terça-feira, 8 de novembro de 2011

As obras de Armando Domingues

Armando Domingues Ramos nasceu em Santa Rita do Sapucaí e passou boa parte de sua vida na Rua do Queima. Filho de portugueses, foi com sua família que herdou os conhecimentos para trabalhar com dinamites. Sempre que algum santarritense precisava realizar algum projeto utilizando pedras, Seu Armando era requisitado e chegou até mesmo a realizar trabalhos no estado de São Paulo, além de todo o interior de Minas.
Armando, sua esposa e filhos.
Mariângela, filha de Armando, lembra que em sua casa existia um quarto onde eram guardadas bana-nas de dinamite, rolos de estopim e outras ferramentas para desbastar a pedra bruta. Certa vez, ainda muito menina, perguntou ao pai como ele fazia para “plantar” pedras e seu pai brincou: “É preciso colocá-la sob a terra e regar todos os dias.” E a garotinha o fez... Hoje, a casa da professora de Inglês que chegou a viver 38 anos em Chicago é repleta de pedrinhas semipreciosas e possui, em sua sala, uma arvorezinha de folhas de quartzo, feita em artesanato. Tudo para lembrar o pai, a quem era tão apegada.

Magno, outro filho de Armando, lembra que boa parte do calçamento da cidade foi feita pelos dois. Como era dono de uma fábrica de paralelepípedos, foram seu pai e seu tio os responsáveis pelo primeiro calçamento da Avenida Delfim Moreira.
Armando no dia da inauguração da Gruta Nossa Senhora de Lourdes.
Outra obra feita por Armando e que poucas pessoas conhecem é a gruta existente na pracinha da cadeia (Praça Delfim Moreira Júnior). A pedido do senhor Pedro Carletti, que custeou a obra, o construtor cortou algumas rochas nas redondezas de Santa Rita e erigiu aquele local de oração que resiste ao tempo. Pouco tempo depois, outro projeto, naquele mesmo local, seria empreendido pelo contrutor: a modificação do morro que dava acesso ao esguicho e a ampliação do muro de pedra que leva ao Colégio Tecnológico Delfim Moreira.

Sinhá Moreira, outra grande benfeitora local, também requisitou os trabalhos de Armando Domingues e talvez tenha dado a ele a chance de empreender um de seus projetos mais bonitos: a gruta Nossa Senhora de Lourdes (Vista Alegre). Mariângela conta que a gruta maior foi pedido de Sinhá, mas que a menor seu pai fez por conta própria. Na foto oficial, é possível reconhecer sua esposa e os filhos.

Sempre viajando para as mais diversas cidades da região, erguendo muros, realizando calçamentos e cortando rocha para abrir estradas, um dos momentos mais marcantes da carreira de Domingues foi quando precisou explodir uma pedreira em uma fazenda e teve uma grave notícia. O dinamite já se encontrava “nas veias” da pedra e o estopim já havia sido aceso, mas ele soube que, impossibilitada de andar, uma senhora de idade não tinha obedecido às ordens do dono da fazenda que pediu a todos que saíssem de casa no momento da explosão. Ao tomar conhecimento de que a residência ficava a poucos metros do local, Armando correu até lá, pegou a senhora no colo e correu. Naquele momento, uma rocha gigante caiu bem em cima da cama. Foi por pouco.
Armando e seus familiares.
O último trabalho de Armando e seu filho prometia ser o mais belo de todos. A pedido do senhor Amauri Capistrano, ele faria enormes arcos em pedra, inspirados em uma construção espanhola. Uma boa parte do trabalho já estava pronta quando Magno disse ter ouvido um barulho estranho entre as rochas superpostas. No momento em que o construtor foi verificar o que estava ocorrendo, as rochas desmoronaram sobre os dois. O menino sofreu diversas fraturas, ficou muito tempo sob as rochas, mas sobreviveu. Armando foi atingido por uma única pedra, mas o golpe foi fatal.

Durante o velório do construtor, suas filhas notaram que o cãozinho de Armando não saía de baixo do caixão. Algumas pessoas ainda tentaram retirá-lo dali, mas Dona Benedita - esposa de Armando - preferiu deixá-lo, porque era o seu xodó. Na subida da ladeira que dá acesso ao cemitério, feita pelo próprio Armando utilizando uma técnica de calçamento conhecida como “pé-de-moleque” - por suas pedras superpostas - o cãozinho continuou a acompanhar o cortejo e o seguiu até o sepultamento. Somente depois de algum tempo foi que a esposa de Armando deu falta do animalzinho e decidiu procurá-lo. Foi encontrado morto ao lado do túmulo.

Hospitalizado, Magno conta que só soube do passamento do pai quando ouviu os sinos da igreja. Impossibilitado de dar o último adeus, o rapaz apenas perguntou para uma enfermeira: “É ele, né?” Já a filha, mariângela, que na época morava nos Estados Unidos, só soube do acontecido um mês depois, quando chegou uma correspondência de sua família. Ela lembra que aquele havia sido um dia muito difícil também por lá: seu filho também havia caído e fraturado o braço.
Poucas pessoas sabem, mas a gruta da pracinha da cadeia foi construída por Armando e seu filho Magno.
Hoje, quando caminhamos pornossas ruas estreitas, talvez não saibamos que estamos diante das obras desse grande homem que tanto fez por nossa cidade. Ao passarmos por caminhos de pedra, ou por imponentes muros feitos para resistir ao tempo, possivelmente não tenhamos noção de que aquela obra foi empreendida por alguém que muito amou Santa Rita. Por isso, reverenciamos, hoje, a memória do estimado construtor. 

(Dedicado aos filhos de Armando: Nazareth, Sandra, Lázara, Mariângela e Magno.)

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Um comentário:

  1. É com muita alegria que leio essa materia.Obrigada Carlos Romero.Nós somos previlegiados por ter tido pais tão importante.Nazareth

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