segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cartas de Gabriel Capistrano desvendam detalhes da história local


No início do Século XX, um dos fazendeiros mais poderosos do Sul de Minas atendia pelo nome de Gabriel Capistrano de Alckmin. Dono de muitas terras, o coronel detinha uma enorme influência sobre os habitantes da cidade e estava sempre à frente das decisões mais importantes da região. Nesta edição, apresentamos uma série de cartas enviadas por ele a parentes e amigos, em que foi possível entender diversas passagens que marcaram a história de Santa Rita do Sapucaí. Embarque, agora, nessa verdadeira viagem no tempo:
Gabriel Capistrano descreve - em uma correspondência ao genro Mário Goulart Santiago, de 12 de junho de 1929 - a falência do Cel. Erasmo Cabral, barão do café da época, e que perdeu todos os seus bens, após o crash da bolsa de Nova York:

Meu caro Mário.
Respondo à carta da Janda, ciente de que já estás levando o café para a estação. A nossa cidade está numa agitação indescritível com a quebra do Erasmo Cabral. Ontem, ele foi intimado pelo requerimento de falência feito pelos 2 Bancos - Santarritense e Popular. Dizem que ele, por seu advogado, o Doutor Palmeira, agravou ou vai agravar. Em qualquer caso, parece certo que a falência será decretada amanhã cedo. O nosso advogado e dos Bancos, meu e de muitos outros credores é o Doutor Luiz Noronha, auxiliado pelo Delfinzinho.

Ainda não foi apresentado o balanço com lista dos credores, mas consta que é uma coisa monumental – digna do Erasmo. Por enquanto, ainda não se pode calcular nada, pois tudo são boatos e conjecturas, mas está me parecendo que o prejuízo será colossal. Deus queira que eu esteja errado em minhas previsões. O Cleto e Mariquinhas Cabral ficarão reduzidos a zero, pois ambos são fiadores para mais de 1000 contos cada. Adalberto Mendes, Affonso Maria Junho, Estulano, Doutor Abreu e mais alguns, também avalizaram títulos, além de suas forças. Esta quebra irá arrastar muita gente, direta e indiretamente, por interesses conjugados.  Eu, além dos 750:000$ que lá tenho, estou arriscado a mais 30:00$ com os filhos do Doutor Cleto, mas tenho esperanças de arrecadar sua casa de 500 a 600 contos. Está combinado que o Horácio irá administrar as 2 fazendas, sendo provável que já siga amanhã para tomar entrega dos bens.  Chico Moreira, Elpidio e eu, ficaremos trabalhando, como síndicos, aqui na cidade. Sei que iremos ter muito trabalho com a verificação da escrita, títulos e créditos, mas teremos, para isso, o auxílio dos empregados dos 2 Bancos. 

Na carta datada de 1919, Gabriel relata a movimentação ocorrida em Santa Rita por conta da Revolução Constitucionalista de 1932:

Bié não tem passado bem devido a tantas contrariedades. Pela mesma razão, Nharinha está passando co-nosco uns 15 dias. Na cidade, está tudo muito ruim. Tonico Castro foi preso. Consta que o Alcides Moreira também está preso. Já o promotor, também foi preso e levado a Pouso Alegre. O Gabriel veio do José e lá disseram que virão atacar Santa Rita. Ontem, cercaram o Nilo com uma carabina. O Major da Força Legal é um monstro de brutalidade. Ontem, um avião bimotor passou por aqui na fazenda, na cidade e em Pouso Alegre, onde deixou boletins informativos. Na Estação daqui, ele voou bem baixo. Como as forças paulistas começaram a atirar, ele começou a voar alto. O Boletim trazia um telegrama de Oswaldo Aranha para o Washington Luiz, comunicando que o Brasil estava unido, com exceção do Distrito Federal e de São Paulo. Também pediu aos deputados que votassem verbas para os legalistas. Enfim, tudo boatos e mais boatos. Se aparecer alguma notícia que valha a pena, mandarei. Abraços e bênçãos a todos, Bié.
Em cinco páginas, Gabriel Capistrano também relatou os detalhes para a compra da lendária Fazenda Delta. 

Veja alguns trechos da carta:

19 de abril – Meia noite
Quando aqui estiveste eu te contei sobre o projeto que tinha de comprar a “Fazenda Delta” e o compromisso assumido com o Loreto de dar-nos preferência no negócio, em agosto, após a colheita. Lembro-me bem de você ter-me dito que ele não pediria menos do que 600:000. Há 15 dias, recebi uma carta dele, dizendo que estava resolvido a negociar já, pela dificuldade que tinha de encontrar um bom administrador. Pedia 600:000, com porteiras fechadas. Eu fui à fazenda e vi cafezais em produção, carga de café, uns 50 mil pés de café novos, a maioria muito bons e outros regulares. Entendi conveniente escrever a ele fazendo a oferta de 550:000, com as porteiras e portas fechadas, provocando uma explicação e resolvido a dar os 600:000. A fazenda, como sabes, é ótima: possui benfeitorias sólidas e é muito bem montada. São 140 alqueires de pasto de produção, com 400 rezes da melhor qualidade, quase todas suíças, muito apuradas, com reprodutores caracus, vindos do Chico Leite, de Alfenas. Há também um suíço puro que foi comprado por 1:200. Os pastos são todos bem fechados e apartados, com corredor. A fazenda tem também 70 mil pés de café em bom estado e bem tratados.  Há 200 mil pés de café novos, de 2 a 4 anos, cientificamente plantados, em covões grandes, com 4 cafés em cada cova. Parte da plantação é Bourbon. Ainda tem terreno para plantar mais 100 mil pés. A área total da fazenda é calculada em 450 alqueires. 

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