segunda-feira, 16 de julho de 2012

Lembranças do Futuro Santarritense (Por Ivan Kallás)


No abençoado pátio do morro do Cruzeiro, à sombra da jovem paineira, agora envelhecida, cercada por torres ou antenas “paranoicas” onde repousaram canhões para proteger sua gente, se estende nossa cidade. Ali, você é convidado a olhar bem longe no passado para ver seu pró-prio futuro. Mesmo que o presente seja apenas saudade. Hoje, dia maior da Santa, não estou na minha terra para visitar parentes, vigiar inimigos nem gozar a cara de ambos. Um Cartola que perde o amigo Palhaço, mas não perde a piada.
Quem?

Ela está aqui, pertinho de mim. Quem? A Santa? Ou a cidade? Ambas. Dentro do peito! Sapateando com salto alto, para machucar bem fundo o coração. Num sincretismo de esperanças que avalia o passado e sonha com o futuro.

Seriam fantasias, suspiros ou lembranças do santarritense distante? Longe do cartucho, do pão cheio, do quarto de leitoa e dos quitudes de Marias Bonitas ou nem tão feias. Nem menos prendadas. Que conto em estórias e lanço na “nuvem” para não perder a memória da saudade. Já que peixe não se pesca mais com rede, se pescam goolgueiros, tuiteiros e espécimes exóticos, sem risco de extinção. 

Vejo, na saudade das fotos, que amigos compartilham as lembranças do passado. Ou seriam do futuro? No morro, está a paineira frondosa. Ali, meninos comiam pão com salame, amassado na escalada. Laranja roubada, pois refri não havia. Ao lado de amigos, irmãos, primos. Todos crianças, com mães imaginando o papel - rico, pobre, feio ou bonito - que no futuro iriam desempenhar. Será boiadeiro no sítio do pai. Vai ser chanceler e rodar o mundo. Duvida? Vou abrir restaurante no Fundo do Quintal. Serei alfaiate ou jogador de futebol campeão do mundo? Vai é plantar café, minino. E para de sonhar besteira. Será doceira? Vereador? Tem que aprender a mentir primeiro? Que será, será. What ever will be, will be... Todos compartilhando alegrias cuja lembrança é feita de tristeza. Porque o passado passou e o futuro teima em não chegar, nos encarcerando no aqui e agora. Plagiei ou estourei a boca do balão?

Para quem anda na vanguarda, o futuro já se foi, sem nem ter chegado. Mundo da lua, se dizia, até pisarmos nela. O sonho virou passado. É um chip implantado no cérebro para tetraplégico dar o chute inaugural na bola da copa do mundo. Com o Brasil hexacampeão. Ich! Isto é palavrão. Mas o mundo é uma bola e Deus é brasileiro, sem medo de perder para a Argentina em casa. Mas a Paineira resiste. Num passeio da copa de 50 para 2014. Desafia aventureiros desta caminhada ecológica ou tecnológica. Sociológica. Teratológica? Nem sei o que significa. E tou com preguiça de feicebuquear ou wikipediar. Cruz credo, minino. Bate na boca. Treis padinosso, vêmaria.

Ali, entretanto, se plantaram canhões da guerra civil para aguardar e explodir o trem do irmão inimigo, nos trilhos que já se foram estrada afora, por onde viriam invadir nossas várzeas e morros, ameaçando famílias e gado. Dizendo garantir nossa liberdade. Não foi desta vez que nossos heróis precisaram lutar. Novos capitães Paulos, cabos Joaquins, sargentos Cutubas, soldados. Manés que vão levar tiro primeiro ou sobreviver como heróis aguardam e se preparam para desafios maiores.

Olhamos a cruz e mal a vemos, escondida pela velha árvore e novo modernismo. Até porque se tornou o morro das Torres. Deselegante esqueleto eletrônico. Cheio de ferrin e aramin qui num presta pra nada. Dizia o Ênio: Nem prá cercá boiada. Microondas? Algum letrado, vai querer corrigir. São paranoicas? Criadas no INATEL. Por ali nada vejo do passado senão cafezais. Não da ETE mas do Eti, cuja filha administra (aprendeu na FAI) e tem que regar em dia de geada. O pé novo, pois véio se corta e taca fogo. Ali. se desenha, grosseiramente, passado e futuro, num morro só, a nova árvore cibernética. Nossa vocação de progresso que Sinhá, Bilac, meu pai, Alcides, Dom Vaz e tantos outros escreveram, em sonho de desalento, pelo futuro pouco realizado. 

Se fosse a foto a olhar o fotógrafo, e não o contrário, como num universo em transição, poderia se acompa-nhar, ao revés. Paineiras, Paranoicas e Cruzeiro, olhando cá pra baixo. Canhões não, por favor. Porque se colhe o que se planta. Já temos brigas demais. Pelo Plano Diretor, onde vereador sem “fazimento” sonegou planejamento de vida melhor para o povo. Sem imposto de renda. E a cidade padece no serpenteio de vias retas, cercadas por ruas tortas.Umas curtas, outras longas, que o Jonas transformou em poesia cidadã. Delimitadas pelo morro e pelo rio, que na rua da ponte, do queima, dos marques ou da pedra, cercavam o circuito urbano antigo, hoje explodido para a várzea. Os ricos pra trás do cemitério. O meretrício “honesto” saiu do Brejo, libertando escravas da 13 de Maio. O mercado velho sumiu. Os pobres da Rua Nova ficam ricos ou vão para a Cidade Nova. Perto de onde Ursos, nativos e estrangeiros, resolvem confraternizar, ao invés de trocar insultos e patadas. Onde casas novas parecem velhas. Nova Cidade? Que também é Santa, por mais abandonada. Pastos viram exposições ou dão suporte para voos do Paredão. E pouco importa o nome, mas o que vai no coração. E as ruas esburacadas pela política que não cuida do dinheiro público. Diz que não tem. Só cuida de si. Intriga da oposição? Hipocrisia.

Nem sei se falo de Rita, a santa que apanhava do marido, sem ajuda de Maria da Penha. Só Maria de Jesus. E veio Genoveva, fundadora, que fazia promessas para salvar o seu. Prometendo igreja para abrigar Santa. Ou Sinhá, que nem é nome, mas apelido. Esta não podia entrar, pois tinha se separado do marido, apesar de abrigar pobres e ricos. Me dava bala. É o que importa. E não deixava meninos grandes tomarem de mim. Plantou o futuro com as próprias mãos e o deixou a nossos cuidados. Aquela deu nome à cidade. A outra, planta fé. Esta deu esperança. E o futuro? Ainda não nasceu? Ou é só lembrança maltratada em nossas mãos mal preparadas?

Nosso futuro foi inscrito sabiamente por Dr. Arlete como Angulus Ridet. E numa polêmica jornalística com o saudoso Padre, então Arcebispo Vaz, debatíamos a tradução. Ângulo que ri. Chato? Ou canto que ri. Chocho? Era seu entendimento qualificado de latinista, mas não cabia tradução tão seca, literal, do que, na realidade, era poesia. De Horácio. Não o Capistrano, tio torto de minha esposa. O grego. Que cantava odes: Ille quid terrarum mihi praeter omnes angulus ridet. Ou: Aquele cantinho que, mais que todos os ou-tros do mundo, sorri para mim. Louvando a terra natal. Para cada qual, sendo a sua a melhor. Um Recanto Feliz ou Cantinho Sorridente, na tradução que prevaleceu, simbolizando o sonho de consumo de cada um. O sonho de todos, principalmente do casal que busca local tranquilo para criar família e ser feliz. Em torno da fé, amor ou sobrevivência. Romeu e Julieta, Manoel e Genoveva, Zé Abrão e Zarife, Benedito e Estefânia, Maria e José. Cartola e Colombina, Pierrot e Bailarina. Que já não se amam escondidos atrás da igreja, nem em volta da praça, mas na Avenida sem graça. O Presidente que deu nome mandaria voltar. E tantos outros pares. Ou ímpares, de terras perto ou distantes.

Por isso olho a foto do morro, onde turista, andante anônimo ou devoto conhecido, caminha para mais perto do céu azul, onde ecologia e saudade fazem conviverem canhões, paineira, tecnologia e a representação do Deus em quem acreditamos. Cruz, estrela, lua, cajado, yin yang, ou...? Enquanto a luta pelo futuro se desenrola em nossas costas sobrecarregadas. Ou em nossos dedos. Teclando. Tabletando. Em nossas urnas, da Santa que veio da Europa e do TRE feita aqui mesmo. Só votando mal na própria cidade. Afinal, minha terra é feita de morro, brejo, rio, mas, bem ou mal, é feita sobretudo de gente. Daqui e de lá. Que veio para cá para ganhar a vida, ou foi embora para não perdê-la.

OFERECIMENTO: JE VEÍCULOS

3 comentários:

  1. Good sight/show for good... EU...

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  2. muito interessante a explicação... eu q sou curiosa por natureza, principalmente, se tratando de frases latinas... adorei!!!

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  3. Parabéns pelo trabalho de pesquisa... bom dia

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