sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O saudoso amigo Adirson Ribeiro desvendou as origens de Santa Rita do sapucaí

A visita

No dia 21 de novembro de 2009, sábado, recebemos a visita do amigo Adirson Ribeiro que nos surpreendeu com a notícia de que havia terminado a tão esperada obra “Santa Rita do Sapucaí. Sua história revisitada”. Mesmo sem ter conseguido patrocínio para produzir o livro, o históriador encadernou alguns exemplares e nos presenteou com uma pesquisa de inestimável valor. A cada página, constatamos uma nova revelação sobre as origens de nossa cidade. Através de documentos colhidos em diversos locais da região, Adirson traçou as diretrizes de nossa fundação de uma forma nunca feita antes. Um verdadeiro achado para a cultura santarritense.

A seguir, apresentamos algumas linhas retiradas deste importante livro. Prepare-se para se transportar a um tempo em que Santa Rita do Sapucaí ainda nem pensava em existir. Viaje nessas linhas que nos transportam às origens de nosso povo.

A doação

A fazenda mais próxima do local onde seria, por vontade do casal português, construída a capela de Santa Rita era do Capitão Braz Fernandes Ribas, denominada Água Limpa do Vintém e situada no “Vintém do meio”. Hoje, parte do local é ocupado pelo “Pesqueiro Tô a toa”. É comprovado que havia nessa fazenda uma capela com pia batismal e um oratório com uma imagem religiosa que, acredita-se, seja a Santa Rita primitiva que está em nossa Matriz.

Os pioneiros

Quando isto tudo ainda era sertão, os padres vindos de Santa Catarina - hoje Natércia – ou de Campanha, hospedavam-se ali ou em outras fazendas da região munidas com oratórios, onde aconteciam os casamentos, batizados e outros ofícios religiosos.

Durante uma visita à Fazenda Água Limpa do Vintém, de propriedade do Capitão Braz Fernandes, Manoel José da Fonseca e sua mulher Genoveva Maria Martins contaram sobre a doença de Manoel, de sua cura e da vontade de doarem terras em agradecimento a Santa Rita de Cássia, de quem eram devotos. O casal de portugueses não morava por aqui, como muitos contam. Eles estavam de passagem.

A carta de doação

Não há dúvidas de que, para esta decisão importantíssima do casal, tenham participado decisivamente os senhores Capitão Braz Fernandes Ribas, Capitão de Ordenanças Manoel Joaquim Pereira e o Alferes José Vieira da Fonseca que, naquele momento, havia fixado residência na vizinha “Freguezia do Senhor Bom Jesus de Pouso Alegre”, vulgarmente chamada de “Mandu”.

Aproveitando a permanência de Manoel por estas bandas, combinaram, então, em comum acordo, de marcar uma data para a importante doação, convidando a estar presentes várias personalidades do lugar, quase todos proprietários rurais, no dia 2 de maio de 1821.

Através da análise de documentos da época, o historiador Adirson Ribeiro relatou que a área doada pelo casal Português começava na Barra do Ribeirão do Mosquito, onde hoje encontra-se o prédio do Banco do Brasil, e havia um rancho para tropeiros viajantes, apelidado de “Rancho do Mosquito”. Há quem diga ter sido ali a residência do casal de Portugueses. O terreno ultrapassava o Rio Sapucaí, até a Avenida Francisco Andrade Ribeiro, à altura do número 589 onde havia uma porteira que dava acesso à grande Fazenda Pouso D’Antas, do Alferes Antônio Manoel da Palma e seus familiares. As terras também desciam o leito antigo da ferrovia, até a serrinha, avançavam novamente sobre o Rio Sapucaí, enveredavam por grande várzea alagadiça (Fernandes) até chegar à encruzilhada com Jerônimo José. De lá, seguia pela “Rua da Pedra” afora até a E.E. Dr. Delfim Moreira, donde retornava ao ponto de partida (Banco do Brasil).

As personalidades

Adirson também faz um relato sobre a biografia das principais personalidades presentes no ato da doação. Através de uma análise profunda dos documentos de época, o escritor traçou um perfil detalhado de nossos primeiros colonos. Veja algumas informações interessantes que encontramos em seu livro:

Capitão Braz Fernandes Ribas

Nascido em 1774, era proprietário da Fazenda Água Limpa do Vintém, localizada às margens do Ribeirão que lhe deu o nome. Foi sepultado aos 74 anos, dentro da Igreja de Santa Rita que ajudara a construir. Em uma conversa informal, Adirson nos contou que a base da primeira igreja ainda existe debaixo da Matriz e que foi vista pela última vez por ocasião de sua reforma. Durante tais escavações, ele também afirma que viu os ossos dos primeiros colonos serem retirados da igreja e depositados no ossário do cemitério municipal.

Ribas foi um dos que assinaram como testemunha o documento de doação das terras pelo casal português. Talvez, em sua memória, tenha sido conservado o nome do lugar “Santa Rita do Vintém”, até por volta de 1850, pois foi na sua fazenda que tudo começou.

Alferes Antônio Manoel da Palma

Integrou o “casal tronco” da família Palma em Santa Rita do Sapucaí. Faleceu no dia 6 de julho de 1863 e foi sepultado dentro da igreja. Adirson nos contou que os habitantes mais importantes foram sepultados dentro da igreja e que os demais foram sepultados em um cemitério que se localizava onde hoje está o Restaurante “Na Lenha”.

O Alferes era o proprietário da Fazenda Pouso D’Antas. Afirma-se que, de sua fazenda, podem ter sido retiradas as pedras para a construção das antigas casas da praça e também da primeira igreja.

Alferes José Vieira da Fonseca

Nascido em 1797, era natural de Pouso Alto. O Alferes é considerado pelo historiador Adirson como o artífice da construção de Santa Rita do Sapucaí e de Santa Rita do Passa Quatro.

Capitão de Ordenanças Manoel Joaquim Pereira

Abastado senhor de tropas, comercializava entre o Rio de Janeiro e o Sul de Minas. Era fazendeiro na região do Córrego Piedade, ao sopé da Serra de Santa Rita, divisa com São Sebastião da Bela Vista. Comprou muitas terras por aqui. Algumas encontram-se, ainda hoje, nas mãos de seus descendentes. Faleceu no dia 9 de fevereiro de 1851 e também foi sepultado no interior da Capela de Santa Rita.

Manoel João Pereira de Lima

Membro da família Pereira, foi solicitado pelo casal português a redigir o documento da doação das terras denominadas “Mosquito”. Também assinou como testemunha. Era vizinho de terras do Capitão Braz Fernandes Ribas.

Tenente José Joaquim Ribeiro do Valle

Trisavô do historiador Adirson, nasceu em 1782 e faleceu em 1840. Era possuidor de grandes extensões de terras que seguiam à direita do Rio Sapucaí, iam de Santa Rita a Pouso Alegre, dobrando a serra em direção aos bairros “Furnas”, “Perobas” e adjacências.

Manoel José da Fonseca e Genoveva Maria Martins

O historiador Adirson afirmou que pesquisou muito sobre que o casal português, mas que não conseguiu muitos elementos. Segundo seus levantamentos, eles não moraram nesta “Freguezia” e, se o fizeram, estiveram aqui por muito pouco tempo. Segundo constatou, os portugueses viviam na cidade de Pouso Alto, tinham vários parentes por essas paragens e eram donos de uma gleba de terras que consistia de “uma colina cercada de pântanos, de baixo valor”.

A Capela

A capela de Santa Rita não foi erigida pela viúva Genoveva Maria Martins como dizem alguns historiadores, mas, sim, pelos procuradores da “Senhora Santa Rita” e pelos moradores do arraial sob a administração de Braz Fernandes Ribas, de seu vizinho e amigo Capitão Manoel Joaquim Pereira e do Capitão Feliciano José Pereira de Souza.

O primeiro cemitério

Quase todos os cidadãos presentes no ato da doação foram sepultados dentro da capela de Santa Rita, conforme livro de óbitos de nossa igreja. Veja o trecho do documento que comprova esta afirmação: “Aos 22 de maio de 1848, dentro da igreja, do arco para baixo, foi sepultado o capitão Braz Fernandes Ribas, morador do vintém, com 74 anos de idade. Morreu hidrófobo, envolto em pano preto.” Vale ressaltar que não existe documento algum que comprove que o casal português foi enterrado junto com os demais. Isso leva a crer que eles não foram sepultados aqui.

A primeira missa

Segundo afirmou o Monsenhor José Carneiro Pinto, em um trabalho feito pelo Cônego Aristides de Oliveira, “a primeira missa da cidade foi realizada no dia 22 de maio de 1825, na capela de Santa Rita, pelo Padre Mariano Accioli de Albuquerque”.

Um trabalho que precisa ser reverenciado

Este é um pequeno resumo do importante trabalho realizado por Adirson Ribeiro. Em sua obra existem muito mais informações relevantes e que precisam ser divulgadas para a manutenção da história de nosso município. Esperamos que tais informações possam despertar o interesse público, a fim de que seu trabalho possa ser produzido e divulgado em benefício das futuras gerações. Ao autor, nossos parabéns pelo grande esforço que empreendeu e a gratidão por nos oferecer elementos tão relevantes para o levantamento de nossas origens.
(Carlos Romero Carneiro)

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