Segundo Aristóteles, Catarse é a purificação por meio da descarga emocional provocada por um drama. Para suscitar a catarse é preciso que o herói passe da graça para a desgraça. Desta forma, o público vive o declínio de seu símbolo e sente-se imaculado como ele. No passado, a civilização tinha seus deuses: um para cada inclinação humana. Como forma de saciar seus desejos, o homem fazia oferendas. Através do sacrifício da pureza, o homem acreditava poder se aproximar de seus ídolos. Ele chegava aos seus deuses, através da eliminação da virtude que os distanciava. Com o tempo, foram criadas arenas para que pessoas simples e puras fossem devoradas pelos leões para o deleite da platéia. Os símbolos de virtudes eram eliminados em nome da perpetuação da ignorância humana. Hoje, o coliseu deu lugar aos estúdios. Cada família tem em casa o seu próprio altar de sacrifícios, disposto em um local preferencial da sala. Nossa arena agora é chamada de televisão. Por trás dela, existe uma indústria especializada em, todos os dias, criar novos ídolos, alçá-los ao apogeu das aspirações mundanas e depois lançá-los ao ridículo para mostrar ao público que a “perfeição” não precisa ser atingida porque já foi sufocada. O interessante é que nossas prioridades parecem tão medíocres, que a atual escala de aspiração tem sido, dentre outras aberrações, a quantidade de mililitros de silicone colocados nos seios. Vivemos uma catarse pop. Quando vemos dezenas de pessoas, brigando nas ruas por conta de um time de futebol que, de seis em seis meses, muda completamente, isso é efeito da catarse pop. Quando vemos uma dançarina ou um ator terem suas privacidades invadidas isso é feito em nome da catarse pop. Enquanto isso, a vida se esvai. Enquanto a dona de casa diz que sua única alegria é a novelinha, um amontoado de dias e oportunidades vão passando rasteiros pela janela. A vizinha viu. Amanhã ela te conta.
(Carlos magno Romero Carneiro)
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