segunda-feira, 30 de maio de 2011

Quando as as águas do Sapucaí banhavam o Catete

DELFIM MOREIRA - PRESIDENTE DE MINAS GERAIS E DA REPÚBLICA; 2- JÚLIO BUENO BRANDÃO- PRESIDENTE DE MINAS GERAIS;  3- FRANCISCO BRESSANE- DEPUTADO FEDERAL;  4- PINHEIRO JUNQUEIRA - DEPUTADO FEDERAL;  5- WENCESLAU BRAZ - PRESIDENTE DE MINAS GERAIS E DA REPÚBLICA;  6- BENJAMIN MACEDO - DEPUTADO FEDERAL
Um pescador na presidência

Neste mês, tivemos acesso a uma obra de Darcy Bessone, intitulada “Wenceslau – um pescador na presidência” que conta a trajetória de um presidente brasileiro que esteve muito presente em Santa Rita do Sapucaí, entre a virada do século XIX e o início do século XX. Wenceslau Brás, nascido em Itajubá, sempre teve uma forte proximidade com Delfim Moreira, morador de nossa cidade. Muito amigos, os dois grandes políticos mineiros estiveram juntos, desde os tempos de faculdade - no largo de São Francisco - até a presidência da República, cargo exercido por ambos. “Wenceslau se matriculou, em 1886, na Faculdade de Direito da cidade de São Paulo, bacharelando-se em 1890, juntamente com seu primo Delfim Moreira da Costa Ribeiro, que o sucederia, mais tarde, na Presidência da República. As notas do itajubense variavam entre ‘simplesmente’ e ‘plenamente’ e não o qualificavam como um estudante distinto. Ainda hoje, na fa-culdade, existe uma carteira escolar com o nome de Wenceslau e mais dois futuros presidentes – Delfim e Washington Luiz – gravados a canivete. Fato este que indica que o zelo dos estadistas pela coisa pública ainda não era dos mais intensos. Aliás, o próprio governante chegaria a dizer, mais tarde, que era um estudante ‘levado da breca’ e que abusou da mocidade”.

A República da Bucha

Como todos os presidentes civis da chamada República Velha - com exceção de Epitácio Pessoa - Wenceslau Braz e Delfim Moreira também fi-zeram parte da lendária Bucha – uma sociedade secreta criada na Faculdade de Direito. Segundo contam os estudiosos do assunto, seu fundador foi Julius Frank, professor de História e Geografia no Curso Anexo da Academia de Direito, onde trabalhou de 1834 até seu falecimento. Nos anos seguintes, esse grupo formado exclusivamente por alunos daquela instituição ocuparia os mais altos cargos da vida pública brasileira. Quem não foi presidente ou governador acabou se tornando um importante ministro ou secretário dos antigos colegas. Tamanha era a influência invisível da Bucha na história do Brasil que ainda hoje existe, no pátio da faculdade, a tumba onde o professor foi sepultado. Tal honraria jamais seria repetida com outro mestre. Esse período, que teve início em 1889 e se estendeu até 1930, ficaria marcado como “República Maçônica” ou “República da Bucha”. Dizem que o último go-vernante brasileiro, membro deste grupo, teria sido Jânio Quadros.
FOTO TIRADA NO GABINETE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, WENCESLAU BRAZ PEREIRA GOMES, NO MOMENTO DA ASSINATURA DO DECRETO QUE REVOGOU A NEUTRALIDADE BRASILEIRA NA I GUERRA. À DIREITA DELE, O MINISTRO DO EXTERIOR, NILO PEÇANHA, DELFIM MOREIRA, PRESIDENTE DE MINAS GERAIS E ARTHUR BERNARDES, DEPUTADO FEDERAL;  À ESQUERDA, O VICE-PRESIDENTE URBANO SANTOS.
Quando o Brasil vivia de Café com Leite

Em outro trecho da obra de Bessone, é possível constatar como eram realizadas as sucessões presidenciais no país à base do “café com leite”. Ao terminar seu mandato como presidente, Wenceslau articulou uma chapa em que um paulista era indicado como o próximo candidato: “Teve, contudo, o chefe da nação (Braz) mais sagacidade do que Afonso Pena. Não tentou situar, na cabeça de chapa, um mineiro para conquistar uma terceira presidência montanhesa. Ali colocou um paulista, com a tradição de uma gestão singularmente realizadora, que iria, no novo período, encontrar as finanças todas em ordem. No entanto, Rodrigues Alves era um septuagenário, sem boa saúde. Não fazia mal que se pusesse ao seu lado o mineiro Delfim Moreira, apenas cinquentão, para obter um bom café com leite.” Continuando o texto, notamos que a articulação do itajubense deu certo: “Não houve oposição e os dois se elegeram. Rodrigues Alves, velho e enfermo, não pôde tomar posse e coube ao primo Delfim, receber o poder das mãos de Wenceslau. E as águas do Sapucaí continuavam a banhar o Catete”.
TÚMULO DE JULIUS FRANK.
 O retorno ao Vale do Sapucaí

Talvez um dos pontos mais interessantes desta importante obra sobre a vida de Wenceslau seja a tentativa de mostrar que, tanto ele quanto Delfim Moreira, mesmo ocupando o mais alto cargo público do Brasil, não deixaram de lado o estilo de vida de nossos conterrâneos. Nas linhas que seguem, o itajubense deixa o cargo e volta para sua terra natal, onde encontra um antigo companheiro de pesca: “Wenceslau já não é presidente. Está saudoso do seu velho amigo, o repousante Rio Sapucaí. Sabe que Messias, tranquilo companheiro de pescarias, não se impacienta. Fica à sua espera, na beira do rio, dando-lhe tempo de arrumar o Brasil. Agora, um outro barranqueiro, o Delfim, ali de Santa Rita, estaria no leme. Sendo assim, tudo correria bem. Não havia razões para maiores cuidados.

(Carlos Romero Carneiro)

Um comentário:

  1. Prezados,
    Apenas uma pequena correção na identificação de uma das pessoas da primeira foto do post (4- PINHEIRO JUNQUEIRA - DEPUTADO FEDERAL). Ele, na verdade, é RIBEIRO JUNQUEIRA. Creio que a letra identificando os personagens talvez tenha levado ao engano na leitura.
    Atenciosamente,
    Rafael Botelho

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