quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O exemplo de vida da empresária Lucimara Gonçalves

Com quantos anos você começou a trabalhar?

Meu primeiro trabalho foi na Real, como aprendiz de luveiro. Naquela época, você podia assinar carteira com quatorze anos, mas eu comecei sem carteira assinada, aos treze. Ganhava meio salário para trabalhar das 7 da manhã às 5 e meia da tarde. Eu fiquei lá por três anos e oito meses, até que a empresa começou a sofrer uma queda na produção. Naquela época, era muito difícil conseguir serviço na cidade e eu precisei me mudar pra São Paulo para ajudar minha mãe em casa.

Você conseguiu trabalho na capital Paulista?

Consegui. Fui recebida com muito carinho por minha tia e primas, por quem sou grata até hoje. Trabalhei no comércio em serviços financeiros e pizzaria, decidi voltar por que estava preocupada com minha mãe. Quando cheguei a Santa Rita fui contratada pela MCM – sem qualquer experiência - como auxiliar de montagem. Foi o Marinho quem me indicou para o serviço e com quem aprendi a trabalhar com eletrônica. Sou grata ao João Marcos Franco pela oportunidade, até então, eu só tinha trabalhado com luvas e comércio. Depois de quase quatro anos, a TDA chegou à cidade e começou a contratar uma grande quantidade de profissionais. Foi aí que eu mudei de empresa e conheci minha sócia a Eliane.

E o salário era bom?

Para conseguir pagar as contas era preciso complementar a renda. Em outras palavras, fazer o famoso bico. Foi aí que Eliane e eu conversamos: “Acho melhor fazermos algo diferente para ganhar um dinheirinho a mais.” Nós ficamos imaginando como agregar um pouco mais ao salário e pensamos em várias coisas: comprar roupas em São Paulo, vender salgado... Na verdade, nós não tínhamos ideia do que fazer. A única coisa que sabia era que eu precisava ajudar minha família e ela a dela. Eu era a irmã mais velha e ela estava com problemas de saúde. Era aquela luta.

E qual foi a saída que você encontrou?

Entre 98 e 99, virou uma febre pegar plaquinhas nas empresas e levar pra soldar em casa. Todo mundo fazia isso e decidimos tentar também. Depois do expediente, nós batíamos na porta das empresas e pedíamos serviço. Quem nos deu o primeiro lote foi a Eletrovale. Saíamos às cinco e meia da empresa e corríamos pra casa para montar plaquinhas. Depois de algum tempo, começamos a ter uma grande quantidade de serviço, porque a TDA começou a pedir hora extra. Então nós trabalhávamos das sete da manhã às oito da noite na TDA e depois ficávamos até uma hora da manhã soldando componentes em casa.

E como vocês davam conta?

Coincidiu o lote que pegamos com a hora extra da firma, mas tinha que fazer o serviço. Precisávamos soldar soldar 400 transmissores e 120 sensores e, para isso, a mãe e o pai de Eliana nos ajudavam. A Dona Cecília (Avó da Eliana) também trabalhava conosco. Eles passavam o dia montando os componentes e, de noite, a gente só chegava pra soldar.

A experiência valeu a pena?

Foi muito gratificante pra nós. O senhor Geraldo Taxista (pai da Eliana) Dona Isaura (mãe da Eliana) e dona Cecília (avó da Eliane) me disseram uma vez que este projeto não permitiu a eles viver em vão. Era bonito ver o capricho com que eles embalavam os produtos.

Você continuou nesse pique?

No momento seguinte, a TDA fechou-se e eu e a Eliana começamos a trabalhar das seis da manhã às duas da tarde na Metagal que, na época, tinha apenas 18 funcionários. Nós precisamos abrir mão do seguro desemprego, mas ainda assim foi uma maravilha: nós estávamos registradas e ainda tínhamos o resto do dia inteiro para soldar plaquinhas. Um dia, fui pedir trabalho na JFL e o Fernando ficou satisfeito por eu saber separar os lotes. Ele gostou tanto do meu trabalho que até pediu para que eu ficasse na empresa e eu aceitei.

Você ficou na JFL por quanto tempo?

Um ano e oito meses. Eu trabalhava dentro da empresa separando os lotes e depois soldava plaqui-nhas em casa. Quando a demanda começou a aumentar muito eu não estava mais conseguindo fazer os dois. Nós tínhamos três pessoas de idade avançada trabalhando em uma bancada improvisada e não queríamos sobrecarregá-los. Foi aí que eu contratei uma pessoa e tirei uma grande parte do trabalho deles. A brincadeira tinha começado a ficar séria.

E você aguentou essa rotina?

Chegou uma hora que eu falei para o Fernando: “Eu não sabia que iria chegar a esse ponto, mas eu não estou aguentando trabalhar aqui e depois em casa até uma hora da manhã. Quando eu saí, a JFL continuou me apoiando. Nós, então, registramos firma, contratamos os primeiros funcionários, compramos nossa primeira máquina e chegamos a ter 50 funcionários.

Atualmente você tem quantos colaboradores?

Hoje, com 13 anos de empresa, estamos com 36 funcionários.

Qual é o maior desafio da L.E. Eletrônica hoje?

Precisamos de uma sede própria para aumentar a quantidade de funcionários. Depois disso, desejamos patentear algum produto. Faz oito anos que eu luto por um barracão. Não conseguimos construir até hoje, mas estamos juntando algum dinheiro.

O que tem acontecido?

Nos idos do ano de 2001, fui contemplada com a doação de área de terreno (498 metros quadrados), sendo que tinha, no total, 18 (dezoito) meses para início e término da construção. Na época precisei tomar uma decisão: comprar uma máquina de solda ou continuar atendendo meu cliente majoritário, com a solda estática. Então, o que faria? Construiria? Compraria a Máquina de Solda? Optei pela Máquina! Era uma questão de sobrevivência. Não apenas a minha, mas a de 18 (dezoito) funcionários e famílias que trabalhavam comigo. Em 2001, não consegui dar seqüência na obra porque fiz o investimento na máquina de solda e devolvi, ainda que verbalmente, o terreno à Prefeitura. 

Em 2004, voltei com a solicitação do terreno e, novamente, fui contemplada com aprovação da Câmara dos Vereadores. Porém, a promulgação da Lei de Doação nem chegou a sair. Por quê? Porque, em seguida, descobri uma grave e terrível enfermidade. Um tumor cerebral de grande proporção, cuja marca ainda se percebe-se facilmente em minha cabeça. Pronto... Era outra vez a luta, não apenas o trabalho, mas também  pela própria vida, manter-me viva. Era uma questão, literalmente, de vida ou morte e o Deus Todo-Poderoso em quem creio optou pela vida. ELE fez isso usando, como também creio, os meios ordinários, isto é: os médicos, no meu caso, o Dr. Vander, neurocirurgião... Não foi de graça, embora tenha sido uma Graça...  Para não morrer fui submetida a uma cirurgia de quase 11 horas. Claro! Por não ser feita em Santa Rita, tive que ir para Pouso Alegre, e, precisei arcar com todas as despesas médicas e cirúrgicas. Fiquei sabendo que minha vida estava avaliada em R$ 18.000,00 (dezoito mil reais). É óbvio que eu não tinha os recursos... Como fiz? Na época (2004), a JFL emprestou todo o dinheiro, e, até hoje, e, para sempre serei grata...

Conclusão: Não pude nem pensar em construir, naquele tempo precisa me reconstruir. Não foi fácil, mas pela Graça de Deus, foi possível, estou viva e com alegria trabalho todos os dias as horas que forem necessárias na empresa que, hoje, tem 36 (trinta e seis) funcionários, famílias... Então retornei à Prefeitura em 2005 e fiz a devolução do terreno, outra vez, verbalmente, mas o fiz, e sempre com muita segurança em minha consciência de fazer as coisas corretamente.

Os anos se passaram, e, pensei: o Aluguel está cada vez mais caro em nossa cidade. Então, voltei à Prefeitura no ano de 2009 e pedi o terreno novamente e, mais uma vez, fui contemplada com a aprovação da Câmara dos vereadores com o mesmo terreno. Procurei várias formas de financiamento. Queria, desejava e precisava da obra do barracão para crescer, mas não tive sucesso. O Banco justificou que era por causa de tal artigo... Com a disposição e aprovação da Câmara dos Vereadores, a Prefeitura manteve todas as demais condições estabelecidas pela Lei Municipal 2001m juntamente com uma prorrogação do prazo de construção. Mesmo assim, com toda documentação da empresa e prefeitura em dia, ainda não obtivemos uma linha de financiamento.

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