segunda-feira, 11 de abril de 2011

O encontro de um santarritense com Padre Pio

Ouvimos falar pela primeira vez em Padre Pio em 1959. O primeiro contato que tivemos foi em setembro de 1966. Estávamos morando em Florença. Fui sozinho a San Giovanni Rotondo, sentindo o amargor de uma derrota: meus filhos, Gustavo e João, foram considerados incuráveis e teriam que passar o resto da vida em cadeiras de rodas.
O estigma nas mãos de Padre Pio.
Fui atrás da graça material e é fácil escrever isso hoje, quando temos a certeza de que nossos filhos estão com Padre Pio.

Para o encontro que teríamos com o Padre, depois de todos os protocolos e de alguma espera, estava finalmente com minha senha na mão: era a de número 55. Naquele dia, a chamada começava do número 50 e fui encaminhado à velha igrejinha, com mais 10 companheiros que seriam os “confessáveis” daquela manhã, se ele aguentasse. Dali a pouco, estaria ao lado de Padre Pio, o estigmatizado.

Tive a maior emoção da minha vida. Chorei... Na minha frente, confessava-se o homem portador da senha 54. O próximo seria eu. De pé, enquanto aguardava ansiosamente pela minha vez, via Padre Pio a uns 5 metros, sentado em uma cadeira, com um genuflexório à sua frente, onde os homens se ajoelhavam para a confissão. Eram momentos angustiantes, já que aquele confessor tinha o dom de ler a nossa alma. Chegou a minha vez. Ajoelhei-me.

- Há quanto tempo não se confessa? – perguntou-me Padre Pio.
- Há dois anos. – respondi.
- Sai, filho do demônio!

Fiquei desesperado. Tinha vindo fazer um pedido e não pude falar coisa alguma, nem pude me confessar. Naquele momento, alguém se aproximou e me disse: “O remédio do Padre é forte. Vai, se confessa, e volta outra vez.”
O encontro de Manoel Vitorino com Padre Pio.
Sete meses depois, voltei a San Giovanni com toda a família e com o Padre Rudezindo, com quem tinha me confessado e me preparado para o segundo encontro com o Padre Pio. Desta vez, confessei-me no dia seguinte à minha chegada. A mesma igrejinha, o mesmo genuflexório, mas uma grande alegria me dominava. Aproximei-me. Ajoelhei-me.

- Há quanto tempo não se confessa?
- Há uma semana.
- Que é que você fez?
- Me distraí na oração.
- E então?
- Recomecei a oração.
- E o que mais?
- Nada.
- Está bem.
- Queria ser seu “filho espiritual”.
- Sim, mas seja bom.
Senti-me como uma nuvem branca num céu tremendamente azul.

Em abril, depois de retornarmos a Florença, começou a se fortalecer em nós a ideia de morarmos algum tempo em San Giovanni Rotondo. Para isso, fomos agraciados com uma nova amizade, a de Giuliana Monni. Parecia ter sido enviada pela Providência Divina para nos dar assistência.

Profunda conhecedora de tudo que se relacionasse com Padre Pio, Giuliana passou a fazer parte de nossa família que, nessa época, era constituída por minha esposa, Maria Lúcia, e meus filhos, Gustavo, Maria do Rosário e João. Tivemos mais duas filhas, nascidas posteriormente, a quem demos o nome de Maria Pia, em homenagem a Padre Pio e Giuliana Maria, em homenagem à nossa nova amiga. Por sua indicação, alugamos o andar térreo de uma casa vizinha ao convento dos Capuchinhos. Em setembro de 1967, entramos na terra de nosso santo. Nunca poderíamos imaginar as graças espirituais que estávamos prestes a receber...

A Missa

A partir das duas horas da manhã, diariamente, os devotos de Padre Pio ser reuniam à porta da Igreja e ficavam rezando, enquanto esparavam pela Santa Missa do Padre, que começava às 5 horas da manhã.
Quando as portas da Igreja se abriam, o povo corria, na esperança de ficar o mais próximo possível do Padre querido. Era um vozerio geral mas, de repente, ao soar da sineta, imediatamente o silêncio era completo.

Padre Pio então aparecia na porta da Sacristia, velhinho, amparado por dois confrades. Sua missa era um privilégio: sempre dedicada à Imaculada Conceição.

Naquela época, o Padre Estigmatizado já não fazia homilias, não ministrava mais a Comunhão, não cantava mais. Puxava o lenço e, frequentemente, chorava, mas era o próprio Cristo que se imolava no calvário. Tudo isso diante de nossos olhos, a poucos passos de nós.
Oito anos após sua morte, o corpo permanece incorrupto.
Nosso Padre, por humildade, usava meias luvas, ou mitenes, que lhe escondiam as chagas das mãos. Em determinados momentos da missa, era obrigado a dispensá-las. Um destes momentos era a hora do lavabo.
Certo dia, fui convidado para ajudar na missa de Padre Pio e aceitei. No entanto, na hora de lavar suas mãos, fiquei paralisado. Não conseguia virar a ânfora, a água não escorria e o Padre começou a dizer: “Svelto!” (Rápido!). Eu estava adorando as chagas de Jesus.

Buona Sera, Padre Pio!

Após a missa, o Padre Pio confessava os homens e depois as mulheres, demonstrando seu ilimitado amor pelo próximo, e sua incansável dedicação às almas. Às quatro horas da tarde, do “mezzanino” da igreja, rezava o terço com os presentes, retirando-se, em seguida, para a sua cela. Às seis horas da tarde, Padre Pio aparecia  na janela, abanava seu lenço aos visitantes, que permaneciam do outro lado do muro, aguardando sua aparição. Os fiéis retribuíam o “boa noite”, acenando com seus lenços e recomendando-lhe, baixinho, que orasse aos seus familiares e doentes. Tive então a ideia de gritar: “Padre, guarisce i miei bambini!” (Padre, cura meus meninos!). Certo dia, ao pedir ajuda para levar meus filhos até a clausura, Petruccio, o amigo cego de Padre Pio, ouvindo minha voz, disse: “Esse é aquele senhor que grita!” A partir daquele momento, na hora do “boa noite”, a gritaria era geral.

Cidade Abençoada

Certo dia, com a ajuda de Giuliana Monni, Maria Lúcia fez uns pedidos em intenção dos santarritenses que foram entregues ao frade que lia as cartas para Padre Pio. Entre eles, uma bênção foi pedida ao Monsenhor José Carneiro Pinto, então Pároco da cidade; para Dom Vaz, diretor da ETE, na ocasião; para o Jesuítas e para a cidade de Santa Rita do Sapucaí. No outro dia, veio até nós a feliz resposta: “Sì! Sì! Sì!”

A Primeira Eucaristia de Gustavo

Gustavo era tão pequeno, tão frágil... Os meus dois filhos Gustavo e João, cabiam sentados, juntos, dentro de um carrinho de neném. Gustavo tinha muitos pontos em comum com Padre Pio: a reza diária do terço, a contemplação constante do menino Jesus de Praga, além do sofrimento físico permanente, devido ao seu estado de saúde. Por tudo isso, achamos que deveríamos promover o encontro dos dois, no dia 13 de outubro de 1967, em sua primeira comunhão.
A primeira Eucaristia de Gustavo.
Ficamos em frente ao altar. Quando tocou a sineta, surgiu Padre Pio, trôpego, andando com dificuldade sobre as chagas que trazia nos pés, sempre amparado pelos dois frades. De repente, os olhares dele e de Gustavo se cruzaram. Hoje, relembrando a cena, penso que poderia ter havido um diálogo espiritual entre eles.

“Padre Pio, vim receber Jesus pela primeira vez de suas mãos!”
“Filho, já te esperava há muito tempo. E hoje, no dia de Nossa Senhora de Fátima, selarás teu coração para Jesus!”

No momento de receber a Divina Hóstia, uma fotografia foi batida, imprimindo, com rara felicidade, os dois olhares. Padre Pio e Gustavo foram imortalizados, fixando os olhares num mesmo ponto: Jesus.

Após a missa, fomos com o Padre para a sacristia. Era mais um carinho divino. Padre Pio disse ao Gustavo:

“Ama Jesus, ama Padre Pio, ama seus pais, ama  seus parentes e faz com que sua última comunhão seja tão pura e santa quanto a primeira.” E foi...

Um Sinal

Na volta ao Brasil, em dezembro de 1967, trouxemos uma bela imagem de São Miguel, feita de pedra da famosa gruta do Arcanjo, abençoada por Padre Pio. No dia 22 de setembro do ano seguinte, quando nos aproximamos da imagem para beijá-la, Maria Lúcia exclamou: “Que perfume de flor de laranjeira! A primavera está chegando!” No dia seguinte, soubemos, com grande dor, que Padre Pio tinha falecido. Quinze dias depois, ao recebermos a Revista dos Capuchinhos, lemos que, no momento de sua morte, o Santo exalara perfume de flor de laranjeira! Dez e meia da noite no Brasil, duas e meia da manhã de 23 de setembro de 1967 na Itália. Padre Pio entrava no céu!

(Trecho do livro “Quem é Padre Pio”. Texto de Manoel Victorino)

Um comentário:

  1. Boa Tarde!

    A paz de Jesus!

    Estou lendo o livro e fiquei encantado com o amor e obediência de Padre. Pio.

    Através da devoção de um amigo ao Padre, eu fiquei interessado em conhecer a história deste Santo. Fui procurar na internet, e um breve resumo que encontrei já fique fascinado. Daí fui procurar um livro que contasse a história de Padre Pio e encontrei esse “Quem é Padre Pio?”. Estou lendo e a cada página que passa, tenho mais interesse na história e vida desse Santo Estigmatizado.

    Assisti o filme, que me ajudou bastante a visualizar o cenário em que tudo ocorreu, a igreja onde ele celebrava, o mosteiro, o quarto em que ele dormia, assim podendo dar mais vida para a minha leitura.

    Manoel Victoriano quando li no seu testemunho, fiquei muito interessado em conhecê-lo. Em conhecer a pessoa que esteve com Padre Pio, que viu, tocou, conversou e se confessou com esse Santo Capuchino.

    Gostaria muito de conhecer esse “filho espiritual” de Padre Pio pessoalmente e conversar um pouco.

    Caso seja possível esse encontro, por favor entre em contato.

    Fique com Deus e a proteção de Maria.

    Gustavo Silva

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