segunda-feira, 11 de junho de 2012

A vida e as obras do empreendedor João Luiz Vilela (João Zaca)

Um dos santarritenses mais empreendedores que a cidade conheceu atendia pelo nome de João Luiz Vilela ou simplesmente João Zaca (uma variação de João do Izaac, seu pai). Acostumado a lidar com a agropecuária, desde criança (nasceu em 1887), sua vida sempre foi marcada por decisões ousadas que iam além dos hábitos dos homens simples da zona rural. O primeiro grande empreendimento de João Zaca foi a produção de uma deliciosa manteiga chamada “Luzitania”, vendida para os principais centros comerciais da região sudeste. “Nossa manteiga era muito famosa. Ganhou até prêmio em Belo Horizonte.” - conta seu filho - João.
Alguns anos depois, Vilela dedicou-se à comercialização de banha, miúdos e paio. Diariamente, eram abatidos cerca de 25 suínos vindos de Santa Catarina (Natércia), Bom Repouso e outras localidades. “Os porcos vinham tocados até a fazenda.”

Todos os meses, João Zaca enviava uma grande quantidade de banha para o Rio de Janeiro, quando chegou a negociar com a famosa “Casa da Banha” (CB) e com a “Casa Diniz”. A carne, por sua vez, era transformada em linguiça e enviada para as mais diferentes cidades, principalmente àquelas em que o consumo de feijoada era maior. Seu filho, João Vilela, lembra que, por conta dos hotéis do circuito das águas serem muito visitados por paulistas e cariocas, todos os meses eles enviavam uma grande quantidade de carne para feijoada. “Uma curiosidade da época é que na nossa casa, todo dia a gente comia lombo. Só nos finais de semana é que a gente comia um bife ou frango. Naquele tempo a carne era bem mais saborosa. Hoje, o gosto mudou. Não é mais a mesma coisa.” - conta sua filha.

Nos tempos da fábrica de banha, os miúdos eram distribuídos para os moradores da Vila Operária. Muitas vezes, mesmo mesmo tendo levado uma boa quantidade de carne para casa, as pessoas que pediam auxílio à Dona Maria, esposa de João Zaca, acabavam permanecendo em sua casa para o almoço ou jantar. Para se ter uma ideia da compaixão do casal, apesar de terem 13 filhos, outras 9 crianças passaram a viver em sua fazenda. O sentimento cristão de Dona Mariquinha era tão grande que costumava dividir seu tempo livre em serviços de costura cujo lucro era destinado à construção do Seminário de Pouso Alegre. Também fazia sabão de cinza para os pobres e cuidava de pessoas doentes. Em uma febre de tifo ocorrida na cidade, conta-se que ela permaneceu o tempo todo em contato com os doentes. “Outra contribuição de meus pais era a doação de lenha para os pobres. Muitas pessoas diziam que a mata iria acabar por causa disso, mas ela continua lá até hoje.”

Outra grande contribuição de João Luiz Vilela foi através das obras que empreendeu no Asilo, enquanto também atuava nos Vicentinos. João Vilela contou que ajudou muito o pai a carregar terra para a construção da Escola Joaquim Inácio e disse que todas as semanas sua família enviava leite, carne e outros mantimentos à entidade.
Com o passar dos anos, João Zaca e seus filhos começaram a produzir um excelente queijo parmesão, através de uma pequena fábrica, no terreno onde hoje está localizada a Cooperrita (Rua João Eusébio). Através de máquinas manuais, o produto era batido, curado, salgado e colocado em um ambiente propício para secagem.

Em 1957, os laticínios da região pagavam muito pouco. Para contornar a situação, João Zaca, juntamente com os senhores Adelino Carneiro Pinto, Toninho Rennó e um grupo de fazendeiros, fundaram a Cooperativa Regional Agropecuária de Santa Rita do Sapucaí (Cooperrita). Aos 70 anos, ele se tornou o primeiro presidente e deu o impulso necessário para que o projeto vingasse. Poucos sabem, mas uma parte do terreno ocupado pelo escritório da Cooperrita foi doação dele. A intenção era unir forças e encontrar um bom local para vender o leite. “Meu pai tinha muito medo de não dar certo. Um dia, acordei de madrugada e o vi fazendo contas. Quando perguntei o que era, ele disse: ‘Se a cooperativa quebrar, vou ter que vender tudo pra pagar as contas.’”

Muito unidos durante toda a vida, João Vilela e sua esposa Maria, teriam combinado de morrer na mesma hora. Certo dia, quando sua companheira ficou doente, João Zaca ficou tão preocupado que acabou falecendo antes. Nisso, a saúde da esposa melhorou, mas ela também despediu-se do mundo, exatos 90 dias depois. “Ela ficou numa tristeza danada e sempre dizia que o meu pai tinha ido embora e a deixado aqui. Outras vezes, falava que ele estava demorando na roça. Poucos dias depois ela também se foi.”

(Nossos agradecimentos aos filhos de nosso homenageado: João, Irene e Suzana Rezende Vilela.)

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