Lá pela época dos anos 40, no século passado, era comum ir para Aparecida do Norte, numa viagem de trem. Era uma viagem longa e complicada, saindo de madrugada e fazendo a primeira baldeação, troca de composição férrea, em Soledade de Minas. Dalí seguíamos para Passa Quatro e depois Cruzeiro, já no estado de São Paulo, onde passávamos para a E.F.Central do Brasil e íamos para o destino. De Passa Quatro a Cruzeiro passávamos pelo grande túnel da Garganta do Embaú, muito conhecido por causa do massacre dos paulistas que, na revolução de 1932, tentaram invadir Minas Gerais passando através dele.
A serra da Mantiqueira é uma defesa natural do território mineiro e, na época do Brasil Colônia, foi um desafio para o escoamento do ouro que se fazia através de Parati, entreposto comercial, no fundo da baía da Ilha Grande. O caminho terrestre que partia de Paraty, seguia por Guaratinguetá, passava pela Freguesia da Piedade (atual Lorena), vencia a Garganta do Embaú e chegava a Minas Gerais: era o chamado ”Caminho do Ouro da Piedade.”
Mário Lúcio Sapucahy afirma que “era extremamente difícil transpor a Serra da Mantiqueira por outro ponto que não fosse a Garganta do Embaú. Tal garganta não passa de uma depressão no espigão da Serra da Mantiqueira, local por onde se fazia a ligação entre as terras mineiras e o Vale do Paraíba”.
Lá no alto, marcando a divisa entre os estados de São Paulo e de Minas Gerais, existe uma cruz, a Cruz do Embaú que, em 1720, os mineiros trouxeram do monte Caxambu. Mudando-se, matreiramente, o lugar da cruz, Minas ganhou toda a região da Serra Alta da Mantiqueira. Para fiscalizar as pessoas que procuravam esse caminho em busca do comércio de São Paulo, Parati e Rio de Janeiro e para combater assaltos e também para evitar o contrabando de ouro e pedras preciosas que saiam de Minas, o governo instalou, na divisa entre a Província de Minas e de São Paulo, o Registro do Embaú, patrulhado pelo corpo das tropas pagas de Vila Rica. Registro era o ponto de fiscalização.
Em março de 1822, Saint-Hilaire, passou pela garganta e se hospedou no Registro. “O Registro da Mantiqueira foi colocado mesmo na raiz da serra e compõe-se da casa da barreira, ocupada pela repartição e dum rancho, no qual fica a balança onde se pesam as mercadorias vindas do Rio de Janeiro. Essas cons-truções localizam-se em torno de um grande pátio, fechado do lado da montanha por uma porta de madeira. Como existe o projeto de se mudar o traçado da estrada, não se fez, desde algum tempo, o menor reparo nas casas do Registro que estão, atualmente, quando muito, habitáveis,”
Assim, também, formou-se outro Registro importante localizado onde hoje é a cidade de Pouso Alegre e se chamava Registro do Mandu, instalado com a finalidade de controlar o comércio e transporte do ouro retirado de Santana do Sapucaí, atual Silvianópolis, e de São Francisco das Chagas de Ouro Fino.
Com a demarcação entre as províncias de Minas Gerais e São Paulo ainda indefinida, Francisco Martins Lustosa e Veríssimo João de Carvalho tomaram posse do descoberto de Santana do Sapucaí e Ouro Fino, e foram nomeados pelo governador de São Paulo, respectivamente, guarda-mor e intendente das minas.
Mais tarde, Gomes Freire de Andrade “mandou que, por ordem sua, fosse tomada posse de todas aquelas terras minerais, estabelecendo uma guarda no Sapucaí e um Registro no Mandu”. Com essa medida o governador da província de Minas Gerais esperava resolver definitivamente a questão. Não obstante, continuou encontrando resistência por parte dos paulistas.
A criação de um Registro, muito antes da criação da freguesia, indica que um povoado antigo se formou lentamente às margens do rio. Um lugarejo relativamente populoso que justificava o estabelecimento de um Registro do Ouro no lugar. A presença de certo número de guardas nesse posto fiscal faz crer que seria um Registro de grande movimento, porque por ali passava o único caminho conhecido pelos viajantes, entre Vila Rica e São Paulo.
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