Hoje, pela
milionésima vez, me indago
sobre a natureza e o propósito desta vida.
Desde quando
me perguntei isto pela primeira vez? Aos 6 ou 7 anos? Na adolescência e
juventude a angústia de tal dúvida talvez fosse maior. Ou os efeitos mais
dolorosos. Várias vezes me indaguei sobre se valeria a pena viver ou ter
nascido. Nem me lembro se pretendi algum dia acabar com a vida. Talvez sim. Mas
queria mesmo era morrer naturalmente. Ou melhor. Não ter nascido. E lembro de
pais, avós e tias se perguntarem, nas dificuldades: O que vim fazer neste mundo?
Quase septuagenário,
a dúvida reincide. Vale a pena viver? Chorei na véspera de aniversário. Não por
tristeza específica. Tenho vida boa. Modesta mas equilibrada. Problemas comuns.
Perspectivas para os filhos melhores talvez que as minhas. É uma vitória.
Missão cumprida. Posso dizer que, medianamente, sou feliz. Seja lá o que isto
for. Mas chorei. Voltei a indagar se vale a pena. Revisei mágoas, ódios,
desafetos, fracassos. Sobretudo os mais próximos ou de lembrança mais
insistente. Quis vê-los todos mortos. Ou humilhados. Por mim de preferência.
Mas acabei desviando tais pensamentos pelo carinho dos amigos. Mensagens no
face. Presenças físicas. Mimos, brindes, comemorações, bolos, fotos. Estava
meio bêbado. Mas dormi feliz.
Ganhei dois
livros, um sobre o Século XX. Outro, sobre Catarina a Grande. Décadas atrás os leria
num só fôlego. Hoje, minha autonomia de voo, não
atinge 40 páginas. Prefiro artigos. Para assuntos leves, meditações e até contos
ou piadas, não ultrapasso meia página. E ainda faço inimigos. Resultado
do impacto virtual. Redes Sociais. Net. Por falar nisso, lembro-me de minha
terra. O Vale da Eletrônica onde, às vésperas das eleições, publiquei meu
último artigo do leito do hospital. Aliás penúltimo.
O último foi
censurado. Agressivo? Restrição eleitoral? Polêmico? Com este último termo
retorno à razão de estar agora escrevendo. Também de ter parado de escrever por
meses. Cansei de polêmicas. Mas não consigo fugir delas. Conto causo saudoso do
pai da prima e sou mal interpretado. Nos tornamos desafetos. Outra prima,
dileta de juventude, entra em seu apoio. Depois nos desentendemos sobre quem
mais ajudou quem, numa demanda antiga. E me desentendo com o velho e doente
repórter, meu caquético companheiro de aventuras do último causo. Vetado: Tio
e Véio escapam do capeta com a ajuda de Dito Cutuba e Zé Mecânico.
Parei aí.
Brigamos porque? Porque eram dois diabos velhos, cada qual se julgando senhor
da razão. Hoje ele curte pilhéria minha, num post de amigo comum. Apago e
repito o comentário, para não aparecer sua curtição. Curtiu de novo, desta vez
junto com amiga. Já não posso apagar. Apagá-lo sozinho não tem como. Apagar a
amiga por causa dele seria imbecil. Então ficou. Melhor seria virar marajá
aposentado, com alto salário. Ficaria quietinho, desfrutando. Mas não tive
competência. Ou? O que mais
ficou sem solução na minha vida? Sem solução, solucionado está?
Fico
verificando o rol de desafetos. Que quero atropelar sem bafômetro. Poucos, mas
profundos. O parente
que me parece ter sido traidor. O vizinho que pode ter sido desonesto. O juiz
que dizem ser venal. O mecânico que estaria sendo safado. O fulano que ….?
E tantas
pessoas com quem me desentendo. Alguns por anos a fio. Outros pelo resto do
dia. Ou por minutos. Sob aquele lema pornográfico de que vingança é prato que
se come frio. Melhor congelado para não derreter. Não acabar. Enquanto, nas
ruas, hoje se mata por qualquer dez merréis. Até de graça. Pra treinar pontaria.
Meu rol de desafetos, pequeno, mas existente, vai se mantendo. E somente assim
descubro o que ficou sem solução na minha vida.
Volto ao meu
editor, que respeita mas reclama das longas férias do escritor. Não quer
polêmicas mas mensagens, história, lembranças, incentivo. Restrição que
habilmente engano, misturando causos inocentes com tempero de pimenta brava. Ou
até veneno pra elefante. Com endereço certo.
Revejo os
seis ameaços de artigos que esbocei nos últimos meses. Todos pela metade. Revejo
o ex-amigo com quem fui ao inferno no último causo (censurado) e desejo que ele
tenha ficado por lá. Honestamente. Desde que não me segure junto. Se ele
gostar? Azar. Aí eu vou também.
Por isso
repito meu atual lema. Filosofia C&A. Da vaca. Tou Cagando & Andando.
Já cumpri 67 anos de vida quase responsável. O resto que s* f**, inclusive o
Editor, se censurar o texto. Mas não me condene a palavra ou atire a primeira
pedra antes de ler e compreender até o fim.
Afinal
descobri, porque não morri. É a Lei da Atração. Recebi, nos últimos meses, a
par de meia dúzia de péssimas notícias, decepções e alguns fracassos, uma
corrente contagiante de abraços, votos, estímulos, pedidos, conselhos,... O
aluno que sonha trabalhar comigo. A jovem africana que me consulta de longe.
Outro pede ajuda. A ex-aluna relembra aulas que já esqueci. E tantos outros,
outras, outros. Para que continue, continue, continue. Afinal, continuar para
que?
Até que
hoje, recebi aquela notícia. Contrária à expectativa. Facada nas costas. Mas
não doeu, salvo no primeiro susto. Suei frio. Vou invocar Joaquim Barbosa. Como
dizia Ziraldo, facada no pulmão só doi quando ri. Pensei. Assimilei. Absorvi.
Conclui que o golpe foi chinfrin. A notícia não derrubou. Minha vida não mudou.
Não perdi nada. Perdi foi a vontade de matar o responsável. Ou de morrer. E
descobri, finalmente o que a mensagem dos amigos queria me dizer.
Você não
pode morrer. Não pode sumir. Não pode se calar. Porque?
Pois
ainda não aprendeu a perdoar
Me perdoem
os amigos. E se danem os inimigos. Porque, a partir de hoje, não os tenho mais.
Estão todos perdoados. Pelo menos vou fazer uma força danada. E gostem alguns,
odeiem outros. Eu amo a todos. Por isso não morri. Para tem mais algum tempo
para amar. Continuo vivo, feliz, escrevendo. De raiva é que não morro mais.
Morra quem não aprender a perdoar.
E que no
inferno tenha facebook só com gente chata.
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