sábado, 18 de janeiro de 2014

Velha guarda do Inatel, Vale da Eletrônica e a Universidade de Stanford - Por Salatiel Correia

No último giro que fiz pelos Estados Unidos, aproveitei para visitar o Vale do Silício, uma das usinas de ideias que alimenta até hoje a excepcional economia inovadora da Califórnia: a Universidade de Stanford.

Stanford é uma universidade construída bem ao lado da cidadezinha de Palo Alto, distante a quarenta minutos da cidade de São Francisco. Esplendorosa são suas instalações, instalações essas minuciosamente projetadas para respirar o ar do pensamento inovador que move e faz crescer o PIB da nação mais poderosa do mundo.
Stanford é considerada a “Harvard” do oeste americano - é ela a fonte geradora do Vale do Silício. O espírito dessa universidade foi fundamental à criação de empresas inovadoras como a Apple de Steve Jobs, a Intel, a Google e muitas outras que fizeram desta, outrora região agrária, aquilo que o estado da Califórnia representa hoje para os Estados Unidos: um motor de contínua inovação.

São inúmeras as histórias de empreendedorismo de estudantes de Stanford. Estes montavam suas empresas nas garagens das casas de seus pais. Empresas que se transformaram em globais. Puro capital intelectual germinando uma ambiência bastante competitiva e inovadora que o Vale do Silício proporciona.

Falemos um pouco da história desse verdadeiro templo do saber. Leland Stanford, benemérito da universidade, adquiriu mais de 8.000 acres de terra para nela realizar seu grande sonho de cons-truir uma universidade. Certamente, ele não tinha ideia da grandiosidade que seu empreendimento iria gerar para a nação.  Um esclarecedor estudo elaborado pela  Associação do Vale do Silício aponta o resultado do sonho que se transformou em realidade. “Se as empresas fundadas pelos alunos graduados em Stanford formassem uma nação independente, esta seria a décima maior economia do mundo”.

Não resta dúvida de que a Universidade de Stanford é a face visível do mais genuíno capital intelectual que faz germinar uma ambiência bastante competitiva e inovadora, como é a do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Tudo muito regado a sonho e idealismo cimentado pelo genuíno espírito empreendedor de que tanto nos relata, em seus escritos, quem profundamente estudou e teorizou o empreendedorismo: o economista austríaco de saudosa memória - Joseph Alois Schumpeter, grande professor da Universidade de Harvard.

De lá da Califórnia me veio a lembrança do coirmão brasileiro do Vale do Silício - o mais importante polo de Eletrônica de Minas Gerais e um dos mais promissores do país: o Vale da Eletrônica. Este, instalado nas montanhas de Minas Gerais, na cidade mineira de Santa Rita, não muito distante de São Paulo. Fui testemunha de como tudo começou, germinado pela primeira escola técnica da América Latina e pela pioneira instituição a ensinar telecomunicações no Brasil: o Instituto Nacional das Telecomunicações — Inatel.

Conheci e testemunhei, naquela região, os primórdios da consolidação desse importante polo de eletrônica que tanto orgulha os mineiros e o país. Certamente, muito desse sucesso se deve à dedicação da velha-guarda que fez a história do instituto. Naqueles tempos em que o giz vinha da vizinha Itajubá, lá estava o pioneirismo do fundador da instituição, o professor José Leite. Como também lá estava o dinamismo do engenheiro Luís Gomes da Silva Júnior.

Naquele distante início dos anos de 1960, estavam os primeiros discípulos que fizeram a gloriosa história do instituto. Discípulos da envergadura dos professores Aroldo Borges Diniz - do prestigiado Instituto Tecnológico da Aeronáutica, “das pratas da casa” Adonias Silveira da Costa, Mario Augusto, Arthur  François  de Gruitter (o único, entre  todos, que realmente sabe falar javanês, pois é originário da ilha de Java, na Indonésia) e José Antônio Justino Ribeiro. Lá também estava a segunda leva, representada por gente abnegada como os professores José Maria Souza, José Paulo Falsarella  José Geraldo e  Pedro Sérgio Monti.

Eis aí a face mais viva do empreendedorismo e da motivação que vivia e hoje se vive mais que nunca nas montanhas gélidas de Minas Gerais. O mesmo entusiasmo de Stanford, em menor escala, é bem verdade, mas de grande importância para um país que procura se inserir no mundo através da inovação.

Nesse ambiente vi surgir a semente de um pequeno espaço da Escola Técnica de Eletrônica, o empreendedorismo da região simbolizado por aquela que se tornou a maior empresa de produção de equipamentos de transmissão da América Latina: a Linear. Uma semente que surgiu, ainda nos anos 70 do século passado, para se tornar a empresa respeitável que é, hoje, contando como parceira com a Toshiba que, certamente, possibilitará à Linear surfar mais ainda nas ondas do capitalismo globalizado. Nesse momento me vem à memória a garra e competência de quatro engenheiros do Inatel — Robson  Caputo (meu ex-professor), Frutuoso, Kalil e o Souza.

A Leucotron, empresa reconhecida pelos produtos que produz na área de telefonia, não é do meu tempo, mas, de longe, usando suas “crias” e presenciando os consecutivos prêmios nacionais que ganha, vejo que os ventos da globalização, a excelência de sua gestão e a satisfação da clientela são a garantia de um futuro mais que promissor. Logicamente, muito desse crescimento se deve à competência de dois ex-alunos do Inatel: Marcos Goulart e de seu sócio, Dilson. Nos caminhos das duas grandes empresas do Vale da Eletrônica, seguem mais outras 150 “de vento em popa” a ajudar o país a produzir por aqui mesmo produtos com tecnologia de qualidade. Pouco conheço da nova-guarda. À distância, porém, percebo o fervilhar do espírito empreendedor alicerçado pela velha-guarda do Inatel e pela grande benemérita da região, dona Luzia Rennó Moreira, que, lá do céu, deve estar muito feliz pelo grande sonho que gente como ela e o fundador de Stanford ajudaram a consolidar.

(Salatiel Correia é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Planejamento. É autor, entre outras obras, do livro A Energia na Região do Agronegócio). 

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Um comentário:

  1. Pelo menos duas correções a fazer no texto do Salatiel Correia: (1) o nome do Prof. Adonias é Adonias Costa da Silveira e (2) a empresa com a qual a Linear mantém parceria não é a Toshiba, e a Hitachi. No mais, parabéns pelo texto.

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