sexta-feira, 22 de abril de 2011

O Professor João de Camargo (Por Floriano de Lemos)

Formando do IMEE em 1916. Clique na imagem para ampliar.
Em Teresópolis mora um estranho homem. Eremita? Encarnação de algum asceta antigo? Não. Chama-se João de Camargo. Foi um grande professor. Agora, dá aos discípulos a maior das lições: apesar de cego, segue amando perdidamente a vida.

Eu o conheci há 40 anos, em Alfenas. Era o diretor de um Grupo Escolar. E como esse educandário do interior do Brasil, era diferente dos demais! Em um tempo em que as crianças iam para a escola descalças, todas elas prestavam homenagem sincera à Bandeira Nacional, antes de entrar na classe. Os pais, quase todos lavradores, muitos analfabetos, não gostavam do Grupo; mas os filhos fugiam de casa e do trabalho doméstico para conquistar, com tal desobediência, os seus direitos de redenção do espírito.

Tudo isso era obra do Mestre, que sabia prender a criançada com uma palavra sonora e bela. Ainda ele, com a benemérita mulher que escolheu para companheira na ingente tarefa, conseguiu montar um ateliê de costura na sua escola, para que todos os alunos tivessem um uniforme. Dinheiro para isso? Nada mais fácil: Madame Camargo e o marido andavam de fazenda em fazenda e de loja em loja, angariando donativos.

Pouco tempo depois, Santa Rita do Sapucaí chamava João de Camargo para fundar o Instituto Moderno de Educação, que deu origem ao Ensino Agrícola e à Escola Normal. A cidade se transformou como num conto de fadas e trouxe prosperidade e riqueza ao Comércio, à industria e às diversas modalidades de trabalho. A lavoura e a pecuária foram também muito beneficiadas. Nossas terras tiveram centuplicado o seu valor.

Depois dessa vitória, João de Camargo foi para o Rio de Janeiro. Fundou a “Escola Brasileira”, a princípio no bairro de São Cristóvão e a seguir em Paquetá. O mesmo mestre de sempre. O mesmo poeta. O mesmo patriota. O pai de cada aluno. O protetor de cada estudante.

Da “Escola Brasileira” de João de Camargo, saíram, como já havia acontecido em Minas, inúmeros espíritos brilhantes que hoje ocupam posição destacada na sociedade, em todas as classes e profissões: médicos, engenheiros, advogados, militares, políticos ilustres, jornalistas e professores. A “Escola Brasileira” criou as primeiras colônias de férias bem organizadas que existiram no Brasil. Dali surgiu a ideia das Escolas de Revezamento e de Saúde e Educação Integral da Infância.

Hoje, quando os turistas de Teresópolis o veem, pensam que é apenas um pobre cego. Mal sabem que ali está um grande Construtor, integrando com o seu espírito luminoso as mentes mais promissoras de nosso país.

(Correio do Sul - 15/04/1951)

3 comentários:

  1. por favor, sou afilhada do professor joao de camargo e gostaria de receber material sobre meu padrinho. inclusive fotos. obrigada MARLETE

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  2. Eliane Camargo de Albuquerque de Carvalho9 de outubro de 2012 às 02:39

    Sou bisneta do Professor João de Camargo. Nasci em 1955. Cheguei a conhecê-lo, já idoso, cego... mas com alegria de passar conhecimento, de ensinar. Nos ensinava suas poesias e canções. Me totnei professora. Atualmente, sou aposentada, mas tenho saudades da sala de aula. E meu bisavô sempre foi para mim exemplo e inspiração. Parabéns ao blog pela bela poatagem.

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  3. Eliane Camargo de Albuquerque de Carvalho9 de outubro de 2012 às 02:56

    Sou bisneta do professor João de Camargo. Nasci em 1955. O conheci já idoso e cego, mas com muita alegria de transmitir conhecimento, de ensinar. Aprendi com ele, algumas de suas poesias e canções. Me tornei professora. Hoje sou aposentada, mas tenho saudades dos alunos. Meu bisavô foi para mim um grande exemplo e inspiração. Parabéns ao blog. Bela postagem!

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