Obras que se entrelaçam
Quando Sinhá Moreira teve a ideia
maluca (pelo menos na época) de criar uma escola de eletrônica em Santa Rita,
ninguém tinha noção da imensa revolução cultural que estava prestes a
acontecer. Tecnologia ainda era algo novo para os países mais desenvolvidos do
mundo; quem dirá para a realidade brasileira, cujo processo de industrialização
ainda engatinhava, em plena década de 50.
Consciente da dificuldade que seria implementar um projeto
tão pioneiro, em uma cidade minúscula, cuja economia girava em torno da
agropecuária, Sinhá realizou uma jogada fundamental para o sucesso de sua obra:
convidou os “caras” mais tarimbados em educação no planeta para dirigir a
entidade. O mais incrível foi que eles aceitaram e fizeram as malas para o sul
de Minas Gerais.
A vinda da Companhia para Santa Rita
A companhia de Jesus é tão antiga quanto o próprio Brasil.
Enquanto Pedro Álvares Cabral ancorava suas caravelas na Bahia e tentava
oferecer espelhos em troca de bodoque, estudantes de Paris, liderados pelo
basco Inácio de Loyola criavam uma congregação que mudaria o patamar
educacional, em todo o mundo.
Quando aceitou assumir a direção da ETE, a Companhia de
Jesus enviou para Santa Rita padres Jesuítas de diversas nacionalidades que
ajudaram a comunidade a pensar além dos limites do vale. Se a congregação havia
sido a pioneira na educação brasileira, ninguém melhor para desbravar a
tecnologia, ao apostar em um dos projetos mais audaciosos da história país.
O padre dos laboratórios
Dentre os padres que desembarcaram no pequeno terminal
rodoviário da cidade, um deles entrelaçaria sua vida aos destinos de nativos e
forasteiros e seria muito amado nos anos que se seguiram. Espanhol de Puebla de
Trives, Padre Jaime chegou em 1965 com a missão de lecionar física atômica e,
entre indas e vindas, acabou encontrando o seu segundo lar.
Em 1967, o governo alemão decidiu pagar uma dívida com o
Brasil em equipamentos e diversos instrumentos de precisão foram enviados a
escolas brasileiras. Como a ETE foi uma das contempladas, coube ao Padre Jaime
estruturar os laboratórios de física e química da instituição. O sucesso da
empreitada foi tão grande que, em 1971, o espanhol seria convocado a realizar o
mesmo trabalho em outros colégios jesuítas. Seu retorno a Santa Rita
aconteceria, apenas em 1985, quando assumiu novamente e reestruturou o centro
de experimentações práticas que havia arquitetado.
As aulas de Jaime eram um primor. Conhecedor das mais
interessantes experiências que envolviam física, química e biologia, o jesuíta
sempre encantava os alunos com suas atividades. Dotado de um conhecimento
extraordinário, suas lições incluíam projetos espaciais, elétricos e até
atômicos. Para o espanto de seus pupilos, tudo o que era ensinado nas
salas-de-aula podia ser constatado nas bancadas daquele laboratório que muito
se assemelhava às tirinhas do professor Pardal.
Em 1993, Padre Jaime se aposentou das atividades
acadêmicas na ETE, mas continuou a apresentar suas curiosas experiências, nas
escolas da cidade. Entre uma invenção e outra, falava sobre Jesus, tocava sua
gaitinha e entoava algumas canções. Em paralelo, manteve-se prolífico em suas
atividades literárias e ofereceu inestimável contribuição nos serviços de
evangelização. Autor de duas dezenas de livros, sua produção literária ainda é
publicada, semanalmente, nos principais jornais da cidade e denotam a
sapiência, humildade e inteligência de tão preciosa criatura.
A despedida de um grande amigo
Na última semana, a cidade foi tocada pela morte deste
admirado servidor e sua partida, aos 83 anos, calou a comunidade que tanto o
amava. Apesar da idade avançada, a população parecia não estar preparada para a
sua ausência, mas não havia quem não estivesse grato por sua notável
contribuição. Sua memória, no entanto, permanece viva junto aos que tiveram o
privilégio de conhecê-lo. A este querido Jesuíta, toda a nossa gratidão e
carinho. Onde estivermos, levaremos sempre conosco suas inestimáveis lições.
Obrigado, amigo Carlos, por falar tão bem do P. Jaime. Ele soube unir magnificamente fé e ciência. De Brasília me uno à sua homenagem...
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