Doutor Antenor chegou aos berros: “Vamos padre, seu preguiçoso, que uma parturiente nos chama lá no Balaio!” Num triz, estava eu de cara lavada e cabelos penteados. Apesar dos evidentes sinais de sono, desci as escadas e, já na porta da rua, o Dr. perguntou: “Sabe montar, padre?”
Tocamos em uma horrível estrada lamacenta, ainda no escuro e debaixo de uma chuva intermitente que dava até vontade de descer do automóvel e seguir a pé. Enfim, chegamos.
Na fazenda do Custodinho, um rapazinho puxava dois cavalos para a nossa montaria.
Não se via nada no trajeto. Tudo era escuro pela alta madrugada, naquele sertão serrano enchuvarado... Percebi que havíamos chegado quando o Custodinho disse: “É ali”. E enxergamos uma luzinha caminhando e abrindo a porteira do curral.
Na soleira da porta apeamos e o Sr. Marcílio, que voltava da porteira, nos recebeu cumprimentando-me com um “Louvado seja o Nosso Senhor”, que bem demonstrava o quanto ele era um homem bastante religioso. Ao Custodinho, ele disse: “Como vai, Cumpadre?” Ao doutor Antenor, queixou que estava preocupado com sua mulher e com o filho que precisava nascer. “Doutor, ela está muito mal. Pediu o padre e o senhor.”
Doutor Antenor entrou no quarto, enquanto eu aguardava de fora. Saindo rapidamente, me falou: “Vai padre, enquanto eu preparo algumas coisas. Essas mulheres acreditam mais no padre do que no médico...”
No quarto, cumprimentei Da. Marieta, visivelmente preocupada com a vida do filho que devia nascer. Atendi-a rapidamente, dando-lhe o Sagrado Viático. O doutor entrou no quarto e fez o seu serviço. Quarenta minutos depois, estávamos ansiosos, principalmente o Marcílio. De lá da cozinha, ouvimos um berro e o doutor mandou a parteira avisar que “Nasceu a criança. É um homem e vão muito bem mãe e filho.” Imediatamente, Marcílio de Magalhães gritou: ‘Chiquinho! Solta os foguetes que nasceu o Benedito!”
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