quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Chiquita, medianeira silenciosa

D. Chiquita foi uma das mais ricas personalidades que viveram em Santa Rita. Seu nome de origem foi Francisca Celira da Silva. No princípio da década de 1940, casada, acrescentou-se-lhe o nome  Dias, e passou a residir  nesta cidade, terra de seus filhos, agraciando-a  por todos os anos de sua vida, com as messes de um fecundo trabalho comunitário, vindo a falecer aos 27 de junho de 1993.

As responsabilidades que assumiu em toda a sua vida ocuparam os espaços de uma dinâmica social de grandes proporções, iniciando-se nos dias de sua infância e estendendo-se à idade adulta com um vultuoso acervo de realizações filantrópicas nas sociedades em que viveu. Tendo-se em vista o seu intenso esforço humanitário e suas obras sociais a favor desta comunidade, a Câmara Municipal de Santa Rita do Sapucaí, em 1985, outorgou-lhe  o Diploma de  Cidadania Santarritense.

É do conhecimento geral que D. Chiquita foi muito respeitada pelas suas atenções com todos, mas, quem foi D. Chiquita? Para aqueles que não tiveram o privilégio de tê-la conhecido, transcrevemos alguns traços de sua personalidade.

Segundo os princípios que nortearam sua vida, o anonimato seria o seu lugar; pelo menos sua vontade o escolheria, pois foi uma das pessoas mais discretas que viveu nesta terra. Contudo, à custa dos inúmeros benefícios prestados às famílias, notabilizou-se no conceito da maioria popular. Jesus dizia aos seus beneficiados: “Vá e não o conte a ninguém” e todos saiam contando o milagre recebido. Os tempos mudaram, a psicologia humana permanece e com a humilde senhora, os fatos sociais dessa linhagem não seriam diferentes.

A lembrança física de D.Chiquita assenta-se sobre sua imagem viva e serena; sua voz era delicada, de entonação baixa e de fala pausada. Era dotada de invulgar paciência. Sorria algumas vezes. Sua expressão moral, no estofo de sua alma bondosa, irradiava-se em contagiante simpatia, uma vigorosa centelha do seu interior iluminado. Amava as crianças de forma especial; protegia os animais,  conversava com as plantas e os pombos, que  vinham  pousar  sobre  seus ombros e suas mãos.

Discorrer, embora sucintamente a respeito de sua pessoalidade, falar de suas aptidões, ou citar alguns atos que a enobreceram, não é tarefa das mais fáceis: exige senso ético e não menor responsabilidade. 
                
Rever uma memória de elevada envergadura, é um procedimento que deve ser colocado sob o compromisso da verdade, considerando que interpretações mal conduzidas e julgamentos às pressas, sem os conhecimentos que os legitimem, lamentavelmente, ainda movem os territórios metafísicos que cercam os iluminados deste mundo,

Não obstante, essa  página  faz-se portadora desse compromisso, embora  não vá além de um suave toque  sobre a superfície das páginas de vida, que fizeram o quotidiano de lutas redentoras dessa singular mulher. Ninguém ignora que Da. Chiquita possuía extraordinários dons paranormais e que, sobretudo, foi senhora das mais elevadas virtudes cristãs. Sua infância caracterizou-se por uma fase pródiga de acontecimentos que a notabilizaram como detentora das mais raras virtudes cristãs, assentadas sobre um senso ético não comum às crianças. Seu patrimônio moral e o acervo de sua inteligência constituíram-se em verdadeiro anteparo às dificuldades das pessoas de boa fé. Almas aflitas querendo obter os favores divinos, apoiavam-se  na criança profundamente religiosa. Expunham-lhe os seus problemas, pediam conselhos, queriam soluções, uma situação mais comum ao quotidiano dos paranormais adultos. Esse quadro, todavia, representara parte ativa de sua vida de criança - um ser em formação - o que faz a fundamental diferença no seu contexto psicocultural.

Natural de Varginha, passou sua infância na cidade de Careaçu. Nessa comunidade vizinha, recebia as atenções, as palavras de apoio e as preces de seu padrinho, o bondoso pároco Pe Carmello D’Ângelo, quando sentia-se sozinha com sua paranormalidade de grande alcance, mas que a fazia sofrer muito, devido a sua precocidade e à ignorância dos seus fundamentos. Então, Pe Carmello, pacientemente, lhe dizia: “quando sentir-se mal com essas coisas estranhas, venha a mim, que eu a ajudarei a rezar. Não conte a mais ninguém porque o mundo é mau e não saberá compreendê-la e respeitá-la. Mas eu sei.” Pe Carmello, cuja memória ela sempre venerou,  foi uma das mais profícuas amizades que coroou  de  bondosa assistência a sua infância.

Muito jovem e casada, mudou-se para Santa Rita e, alguns anos depois, passou a receber instruções de pessoas amigas a respeito de seus dons. Nesse período, os doentes vinham a sua casa procurar alívio aos seus males. Com os filhos pequeninos, D.Chiquita preocupava-se com o contágio de enfermidades de todos as etiologias, pela presença de seus portadores à sua porta, procurando ajuda. Alguns anos depois, com grande sacrifício e auxiliada por companheiros de fé, conseguiu fundar o Centro Espírita Amor à Verdade Mãe Maria, uma casa simples, pequena, na Rua Antônio Telles, mas o lugar em que inúmeras pessoas vindas de todas as partes, aos sábados, eram beneficiadas por expressões fenomênicas de cura, sob a singela imposição de suas mãos.

Para completar esta página, a respeito de seus atos cristãos, pode-se dizer, resumidamente, que Da. Chiquita foi silenciosa, porém determinada em suas convicções, responsáveis pela sua assistência pessoal aos necessitados de todos os caminhos. Manteve-se nesse trabalho de doações pessoais  cristãs, todos os dias do ano, por todos os anos de sua vida, desde as primeiras horas da manhã. Diríamos de passagem, que D. Chiquita soube transcender da fenomenologia, e cuidar de seu amor piedoso no retiro de sua fé, não permitindo as interpretações do entusiasmo a seu favor, mas única e puramente, as da concessão divina aos que sofriam.

Para ela, tudo era muito simples e natural. Mantinha-se modesta, discreta e sincera, em todos os seus atos. Se o atendimento bem sucedido retratasse um fenômeno raro, imediatamente se impunha mediante as palavras de admiração e louvores à sua pessoa, fazendo prevalecer o caráter natural do fato, admitindo exclusivamente as bênçãos de Nosso Senhor. E dizia com sua delicadeza: “o que  houve, foi a presença de  um  bem, vindo a favor de uma cura. Se está feliz, muito bem, agradeça a Nosso Senhor e não faça murmurações.(comentários) Sinta, sim, as alegrias do cristão sincero, mas em secreto. Agradeça de joelhos ao Nosso Pai que é bom e amoroso. Foi Ele quem concedeu essa cura.” (ou concedeu a orientação que demoliu as dificuldades, etc). Todos os seus gestos cristãos refletiam, sem dúvida, a piedosa assistência divina sobre as almas aflitas que se beneficiavam com a presença do Grande Amor sobre o simples toque de suas mãos. Possivelmente, em vista dos inconfundíveis benefícios de seus dons a serviço de todos, gratuita e indistintamente, que os mais educados consideravam-na  um instrumento da Saúde, do Bem e da Paz, a serviço de Deus. 
 
Texto gentilmente cedido pela amiga Ilma de Faria Dutra.

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