quarta-feira, 27 de abril de 2011

Martiniano Ribeiro - Uma existência a serviço da caridade

Quando, no dia 7 de abril de 1893, nascia no bairro Pouso do Campo o filho de José Ribeiro do Vale e Rita de Cássia, mal sabiam eles que aquela criança se tornaria um referencial de caridade e amor em Santa Rita do Sapucaí. Através das obras de Martiniano Ribeiro – centenas - milhares de pessoas, foram consoladas e encontraram amparo material e espiritual nas horas mais difíceis. A cada pequeno gesto, aquele bom homem fazia de sua existência um sinônimo de humildade e amor ao próximo. Em cada palavra, oferecia o consolo que acalentava o coração dos irmãos mais necessitados.
Martiniano (ao centro) atende os necessitados à porta da sede dos Vicentinos.
A busca pelo conhecimento

Na juventude, Martiniano estudou em uma Escola Rural do bairro, mas adquiriu um imenso conhecimento por conta própria, no decorrer da vida. Por sua grande habilidade com números e seu caráter incontestável, logo passou a trabalhar em uma das mais afamadas casas comerciais de Santa Rita, a “A. de Cássia e Cia”, como guarda-livros. Naquele tempo era esse o nome do profissional responsável pelas contas de um estabelecimento.

A homeopatia

Sem perder o interesse pelo aprendizado, entre um documento e outro, Martiniano passou a se interessar pela homeopatia - uma técnica baseada na cura através de elementos que provocam os mesmos sintomas da enfermidade, mas em pequenas doses. Desde então, através desta ciência difundida 100 anos antes do seu nascimento, Martiniano tornou-se o primeiro homeopata da cidade e passou a fornecer remédios a muitos santarritenses que apostavam na medicina alternativa como forma de reduzir suas dores. Sempre que o procuravam, os pacientes eram cuidadosamente examinados. Ao avaliar os sintomas com a ajuda de um “Tratado de Homeopatia”, Martiniano lhes entregava os frascos com conta-gotas, utilizados para dosar a medicação.
A prática da caridade

À medida em que tomava conhecimento das necessidades dos despossuídos, aumentava também sua vontade de interceder por eles. O caminho natural foi a participação em um dos mais belos projetos humanitários do país: a Sociedade São Vicente de Paulo. Dentro dela, Martiniano fundou e se tornou o primeiro presidente de um grupo conhecido como “Conferência de São José”, no dia 25 de dezembro de 1934. Através dessa iniciativa, inúmeras famílias recebiam alimentação, remédios e amparo espiritual. Como a quantidade de atendidos era imensa, o guarda-livros colocava mesa e cadeira para fora da sede dos Vicentinos e atendia os necessitados “um a um”. Ninguém saía de lá sem uma bela palavra. Em momento algum, Martiniano perdia a oportunidade de ser útil.

Uma lição ao filho

Adirson Ribeiro, filho de Martiniano, conta que, certa vez, ao passar em frente ao necrotério, foi chamado pelo pai para ajudar em uma das tantas obras de caridade que empreendeu. Naquele dia, uma de suas assistidas havia falecido e não havia ninguém para levá-la ao cemitério.
Martiniano leva Cyro, Rubens e Hélio de Luna para o Colégio em Lorena.
Adirson, então com 15 anos, ainda lembra do esforço do pai para encontrar ajudantes e carregar o corpo. Como naquele tempo os caixões eram de lata, reutilizáveis, ao chegar ao jazigo a mulher foi retirada, envolta por um lençol. Juntos, pai e filho desceram a falecida ao sepulcro - lição para Adirson, rotina para Martiniano.

O grande escritor “Cyro de Luna Dias”, em sua obra “Crônica das Casas Demolidas”, conta como era Martiniano:

“Martiniano Ribeiro, Juiz de Paz da Comarca, nunca foi um homem de posses, mas nada foi feito em Santa Rita a favor dos pobres que ele não tivesse ajudado. A conferência de São Vicente, mão amorosa da sociedade, aplacando o sofrimento dos desventurados, teve nele um criador discreto e incansável. Santa Casa, Hospital e Asilo dos velhos também encontraram fartos doadores entre os ricos da cidade, mas coube a Martiniano o trabalho humilde e essencial de ligação entre o dinheiro e a parede da obra, a legalização com as autoridades públicas e o recolhimento de doações populares. Tudo gratuitamente, sem outra recompensa se não o carinho do povo santarritense. Poucas pessoas conheci que tivessem se entregado tanto à obra evangélica da caridade quanto ele.”
(Carlos Romero Carneiro)

Baseado nos depoimentos do Dr. Eduardo Adami Ribeiro e de Adirson Ribeiro a quem agradecemos muito.

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