segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A última Rainha do Clube Santarritense

O coração da menina Marly de Castro disparou ao receber a visita de três figuras ilustres da sociedade Santarritense, no verão de 1956. Sua euforia não foi tanto pela visita de Nilo Marinho, Alcyon Brentan e sua esposa Martha – membros da diretoria do Clube Santarritense – mas pelo convite que eles estavam prestes a fazer.

No tempo dos grandes bailes, animados por orquestras de renome como Casino de Sevilla e pelo cantor chileno Lúcio Gatica, o sonho de toda adolescente era ser coroada Rainha do Clube ou Rainha dos Estudantes. Aquele acontecimento significava um título que concederia a elas a distinção de mais bela e representativa garota entre todas as outras da cidade. Para Marly não era diferente. Dona de uma beleza ímpar e de uma enorme simpatia, a estudante de 17 anos também sonhava com uma noite em que receberia tal honraria.
O ritual de coroar a moça que melhor representasse a beleza local teve início em 1926. Em um dos primeiros bailes do Clube Literário Santarritense, localizado no prédio ao lado dos antigos casarões da praça, uma garota tímida recebeu o primeiro título de Rainha dos Estudantes. Mal sabiam os santarritenses que em algumas décadas ela se tornaria a mulher mais importante de que a cidade teve notícia: Sinhá Moreira. Nos anos seguintes, o título foi muito cobiçado pelas alunas da Escola Normal. Garotas como Jurandy Cabral, Carminha Rennó Moreira e Glorinha também teriam direito a esta noite tão inesquecível.

O pai de Marly hesitou muito ao receber o convite da diretoria do Clube Santarritense. Muito reservado e absolutamente avesso a eventos sociais, Sílvio Palma só deu o aval quando Nilo Marinho prometeu que a acompanharia na entrada da cerimônia. Solicitação aceita, o sonho de sua filha seria finalmente concretizado no dia 22 de maio de 1956.

Terno e Gravata, vestidos exu-berantes, lindas decorações e grandes números musicais. Essa era a realidade dos Bailes do Clube Santarritense. Marly Fontes conta em sua obra “ Casos e Causos – história de gente comum” que na coroação de sua mãe (Glorinha) foi necessário comprar duas passagens de trem: uma para o vestido e outra para o portador. Nestas festas, as meninas se preparavam com meses de antecedência. Se o baile acontecesse em maio, era preciso contratar as estilistas Lívia Martinez e Estelinha Raposo no começo do ano para não correr o risco de encontrá-las “apertadas de costura”.
Chegara, enfim, a esperada noite em que a linda Maria Lúcia Campos do Amaral transmitiria a faixa para sua sucessora, após dois anos de recesso nas coroações. Tudo havia sido planejado para se tornar o mais inesquecível de todos pois significava a retomada de um ritual muito valorizado pelos santarritenses. As decorações em madeira ficaram por conta dos geniais irmãos De Franco. A Orquestra Jazz Brasil do grande Maestro Carmello Carneiro de Abreu daria vida ao espetáculo. Já o cantor escolhido não poderia ser ninguém menos que a voz mais marcante que Santa Rita já conheceu: o inesquecível Orozimbo Silva.

“Quando subíamos aquela escadaria, um arrepio percorria o corpo todo. Aquele prédio parecia gigante diante de tanta emoção.” – relembra a educadora Marly. Personalidades de várias cidades da região, juntamente com suas mis-ses e representantes, ostentavam lindas joias que adornavam longos vestidos. De todas elas, a mais cortejada era Anelise Kjaer, eleita naquele ano Miss Minas Gerais e terceira colocada no Miss Brasil. Decididamente, as mulheres mais bonitas do estado estavam presentes naquela festa que prometia atravessar a madrugada ao som de “Night and Day” e “Blue Moon”.

“Corre na entrada! Ela vem chegando!” – gritou o diretor da equipe de cinema contratado para registrar o acontecimento. Com um indefectível vestido branco, cravejado de strass, Marly foi recebida pelos convidados com efusivas palmas. Enquanto caminhava pelo corredor que dava acesso ao palco, a menina notou que a extensão do corredor parecia ter se duplicado. Não era para menos:o momento seguinte ficaria marcado para toda a sua vida.
Maria Lúcia, rainha de 1954, enfim presenteava Marly com a coroa usada por todas as rainhas que as antecederam. Ato contínuo, transmitiu a faixa e teve início o baile, assim que o presidente Henrique Amorim convidou a rainha para a dança. Coube ao prefeito José Alcides Rennó Mendes realizar o mesmo pedido à Miss Minas Gerais. Ao som de uma canção de Bing Crosby, a festa estava apenas começando.

Quando Orozimbo e a Jazz Brasil executaram Besame Mucho, a juventude local, formada por santarritenses como Róssio de Marchi, Paulo Julidori, Maria José (Mimi), Ângelo Borsato, Carlos Alberto e Iveta Borsato, tomaram conta do salão. Apesar de a festa ter se estendido até quatro da manhã, mal o sino da matriz anunciou uma e meia, Marly já receberia o recado de que seu pai a estava esperando na porta. Apesar de ser a figura principal daquela noite, a garota se despediu rapidamente e não demorou para se retirar com receio de que fosse proibida de frequentar as noites seguintes. Nada importante. Um sonho havia se realizado e, para ela, aquela festa ficaria guardada para sempre no relicário de suas mais incríveis recordações.

(Carlos Romero Carneiro)

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Um comentário:

  1. Marly sempre foi lindíssima, e olhem que naquele tempo não existia tantos recursos que a mulheres tem hoje, era tudo natural.....apesar do tempo ainda permanece com os mesmos traços, continua linda !!! Minha amiga......Beijokas

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