sexta-feira, 25 de maio de 2012

Quando Minas Gerais fabricou dinheiro

Muitos se lembram dos anos 70 e 80, quando tínhamos uma inflação tão violenta que o governo, por diversas vezes, cortou zeros de nossa moeda e trocou seu nome. Fato semelhante aconteceu em Minas em 1930 quando  se envolveu numa revolução contra o governo federal para não permitir a posse de Júlio Prestes, que tinha ganho a eleição através de fraudes. Naquela época, como agora nas urnas eletrônicas, o governo manipulava a eleição e só ganhava quem ele quisesse. Por isso, houve a revolução, a mais importante do Brasil. Essa revolução colocou Getúlio Vargas, líder gaúcho, na Presidência da República com a desculpa de que foi o candidato derrotado. Na partilha do bolo político, Minas Gerais ficou apenas com a Pasta do Exterior com o que Olegário Maciel não concordou. Reivindicou, também, as da  Justiça e da Fazenda. No entanto, Oswaldo Aranha estava com a da Justiça e José Maria Whitaker com a da Fazenda. Não havia possibilidade de Minas receber mais pastas. Então, Olegário Maciel enviou um telegrama a Getúlio ameaçando retirar-se da “Reconstrução”. Por sugestão de Gustavo Capanema, chefe do gabinete mineiro, foi criado o Ministério da Educação e Saúde e entregue a Francisco Campos que, mais tarde, faria uma comentada reforma no ensino. Toda essa disputa política trouxe graves consequências para Belo Horizonte com atraso no pagamento do funcionalismo público e racionamento de produtos que eram comprados de outros estados. Com os cofres esgotados, o Tesouro Estadual lançou mão de emissão de títulos e, no dia 16 de outubro, o Governo autorizou a emissão de Obrigações do Tesouro cujo prazo de resgate era de 180 dias, podendo ser prorrogado, se necessário fosse, com juro de um e de um quarto a ser pago no vencimento do Título, mas o próprio governo acreditava não poder resgatá-las nesse prazo.

A Municipalidade também veio dançar no mesmo ritmo e o prefeito Luiz Pena autorizou a emissão de apólices da dívida pública municipal. A vida ficou difícil e o comércio se ressentiu não podendo importar de outros estados, pois os títulos não eram aceitos. O funcionalismo público, desconfiado, recebia seu salário em apólices difíceis de serem negociadas. O povo decepcionou-se com a revolução e colocou nas apólices o apelido de “Burroquês”, nome sugestivo para indicar que só burro a quis. O Carnaval de 1931 não perdoou a situação e, como sempre, fez troça dos acontecimentos  imprimindo uma réplica das Obrigações do Tesouro com os dizeres: Bloco Burroquês ou Bororó – Grupo animado, não resgatável em 180 dias” e apresentou uma marchinha que dizia: 
               
Eu tenho mil  burroquês
Filha de meu coração
Que quero fazer a troca
Por um só marco alemão”

Ninguém queria, ninguém aceitava o dinheiro de Minas, mas o funcionalismo era pago nessa moeda rejeitada e, como o comércio colocava dificuldades em aceitá-la, os funcionários passavam fome.

Fato pitoresco ocorreu quando o Pagador do Estado foi ao Palácio  pagar o Governador a sua remuneração e ele repeliu o novo dinheiro dizendo: “Prefiro o federal!”

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