segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Como pode uma cidade ter as melhores escolas e o povo mais mal educado?

Até hoje, eu ainda não havia estado tão perto de um assassinato quanto no último final de semana. Talvez por isso, ao passar de carro pelo local onde iria ocorrer um ato de violência, não me dei conta de que havia algo estranho. Para dizer a verdade, nem olhei para a cena do crime. Era um sábado festivo. Saímos de um aniversário e fomos encontrar irmão, primos e amigos para uma cervejinha, acompanhada de camarão. Até ali, estava tudo perfeito e, para mim, continuou assim até que soube, no dia seguinte, que foram ouvidos tiros vindos de um bar, no final da rua. O motivo? Dada a quantidade de drogas encontrada nos bolsos da vítima, a hipótese mais provável seria um acerto de contas com o tráfico.

Lembro-me de uma matéria veiculada no início da década de 90 e que apontava Santa Rita como uma das 6 melhores cidades para se viver no país. Entre Ribeirão Preto, Curitiba e outras, lá estava a Santa Rita do Sapucaí. Uma cidade onde não havia desemprego, nem violência. Terra em que Paulinho Dentista - pouco antes - havia promovido uma revolução industrial, zelado pela infraestrutura e desapropriado um conjunto habitacional que deveria ser pago em 10 anos pelos compradores das casas - todos de Santa Rita.

No anos seguintes, residências foram distribuídas sem muito critério, a dívida do conjunto habitacional foi perdoada (e terá que ser paga a partir do ano que vem), começaram a chegar desempregados das mais diferentes regiões do Brasil e a violência atingiu níveis alarmantes. "Casas com chave na porta!", diziam os noticiários. Nos 20 anos seguintes, a política não foi outra na troca das cadeiras do executivo ou legislativo. Afinal, aqui vota-se em quem paga conta de boteco, distribui camisas de futebol, promete emprego, joga mais papel na rua ou parece mais engraçadinho. Planejamento não existe. Sequência administrativa, muito menos.

Em uma entrevista recente com o Juiz de Direito, Dr. Mallmann, responsável por uma verdadeira revolução onde os presos são reintegrados à sociedade através de trabalhos sociais, ele ressaltou seu espanto com a quantidade de crack existente na cidade. Em apenas um ano, sua secretaria apreendeu mais entorpecentes do que nos 6 anos em que esteve em João Pinheiro - local onde atuou anteriormente. É ou não é um índice alarmante?

Em uma reunião no dia 6 de setembro, lideranças locais divididas em segmentos apontaram alternativas para o crescimento sustentável do município. Lá estava o Dr. Mallmann, não no grupo de "segurança", mas no de "educação". Para mim, ficou claro que ele encontrou, naquele quesito, a raiz de todos os males de nosso município. A violência é um reflexo do descomprometimento dos pais, da falta de critério no momento do voto, da falta de amor da sociedade pelo seu patrimônio.

Hoje, as escolas perderam a função de ensinar. Dizem que a finalidade é educar, coisa que até pouco tempo era dever dos pais. Sem ter com quem deixar o filho, a criançada é levada para o ambiente escolar e o professor que se vire. Não raramente, vejo minha mãe - professora do Sinhá Moreira - chegar estressada em casa, dizendo que foi chamada disso ou daquilo, ou que o aluno se recusou a sair da classe. Ao passar pelas redondezas da prefeitura, na semana passada, li uma frase um tanto esperançosa na camiseta de um estudante que hasteava a bandeira, não fosse um erro imperdoável de português: "Estamos PREPARADO, para o futuro." Será que estamos mesmo?

Seguindo esse raciocínio, se os pais delegam aos professores a educação dos filhos, os alunos não respeitam seus mestres e o nível do ensino caiu vertiginosamente por conta do verniz governamental, o que será de nós daqui a algum tempo? O que será desse Vale da Eletrônica onde as pessoas não respeitam o trânsito, jogam lixo no chão e destroem o patrimônio público? De que adianta termos as melhores escolas do Brasil se as pessoas não reconhecem o valor da educação? Talvez o nosso engajado juiz esteja a um passo de desvendar esse enigma. Provavelmente, nos próximos anos, deixe de educar somente os detentos e comece a educar também os habitantes. Enquanto isso, pelas ruas, algum viciado fuma sua primeira pedra do dia, um aluno manda uma professora para o quinto dos infernos, algum jovem perde a vida em uma mesa de bar e o crescimento permanece desordenado. Afinal, "quem faz favorzinho para ganhar voto" nem sempre é o mesmo que irá lutar para que as escolas sejam melhores, o transporte público mais decente, o aparelhamento urbano mais adequado, a cidade mais limpa e o pronto atendimento menos lotado. Em suma, após o fim do jogo das legendas, do término da "festa das urnas" e da negociação de cadeiras administrativas nos estrepamos todos juntos... e com gosto.

(Por Carlos Romero Carneiro)

13 comentários:

  1. Uau! Sem palavras! Perfeito!

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  2. Esse artigo devia ser lido nas escolas do Brasil inteiro. Não é problema só daí

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  3. Estou sem palavras para elogiar este artigo. Parabéns é muito pouco...

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  4. Escola nao ensina a ter bom carater, isso vem de familia
    Se a famila é uma merda, o que pode se esperar dos por virem!
    Todos ja viram os lixos que candidatos para os cargos publicos e mesmo assim muitos destes lixos vão entrar e vai continuar a mesma merda de sempre, e dai ninguem faz nada mesmo e nunca vai fazer.

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  5. Parabéns ao Empório. É sempre bom ler um texto bem redigido. Abs

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  6. Nao podemos ficar presos a essa cultura do passado, temos que avançar na educação, na saúde e na segurança publica e depois educar nossas crianças.

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  7. Muito bem colocado , os problemas mais urgentes de nossa população , que são realmente assustadores ... quem não imaginou por um minuto : "E se eu , ou um dos meus , estivesse neste barzinho naquele momento e testemunhado ato tão repudiante ?". Alguma coisa tem que ser feita sim .... e vc , colocou muito bem a questão !! Parabéns !!

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  8. Meu amigo,
    Eu já estava aguardado o seu livro sobre o Vale da Eletrônica
    ser lançado, agora estou mais ansioso ainda!
    Abraços!
    Leonardo Gomes

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  9. Muito bem colocado. Palavras muito bem ditas. Mas o que faz muita falta além de tudo que foi colocado, é o respeito pela vida. Hoje em dia a vida perdeu seu valor, haja vista a quantidade de crimes banais que se praticam: tráfico de drogas, roubos e furtos, prostituição, alcoolismo... e por ai vai. A cada dia que passa a situação fica pior. A falta de impunidade torna a situação ainda mais caótica. A educação é a base para a formação do cidadão, mas não depende somente da escola e sim do tripé escola/família/sociedade. Como se diz "a união faz a força", devemos nos unir para a construção de uma sociedade mais justa.
    Renato.

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  10. Realmente, os pais hoje em dia colocam seus filhos nas escolas para poderem trabalhar... E fora do horário de trabalho, colocam seus filhos para jogar video game ou os colocam em computadores para "dar um tempo"...
    A educação em casa está muito falha realmente e, achar que a educação nas escolas vai resolver a situação do filho, estão muito enganados.
    É preciso que os pais participem diariamente da educação e formação do caráter das crianças.
    Dizer que está pagando a escola e quer que seu filho seja educado não vai resolver um problema que deveria ser tratado em família, no convívio diário das famílias.
    Pensem bem ao fazer um planejamento familiar (?) se estão mesmo em condições de criar/educar os filhos!

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  11. Amigo! Vamos cuidar dó que é nosso: família, escola, hospital, cidade... A anarquia não é boa para a democracia...

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  12. eu acho que voce que disse da escola sinha moreira, deveria procurar saber dos fatos pra depois sair falando por ai, pois quando nao se sabe a razao dos fatos, nao podemos sair falando o que queremos, pois fala-se o que quer, e ouve e o que não quer.

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  13. E qual é a verdade dos fatos? Que o Sinhá Moreira está abandonado? Concordo plenamente com o artigo

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