Com frio ou chuva, logo depois da reza, o nosso encontro na casa do compadre Arthur era certo. Isso, por volta de 1931. No início, os companheiros ainda podiam ser contados nos dedos da mão: Monsenhor Calazans, Padre José Eugênio, José Marques e eu. Cinco minutos depois estava iniciada a nossa partidinha de “Truque”.
Com o correr dos tempos, a rodinha cresceu com a vinda de outros amigos: Seu Vitinho Carneiro, Dr. José de Abreu e Seu Zeca João. Ninguém ficava sapeando, uma vez que transformamos as partidas de “Truque” em “Douradão”.
O interesse redobrava com o passar dos dias. Mal terminava a reunião daquela noite, combinávamos o encontro para a noite seguinte, com a exigência de pontualidade, quando os perdedores prometiam uma espetacular revanche.
Aquelas noitadas terminavam às 9 e meia, depois do cafezinho servido pela “Sá Mariana”, humilde empregada dos meus compadres. Tratada como uma pessoa da família, era uma alma boa, educada e inocente como uma criança.
Muitas vezes, entrava ela na sala com uma bandeja de café, resmungando porque o Ninico estava à beira do fogão contando um causo em que ela havia virado um lobisomem. E não era só ele quem tinha causos da “Sá Mariana”. O Professor Indu, velho amigo da casa, garantia que, na noite anterior, havia se encontrado com ela no aterro do Ginásio, altas horas da noite, em forma de lobisomem.
À beira do fogão, como era de costume, minha comadre Albertina reprovava o filho, prestigiando sua velha amiga. E quantas vezes prometi a Mariana que iria fazer queixa de Ninico ao delegado, o que merecia imediata reprovação: “Isso não! Coitada da Sá Albertina, vendo filho preso!”
(Por Mineiro, para o jornal Correio do Sul)
Oferecimento:
Nenhum comentário:
Postar um comentário