sinal vermelho sem se
preocupar com a integridade do pedestre; jogam papel nas vias públicas e
depois se queixam das enchentes; dirigem bêbadas e depois choram as mortes
desnecessárias. Nas eleições, os guris fandangueiros vão às urnas para eleger
seus legítimos representantes. Votam em troca de botijão de gás, cesta básica,
gasolina e até cachorro-quente.
Na tragédia de Santa Maria, aconteceu exatamente o mesmo
que acontece em todos os desastres brasileiros. A banda, deu um jeitinho de
comprar o sinalizador por um preço irrisório, sabia que o teto era de
espuma, mas botou fogo assim mesmo. Ou seja: eles agiram exatamente igual aos
motoqueiros inconsequentes que costuram o trânsito, aos motoristas que fazem
loucuras nas estradas, aos moradores que ocupam áreas de risco ou aos “brasileirinhos”
que fazem “gato” na Energia Elétrica. Tudo é festa! No final, se der merda, é
só arrumar uma desculpa e um bom advogado.
O que falta no Brasil, inclusive no sul, é decência. O
incêndio na Boate Kiss aconteceu por uma sucessão de erros, justamente no
estado considerado mais evoluído da Federação. Não havia bombeiros suficientes para
fiscalizar as instalações da casa noturna, a banda não atinou que os fogos poderiam
provocar um acidente, os seguranças não pensaram na integridade dos jovens, não
havia qualquer restrição contra menores no recinto e não existia saída de
emergência. Em resumo, foi preciso morrer duzentas e tantas pessoas para que o
país da gurizada fandangueira se preocupasse com os perigos de todas aquelas
irregularidades.
Será que as coisas vão mudar daqui pra frente?
Provavelmente, não. O Brasileiro continuará ocupando as beiras dos rios,
destruindo o meio ambiente, elegendo políticos corruptos, furando fila e
tentando se dar bem na primeira oportunidade. Além de mestres do jeitinho,
somos também especialistas em encontrar desculpas para as nossas cagadas. A
todo dia, uma tragédia acontece na Amazônia, outra em São Paulo, mais uma no
Nordeste e nem o Sul está imune.
No Brasil só vai preso quem não tem dinheiro. Aqui, o cara
mata e depois se elege deputado para ganhar imunidade. Desvias verbas da saúde ou
da educação porque sabe que o crime irá prescrever. Na capital federal, leis bizarras são
criadas em dias de carnaval ou de futebol porque sabem que o eleitor quer mais é "tchu e tcha". Aqui é o país do jeitinho. No mundo inteiro a Interpol
procura o Maluf, mas aqui ele é deputado. Somos país da gurizada fandangueira. Até
quando?
(Carlos Romero Carneiro)
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