Quando criamos o Empório de Notícias, lembro de uma passagem que me marcaria para o resto da vida. Era um sábado ensolarado, dia da Santa dos Impossíveis, momento em que milhares de turistas regressavam à terra natal para rever os amigos. Nós montamos uma tenda em frente à igreja, colocamos um banner pendurado aos pés da padroeira e começamos a vender jornais às pessoas que passavam. Em dado momento, um homem foi buscar um exemplar e, quando dissemos que o produto custava 1 Real, ele nos respondeu com desprezo: “Vocês estão vendendo papel?” Nessa hora, percebi que aquela missão não seria tão fácil quanto havia imaginado. Eu não estava diante de um simples cidadão mal educado, mas de uma “cultura” que muitas pessoas carregavam, diante do produto que oferecíamos.
Há poucos minutos, enquanto me despedia do amigo Rubens Carvalho, parei para pensar na importante tarefa desempenhada por ele nos últimos 40 anos e isso me lembrou aquela situação da tenda. Ao relembrar sua carreira à frente do Jornal “O Vale da Eletrônica”, fiquei imaginando como ele conseguiu atuar por tanto tempo com imprensa no interior. Afinal, só mesmo quem passou por isso para entender como é difícil fazer jornalismo em cidade pequena.
Ao criar o “Vale da Eletrônica”, o senhor Rubens tirou o sustento do “papel” e, para isso, necessitou buscar parceiros que viabilizassem sua idéia. Como não são muitas as instituições e empresas que investem em comunicação, imagino como foi sua luta para cativar os parceiros e garantir a venda de espaços, a cada semana.
Por outro lado, como diz a amiga Alicinha Baracat, jornalismo é cachaça. Também imagino como ele deveria ser apaixonado pela comunicação, como devia ficar contente pela participação que tinha na transformação cultural de sua comunidade, e como sua iniciativa transformou - direta ou indiretamente - milhares de pessoas.
Desde os 11 anos eu compro o jornal “O Vale da Eletrônica”. Ainda criança, costumava passar na banca às segundas-feiras para adquirir três ou quatro exemplares que levava para guardar de lembrança. A profissão do senhor Rubens me influenciou ao ponto de eu escolher a minha. E quando nos tornamos colegas de profissão, minha admiração por ele só aumentou e nos tornamos, verdadeiramente, amigos. Nos quase 5 anos de Empório, vivia dizendo a ele que graças ao seu jornal eu poderia me dar ao luxo de não relatar os fatos. Eu podia voltar ao tempo, postar crônicas, brincar com as letras e fazer um veículo sem pretenção de apresentar os fatos. Com sua partida, Santa Rita acaba de ficar órfã do homem que registrou 4 décadas de sua história e ajudou a criar uma identidade ao município.
(Por Carlos Romero)
Oferecimento:
Que as informações encontradas por ele em seu caminho espiritual sejam todas alvissareiras...Bom Santarritense...
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