Divina Arte
Quando contemplou o interior da Capela Sistina pela primeira vez, o jornalista Claudio Abramo (1923-1987) sentiu uma estranha emoção chocar-se com sua opção pelo ateísmo. “Tive de fazer um esforço enorme para continuar ateu”, admitiu a um grupo de colegas do diário O Estado de S. Paulo, logo que regressou do Vaticano. Abramo ficara extasiado ao conhecer de perto o majestoso templo católico, cujo teto ainda hoje exibe pinturas primorosas de Michelangelo (1475-1564). A Catedral Metropolitana de Pouso Alegre também exemplifica o emprego exitoso da arte em nome da evangelização. Poucos seres humanos conseguem manter-se indiferentes diante da riqueza artística e simbólica guardada pela sede da única arquidiocese sul-mineira.
A genialidade de José Perez
O artista plástico espanhol José Perez de Moraes deixou seu talento marcado nas paredes do presbitério e da nave da catedral. Desafiado pelo verde claro escolhido para a pintura interna, produziu belas imagens em tons escuros de verde, acrescidos de branco e preto. Dos pincéis de Perez saíram as figuras que ladeiam o altar: os quatro evangelistas, o Bom Pastor, Jesus transfigurado, a parábola do filho pródigo e a ressurreição de Cristo. As 14 estações da Via Sacra foram pintadas pelo mesmo autor na parte superior da nave. Na entrada da igreja figuram o Rei Davi tocando harpa e Jesus batendo à porta. Perez produziu ainda duas figuras alusivas ao mistério da eucaristia, as quais adornam a Capela do Santíssimo.
Solo sagrado
A capela é tida como o espaço mais sagrado do templo, pois guarda as hóstias consagradas para que os fiéis possam adorar o corpo de Cristo. Lá são acondicionadas também as sobras de hóstias que são levadas até lares de enfermos. Uma lâmpada vermelha fica constantemente acesa na capela para indicar que ali Cristo se faz presente por meio da eucaristia, momento a que os católicos conferem maior importância.
A cripta da Catedral
As primeiras comunidades cristãs celebravam a eucaristia sobre os túmulos dos mártires (pessoas que morriam para testemunhar a fé cristã) e, por essa razão, a cripta das catedrais geralmente é construída exatamente sob o presbitério. Na cripta da catedral de Pouso Alegre foram sepultados três bispos: Dom Octávio Chagas de Miranda (líder da diocese de 1916 a 1959), Dom José D’Angelo Neto (1960 a 1990) e Dom João Bergese (1991 a 1996). Uma imagem de São João Batista foi colocada no recinto subterrâneo por causa do nome do primeiro bispo de Pouso Alegre, Dom João Batista Corrêa Nery (1901 a 1908).
A cátedra
O atual arcebispo, Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho, preside cerimônias a partir de sua cátedra – denominação dada à cadeira do bispo, da qual deriva a palavra catedral. A cátedra de madeira fica posicionada à direita do altar (ou mesa do sacrifício). Nas laterais do presbitério reservam-se assentos especiais para 10 cônegos que atuam na jurisdição da arquidiocese, sendo cinco lugares de cada lado. Os nomes dos cônegos estão gravados em latim nas placas douradas que identificam seus assentos.
Entre colunas
Entre as colunas da catedral estão as capelas laterais de São José, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Dores e São Sebastião (patrono da arquidiocese). A catedral não tem padroeiro e, sim, um titular que pertence à Santíssima Trindade: Bom Jesus Crucificado. De acordo com o secretário paroquial Fernando Freitas, a imagem centenária teria vindo de Silvianópolis, quando aquela localidade não passava de um vilarejo e se chamava Santana do Sapucaí.
Obreiros de Deus
Os vitrais da catedral impressionam pela grandiosidade e pelo esmero das figuras coloridas que os enfeitam. Na extremidade inferior de cada vitral aparece o nome da família que o ofertou à igreja. Um dos patrocinadores foi o ex-senador Eduardo Carlos Vilhena do Amaral. O ex-prefeito de Maria da Fé, José Vilela Viana, doou o enorme vitral redondo que faz chegar luz e cores ao coro da catedral. Logo acima, no frontispício, foram colocadas figuras que representam os 12 apóstolos de Cristo. Durante a pintura da 12ª imagem, o operário que executava o serviço sofreu uma queda que provocou sua morte. Em seguida, o então cura da catedral, monsenhor Benedito Marcílio de Magalhães, decidiu manter a imagem sem pintura, em homenagem ao trabalhador ausente. A obra só foi completada meses após o triste episódio.
Os relógios da torre
Os espaços pouco conhecidos da catedral também surpreendem qualquer visitante pela rusticidade. Entre paredes sem acabamento, funcionam os dois relógios e repousam os três sinos do templo, estes silenciados após reclamações de estabelecimentos comerciais vizinhos. O relógio mais antigo foi fabricado em 1949 por Lourenço Fernandes e Filhos, de Jacutinga. O outro funciona há 36 anos e foi confeccionado na cidade paulista de Jaboticabal pela empresa Zocca.
Ontem e hoje
Quando contemplou o interior da Capela Sistina pela primeira vez, o jornalista Claudio Abramo (1923-1987) sentiu uma estranha emoção chocar-se com sua opção pelo ateísmo. “Tive de fazer um esforço enorme para continuar ateu”, admitiu a um grupo de colegas do diário O Estado de S. Paulo, logo que regressou do Vaticano. Abramo ficara extasiado ao conhecer de perto o majestoso templo católico, cujo teto ainda hoje exibe pinturas primorosas de Michelangelo (1475-1564). A Catedral Metropolitana de Pouso Alegre também exemplifica o emprego exitoso da arte em nome da evangelização. Poucos seres humanos conseguem manter-se indiferentes diante da riqueza artística e simbólica guardada pela sede da única arquidiocese sul-mineira.
Vista de dentro do mostrador da Catedral. |
O artista plástico espanhol José Perez de Moraes deixou seu talento marcado nas paredes do presbitério e da nave da catedral. Desafiado pelo verde claro escolhido para a pintura interna, produziu belas imagens em tons escuros de verde, acrescidos de branco e preto. Dos pincéis de Perez saíram as figuras que ladeiam o altar: os quatro evangelistas, o Bom Pastor, Jesus transfigurado, a parábola do filho pródigo e a ressurreição de Cristo. As 14 estações da Via Sacra foram pintadas pelo mesmo autor na parte superior da nave. Na entrada da igreja figuram o Rei Davi tocando harpa e Jesus batendo à porta. Perez produziu ainda duas figuras alusivas ao mistério da eucaristia, as quais adornam a Capela do Santíssimo.
Existe um cemitério debaixo do altar. |
A capela é tida como o espaço mais sagrado do templo, pois guarda as hóstias consagradas para que os fiéis possam adorar o corpo de Cristo. Lá são acondicionadas também as sobras de hóstias que são levadas até lares de enfermos. Uma lâmpada vermelha fica constantemente acesa na capela para indicar que ali Cristo se faz presente por meio da eucaristia, momento a que os católicos conferem maior importância.
As engrenagens do relógio. |
As primeiras comunidades cristãs celebravam a eucaristia sobre os túmulos dos mártires (pessoas que morriam para testemunhar a fé cristã) e, por essa razão, a cripta das catedrais geralmente é construída exatamente sob o presbitério. Na cripta da catedral de Pouso Alegre foram sepultados três bispos: Dom Octávio Chagas de Miranda (líder da diocese de 1916 a 1959), Dom José D’Angelo Neto (1960 a 1990) e Dom João Bergese (1991 a 1996). Uma imagem de São João Batista foi colocada no recinto subterrâneo por causa do nome do primeiro bispo de Pouso Alegre, Dom João Batista Corrêa Nery (1901 a 1908).
Os sinos da Catedral. |
O atual arcebispo, Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho, preside cerimônias a partir de sua cátedra – denominação dada à cadeira do bispo, da qual deriva a palavra catedral. A cátedra de madeira fica posicionada à direita do altar (ou mesa do sacrifício). Nas laterais do presbitério reservam-se assentos especiais para 10 cônegos que atuam na jurisdição da arquidiocese, sendo cinco lugares de cada lado. Os nomes dos cônegos estão gravados em latim nas placas douradas que identificam seus assentos.
Entre colunas
Entre as colunas da catedral estão as capelas laterais de São José, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Dores e São Sebastião (patrono da arquidiocese). A catedral não tem padroeiro e, sim, um titular que pertence à Santíssima Trindade: Bom Jesus Crucificado. De acordo com o secretário paroquial Fernando Freitas, a imagem centenária teria vindo de Silvianópolis, quando aquela localidade não passava de um vilarejo e se chamava Santana do Sapucaí.
Obreiros de Deus
Os vitrais da catedral impressionam pela grandiosidade e pelo esmero das figuras coloridas que os enfeitam. Na extremidade inferior de cada vitral aparece o nome da família que o ofertou à igreja. Um dos patrocinadores foi o ex-senador Eduardo Carlos Vilhena do Amaral. O ex-prefeito de Maria da Fé, José Vilela Viana, doou o enorme vitral redondo que faz chegar luz e cores ao coro da catedral. Logo acima, no frontispício, foram colocadas figuras que representam os 12 apóstolos de Cristo. Durante a pintura da 12ª imagem, o operário que executava o serviço sofreu uma queda que provocou sua morte. Em seguida, o então cura da catedral, monsenhor Benedito Marcílio de Magalhães, decidiu manter a imagem sem pintura, em homenagem ao trabalhador ausente. A obra só foi completada meses após o triste episódio.
Os relógios da torre
Os espaços pouco conhecidos da catedral também surpreendem qualquer visitante pela rusticidade. Entre paredes sem acabamento, funcionam os dois relógios e repousam os três sinos do templo, estes silenciados após reclamações de estabelecimentos comerciais vizinhos. O relógio mais antigo foi fabricado em 1949 por Lourenço Fernandes e Filhos, de Jacutinga. O outro funciona há 36 anos e foi confeccionado na cidade paulista de Jaboticabal pela empresa Zocca.
Ontem e hoje
A atual catedral pouso-alegrense começou a ser construída em 1948, sendo inaugurada 32 anos depois. No mesmo local ficava a antiga sede da diocese, construída em 1849 para ser a matriz da Paróquia de Bom Jesus. O bispado de Pouso Alegre foi instituído em 1900 por meio de uma bula do papa Leão XIII. Desde então, a maior cidade do Vale do Sapucaí se tornou um polo que atraiu não apenas autoridades eclesiásticas, como também líderes temporais. Uma das visitas mais importantes à catedral, ainda em construção, aconteceu em 1956. À época presidente da República, Juscelino Kubitschek assistiu a uma missa no espaço reservado ao clero e se hospedou no Palácio Episcopal.
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