quarta-feira, 28 de maio de 2014

O drama dos passageiros do ônibus que perdeu os freios na Avenida Sapucaí

Fotos: Reprodução EPTV / Edson de Oliveira
O circular fazia o caminho de vai e volta entre a fita de asfalto que separa a nova da velha cidade, como acontece todos os dias, em Santa Rita do Sapucaí. Moradora do Bairro Pedro Sancho, como boa parte dos passageiros daquela tarde ensolarada de terça-feira, Expedita de Fátima de Jesus tinha passado pela “Chopperia Parada Obrigatória” para receber o pagamento. Para engrossar o orçamento, a senhorinha trabalha de dia na empresa Seek e, de noite, no estabelecimento localizado atrás da igreja. “Eu voltava com pressa. Como estava de folga teria um tempinho para limpar minha casa.”. De licença maternidade, Fabiana Lima, natural de Grão Mogol (Norte de Minas), é vizinha de Dona Dita, também adentrou o circular no ponto ao lado da rodoviária e sentou-se com seu filho de apenas 50 dias em um banco, logo atrás do motorista. Quando o veículo chegou ao ponto em frente aos Correios, José Fernandes da Cunha e Edna Souza, que voltavam do Supermercado, disputaram assento no coletivo que já estava apinhado de gente. “Havia umas 8 pessoas sem assento e dei meu lugar a uma gestante na altura da rua da Pedra.” – lembra Expedita. A velocidade não era alta, o tráfego não estava atípico e sempre foi comum pessoas ficarem em pé. O ônibus subiu vagarosamente o alto do morro e deveria converter à direita, sentido Avenida Sapucaí. O motorista parou para que a gestante e uma senhora de, aproximadamente, 50 anos descessem. O veículo fez a curva e deu início à descida, quando tudo aconteceu.

Duas ou três casas depois de dobrar a “rua da caixa d’água”, os passageiros escutaram o barulho de uma peça cair do veículo e a velocidade começou a aumentar. José, que permanecia em pé durante o trajeto, só se deu conta de que algo estava acontecendo quando alguém pediu ao motorista que reduzisse a velocidade e ouviu ele dizer que o ônibus estava sem freio. A velocidade aumentava vertiginosamente e o ônibus pulava muito. O pânico tomou conta dos passageiros e a gritaria foi generalizada. “Na altura da Leucotron eu vi o motorista debruçado sobre o volante, tentando dirigir. Dizem que quebrou o pulso e fez isso para conseguir guiar. Eu gritava tanto que, três dias depois, ainda estava com a garganta doendo.” – lembra Expedita. Enquanto algumas pessoas oravam, outras gritavam e José Cunha tentava acalmá-las. Fabiana segurou em uma barra de ferro e envolveu o filho recém-nascido, bem próximo ao seu corpo. “Não escutei o motorista dizer nada porque a gritaria era muito grande” – lembra a moça de trinta e dois anos. Muito religiosa, Edna fechou os olhos e começou e orar. Alguns dizem que a travessia até o cruzamento demorou cinco minutos e outros dizem que foi quinze. Para os passageiros daquela tarde fatídica, entretanto, percorrer os cerca de 900 metros da Avenida que leva o nome do rio que banha a cidade durou uma eternidade. 
“Só escutei alguém gritar, ‘Olha a moto!’ e, num piscar de olhos, já estávamos no muro. A intenção do motorista talvez fosse atravessar a avenida e seguir pela rua no sentido oposto até que o veículo parasse. A velocidade, entretanto, era tão alta que o ônibus não fez a curva e chocou-se violentamente contra o muro de uma residência localizada na esquina. Os passageiros ouviram uma grande explosão e foram bombardeados com estilhaços de cacos de vidro, tijolos e uma nuvem de poeira que tomou o ambiente. Diversas pessoas caíram. Outras, foram atiradas contra os bancos. “Uma senhora caiu por cima de mim e quebrei três costelas.” – recorda José. O mesmo aconteceu com Expedita, que também teve a costela trincada. A velocidade e o peso eram tão grandes que o veículo continuou o trajeto por dentro do quintal da residência, destruiu a face seguinte do muro e só não derrubou a parede de uma fábrica do outro lado da rua porque foi parado por um poste, à beira da calçada. “Alguém se machucou? – gritou o motorista com um profundo corte no rosto, sangrando muito e preso entre as ferragens. “Meu bebê estava com o rosto coberto com terra e com os cabelos cheios de cacos de vidro. Eu saí do ônibus e deitei no gramado. Ao meu lado, muitas pessoas sangravam.” – lembra Fabiana. José estava deitado no chão e gritava muito de dor. “Pensei que tivesse perfurado algo”. Aos poucos, as pessoas começaram a chegar e ampararam as vítimas. Cerca de trinta pessoas foram atendidas no local e, posteriormente, encaminhadas aos hospitais. O motociclista, Rafael Vilela, atropelado pelo ônibus desgovernado, não suportou os ferimentos e faleceu no local. “Eu preferi não ir para o pronto-atendimento naquela hora. De noite, comecei a vomitar sangue e fui me consultar. O médico me examinou, disse que não era grave e fui liberada. Precisei passar pente fino nos cabelos para retirar os cacos de vidro.” – lembra Expedita. 

“O motorista foi um grande herói. Se não fosse ele, não sei o que seria de nós.” – disseram os passageiros entrevistados. Ao ser retirado das ferragens pelos bombeiros, Paulo Pires recebeu os primeiros socorros, ainda no local. Enquanto isso, ambulâncias trafegavam rapidamente toda a extensão da Avenida Frederico de Paula Cunha, em direção ao Hospital que ficou lotado de parentes e amigos das vítimas. A comoção nas redes sociais foi intensa. Pessoas enviavam mensagens de incentivo, davam palpites e oravam pelos acidentados. Alguns santa-ritenses comparavam o acidente ao dia em que a velha ponte metálica desabou no Rio Sapucaí, deixando dezenas de vítimas, seis delas fatais. Assim como aquele 27 de setembro de 1981, o dia 6 de maio de 2014 também traria uma lembrança dramática aos santa-ritenses e, ao que parece, jamais será esquecido.

(Carlos Romero Carneiro)

3 comentários:

  1. Muito triste este episódio. Por sorte, ninguém mais faleceu nesse acidente, o que é uma sorte grande, já que o movimento da rua é intenso durante todo o dia. Eu trabalhei com o Rafael (que inclusive não era motoboy, mas apenas mais um condutor de motocicleta, ou motoqueiro) e com o motorista do ônibus, Paulo. Ainda espero que as investigações se concluam o mais rápido possível, para que os envolvidos e familiares tenham um pouco de conforto.

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  2. O onibus desceu os 900 metros da Avenida Sapucai?? rsrs não foi a Rua Jorge Dionisio Barbosa depois a Rua da Leucotron? Avenida Sapucai ele só cortou alguns metros dela na esquina antes da batida...

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  3. O Rafael não era motoboy. Ele era estudante de engenharia do Inatel e funcionário de desenvolvimento da Leucotron. Favor corrigir na matéria.

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