De família pobre e sem recursos, ao embarcar para o Brasil - aos 12 anos de idade, na companhia dos seus irmãos José e Manoel - teve de arrumar o pouco que possuía numa trouxinha de roupa e engajar-se, como ajudante de cozinha, num dos navios veleiros que aqui aportavam e que levou mais de um mês para chegar ao Rio de Janeiro. Veio recomendado para morar e trabalhar na Casa Comercial e Comissária de um tio que residia na capital brasileira. Aí esteve, até que julgou ter incorrido no desagrado do tio, homem enérgico e destemido - por ter provocado um incidente com um dos empregados da Casa. Temendo ser castigado, fugiu sem destino e foi dar no Largo Santa Rita, de onde estava saindo para o interior de Minas Gerais a tropa de Francisco Carneiro Santiago. Aliou-se a ela e de nada valeu a relutância do capataz em levá-lo.
Chegando à Fazenda da Água Limpa, em Cristina, Estado de Minas Gerais, Francisco Carneiro Santiago estava pondo obstáculo em tomá-lo ao seu serviço - pois via que era pequeno e que pouco poderia produzir - quando um providencial leitãozinho gritou entalado no buraco de uma cerca. Antônio Moreira da Costa, mais que depressa, correu a socorrê-lo.
Esse gesto ágil, decidido e espontâneo do menino, impressionou bem o fazendeiro que resolveu, então, contratá-lo para cuidar dos porcos e fazer outros serviços da mesma natureza. Daí começou sua nova vida. Labutando e trabalhando arduamente, foi granjeando confiança e amizade do patrão, que passou a confiar-lhe cargos de mais responsabilidade. Já, então, era ele o capataz da tropa, era quem ia ao Rio da Janeiro buscar mercadorias e vender produtos da fazenda. Saíu-se tão bem, que o velho Carneiro não cansava de elogiar-lhe a perspicácia, pois sempre trazia somas bem maiores do que esperava.
De bom coração, econômico, ordeiro e trabalhador, acabou conquistando a simpatia de toda a Família Carneiro Santiago e dela tornou-se um dos seus membros através do casamento com Maria Cândida Ribeiro, sobrinha de Francisco Carneiro Santiago. A noiva morava na “Fazenda da Pedra” - vizinha da “Fazenda Água Limpa” - e nasceu, no dia 1º de novembro de 1844. Seus pais eram Joaquim Inácio Ribeiro e Joaquina Maria Carneiro. Após o enlace, Antônio Moreira passou a residir na “Fazenda da Pedra”, onde nasceram quase todos os seus filhos.
Ao visitar alguns parentes de sua mulher, em Santa Rita, o português gostou tanto da qualidade das terras que ali adquiriu uma gleba para o plantio do café e cereais. A nova propriedade passou a ser chamada “Fazenda Pedra Redonda”.
Com a morte dos sogros, Antônio Moreira vendeu o que coube ao casal na partilha da “Fazenda da Pedra” e instalou-se, definitivamente, em Santa Rita do Sapucaí que, na época, não passava de um pequeno arraial. Com muito trabalho e visão de negócios, organizou e desenvolveu sua propriedade e nela instalou a primeira máquina de beneficiar café de todo o sul de Minas. Era ela acionada a motor, que ele fez vir, arrastado por bois, desde o Rio de Janeiro, atravessando estradas abertas em picadões incultos e pontilhões feitos para sua passagem.
Nesse ambiente de luta contra os empecilhos da natureza, criou e educou seus filhos, legando-lhes o exemplo de sua tenacidade inquebrantável e de uma energia sem limites. Para o desenvolvimento de Santa Rita, muito ajudou tomando parte sempre ativa nos seus empreendimentos e no seu progresso. Foi ele um dos fundadores da Santa Casa Antônio Moreira da Costa, tendo doado terreno para sua construção e também para o cemitério local. Era caridoso e sempre deu decidido amparo às obras de beneficência. Muito antes da abolição, concedeu liberdade a todos os seus escravos e os recebeu como colonos de suas terras.
Já sua casa era sempre aberta a parentes e amigos. Para o conforto e o bem-estar dos seus, não via empecilhos. Fazia vir do Rio de Janeiro, em lombo de burros, tudo o que pudesse atender às necessidades da família. Na educação dos filhos, nunca poupou esforços e sempre se empenhou em dar-lhes um nível de vida mais elevado. A boa e confortável vivência que deixou aos descendentes - uma das melhores da época - com seus finos móveis, quadros e apetrechos, atestam seu espírito adiantado e progressista. Já sua mulher, foi-lhe uma grande colaboradora cheia de coragem, acolhedora e um exemplo de verdadeira esposa e mãe cristã.
Em 1903, quando em tratamento de saúde em Cambuquira de Minas Gerais, foi vítima de uma congestão cerebral e faleceu no dia 5 de setembro. Seus restos mortais repousam no mausoléu da Família Moreira, em Santa Rita do Sapucaí. Sua esposa, sobreviveu até o dia 18 de outubro de 1921.
(Texto retirado da obra “Traços Biográficos da Família Moreira, escrita por Sinhá Moreira)
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