terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Senhor X fala dos festivais, da boemia nos anos 70 e 80 e do amigo Marcos Flávio


Neste mês, recebemos um texto assinado com o pseudônimo de Senhor X, que nos chamou a atenção por seus conhecimentos sobre a era dos Festivais e sobre os anos 70 e 80 em Santa Rita. Para quem viveu, será a chance de recordar uma época mágica para a cultura local. Para quem nasceu ontem, uma boa oportunidade de saber como os caras curtiam a vida, há 40 anos
O FEME teve três ou quatro edições. Foram os Festivais da Record que inspiraram o interior a criar seus próprios eventos. Naquela época, a única maneira da música se propagar era através de espetáculos como esses. Para chegar às gravadoras, era preciso apresentar as canções em competições desta natureza. Os Festivais eram para os artistas o que a internet é, hoje, para os profissionais que querem apresentar seus trabalhos.

No início da década de 70, Santa Rita fervilhava culturalmente e a cidade absorveu este modelo de espetáculo. Ao todo, foram três ou quatro edições, mas a que mais marcou a todos foi a última. Era uma loucura porque a cidade toda parava quando os artistas começavam a chegar. Havia algumas pessoas daqui, mas a maioria dos músicos era de caçadores de festivais. O domínio era absoluto de cantores que iam de cidade em cidade conquistando prêmios. 

No ultimo ano, o vencedor ficou hospedado na casa do Marcos Flávio. Com uma canção chamada Estradeiro, o competidor que ninguém consegue lembrar o nome, tem algumas de suas canções interpretadas até hoje por quem esteve presente no espetáculo. Já o artista que conquistou o segundo lugar, extasiou a plateia porque tinha algo que lembrava o Ney Matogrosso. Ele dançava de uma forma um tanto exótica e foi um ano antes dos “Secos & Molhados”. Talvez tivesse buscado inspiração em David Bowie, mas era algo diferente na música brasileira daquela época.  

Com o fim do FEME foi criado o FUC (Festival Universitário da Canção), que não vingou. Por volta de 1978, aconteceu uma nova edição com a presença de nomes como Adoniran Barbosa, Clementina de Jesus e outros. Eles não competiram. Suas apresentações aconteciam no intervalo para classificação dos participantes. Na década de 80, ainda houve algumas edições, mas não tinha aquela energia dos primeiros. 

Embalados pela efervescência cultural daquele período, na década de 80, as apresentações artísticas se expandiram e deram espaço para o surgimento do Feirão. Foi de dona Terezinha a sugestão de ser criada uma exposição artística em Santa Rita. Foi aí que Nando, Marcos Flávio, Marinês e outros amigos se juntaram para produzir um evento inédito. Através de uma série de intervenções, o grupo criou um varal de poesias na praça, realizou uma mostra de cinema, gincana, exposições de fotografias antigas e de fotógrafos da cidade, além de ações para chocar mesmo a sociedade.

Uma dessas intervenções polêmicas foi pegar um chapéu de Carmem Miranda e colocar na cabeça da estátua do Chico Moreira. Muitas pessoas ficaram indignadas, algumas pegaram varas e tentaram tirar o chapéu, mas o que eles queriam mesmo era fazer com que a população saísse do lugar comum.

Aglutinador cultural nos anos 70 e 80, Marcos Flávio era um cara completamente culto, tanto em sua formação acadêmica como na sensibilidade que tinha para encarar a mundo. Por este motivo, todas as pessoas que passavam pela vida dele aprendiam muito e eram transformadas de alguma maneira. Para o agitadores culturais que visitavam o lendário “porão” de sua casa, Marcos era como um Waly Salomão: um cara genial que transformava em arte tudo o que via pela frente. 

A boemia intelectual santa-ritense, nos anos 80, varava as noites caçando botequins. Os bares mais frequentados eram o do Marcos (Peão Rancho), o Pops e o Porão. Vez ou outra, quando queriam ir ao Bar do Bá (atual Bar do Rogerão) para tomar uma cerveja durante a tarde, pegavam uma charrete em frente ao mercado para chegar mais rápido. Durante a noite, o Bar Porão, que ficava em uma das casas que foram demolidas, bem em frente ao cinema, era um dos pontos preferidos da juventude da época. A porta era igual de faroeste e existia uns três ou quatro quartinhos. Como não tinha saída, as pessoas que passavam pela praça entravam no bar, davam uma volta lá dentro e iam embora com cara de cachorro caído do caminhão de mudança. Quem estava lá dentro ficava vendo aquele desfile e achávamos tudo muito engraçado.
(Senhor X)
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