Não torço para nenhum time de futebol.
Mas, Copa do mundo é diferente. O coração bate mais forte,creio que nenhum
brasileiro fica indiferente! Eu tenho algumas lembranças de copas, umas boas e
outras péssimas. Em 1950 vi meu irmão Dodô colecionar figurinhas e esperar uma
vitória brasileira como se espera o primeiro filho. Era um apaixonado pelo
futebol. E vi meu irmão sofrer como nunca havia visto ninguém.
Comecei a entender o que era a Copa. Em 1970 foi só alegria... Nós, em nosso
carrinho, e nossos filhos sentados
sobre o capô (naquele tempo era permitido!) acompanhamos a passeata e o buzinaço da vitória da nossa seleção
no México. Se alguém perguntar vitória sobre quem, eu não saberia
responder... Só me lembro da euforia! Espera lá! Parece que foi sobre a Itália!
Veio-me à lembrança uma torcida
empolgada,de amigos, diante da TV de
nossa casa,de amigos que não possuíam
aparelhos de TV. Xingavam a Itália com os mais feios palavrões e a minha mãe, italiana legítima, queria pôr todo mundo
pra correr! Tive que ficar trancada com ela em seu quarto para evitar o pior, até o apito final. E só depois que tudo
sossegou, ela já dormindo, saí para festejar. Depois, bem, não me lembro o ano.
Afinal já disse que não sou tão chegada ao futebol, mas o fato não posso me
esquecer. Estava toda família reunida, tivemos que improvisar o quintal pra
caber todo mundo. Nosso neto, Felipe, uma criança ainda, torcia
apaixonadamente. Filho do Junior e neto do Ivon, só podia agir assim! Enrolado
numa bandeira do Brasil, seria a primeira vitória do Brasil que iria comemorar.
Infelizmente o fenômeno desfenomenou e a vitória foi da França Ô frustração, ô
dó do Felipe! Para mim, veio à mente,
naquele momento, o Dodô e a derrota para o Uruguai. A mesma sensação de impotência, de revolta, de raiva
explodindo como um vulcão. Até hoje esse craque me é antipático pelo modo como
agiu. Outra, bem melhor, foi a de 2002. Estávamos em Recife, almoçando num
restaurante, todos os olhos voltados para um telão, quando Cafu levantou a taça
e fez aquela declaração de amor a sua esposa. Valeu! Gostei ainda mais daquela
capital. Outra vez a Copa será no Brasil. Um Brasil com um comportamento
incrivelmente diferente. Muitos estádios novos ou reformados, planejamento
visto pela TV e a insatisfação do povo pela situação. A corrupção existente e
sempre abafada veio à tona, e a população, que sofre com falta de habitação, desemprego,
transporte, atendimento hospitalar e escolas ruins porque os profissionais não
são bem pagos, reagiu com manifestações justas, mas infestadas de baderneiros.
A confusão causou estragos além do limite. Até a natureza conspirou contra, com a grande seca e as
inundações antes nunca vistas. A turbulência tirou-nos a paz antes, durante e
parece que vai continuar depois da
festança da Copa! Brasil, país potencialmente rico, brasileiros patriotas,
vendo esvair o imposto que pagam, pelos dedos das mãos de uma turma de
corruptos! Mas viva a Copa! Viva o futebol com seus gastos exagerados! Vamos
curtir porque a festa este ano é nossa! Faz de conta que todos estão felizes, temos
pão (bolsas diversas) e circo... Bem, nem todos, ainda! Neste dia em que escrevo
muitas seleções já foram eliminadas e fazem a viagem de volta. Quero que o
Brasil seja hexa, torço por ele, mesmo
sentindo a falta de um reforço de Ronaldinho e Cacá na seleção, mas se não
for campeão, ao menos tem esta vantagem: não precisará da viagem de volta!
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