terça-feira, 20 de outubro de 2015

Ele estava em Nova York durante o ataque às torres gêmeas e hoje vive em Santa Rita

Pedro Dias Neto trabalhou como lavador de pratos, taxista e caminhoneiro nos EUA e hoje vive em Santa Rita, onde produz uma marca especial de café. 
Conheça, agora, um pouco de suas aventuras.
Como foi a sua ida para os Estados Unidos?

Fui para os Estados Unidos em 93, com 23 anos, para aperfeiçoar o meu inglês e ganhar a vida. O meu primeiro trabalho foi em um restaurante, onde comecei como lavador de pratos e ocupei diversas funções. Através da ajuda de um amigo, fui contratado por uma empresa de transporte e percebi que poderia ser uma boa oportunidade. Quando me tornei motorista, nosso serviço era mais voltado a brasileiros. De vez em quando, também fazíamos corridas para estrangeiros, dentre eles, o presidente da Argentina. 

Você trabalhou para o Presidente da Argentina?

Sim. A empresa em que eu trabalhava tinha um serviço de limousines e, em setembro, acontecia a Assembleia Geral da ONU. Nesse período, eu atuava como segurança e como motorista na comitiva da presidência Argentina. 
E atendiam à comitiva brasileira também?

Não gostávamos porque o presidente, na época, era o Lula e ele não pagava a conta. Enquanto os Argentinos terminavam os compromissos, quitavam tudo, davam gorjeta e embarcavam no Tango I, com os brasileiros era a maior burocracia. Para receber uma temporada de serviço levava de quatro a seis meses e não era um bom negócio.

E a experiência como caminhoneiro?

Eu passei quase 6 anos trabalhando para a maior transportadora dos Estados Unidos. Dirigia aqueles caminhões de 18 rodas, com carretas de 53 pés. Nesse período viajava não só pelo país inteiro, como também para o México e para o Canadá. Posso dizer que, por conta dessa experiência, conheço os Estados Unidos muito melhor do que o Brasil. Eu ficava quicando atrás das cargas e dormia em um caminhão. 

Eu voltava à companhia a cada 40 dias, colocava um estudante que queria conhecer o país a bordo e caía na estrada de novo. Meu caminhão era bem completo. Tinha beliche, microondas e televisão.

Soube que participou de uma competição de caminhoneiros

Participei de uma competição na cidade de Dallas e fiquei em segundo lugar. Com apenas 2 anos de experiência, venci motoristas com 25 anos de profissão. As provas não eram de velocidade, mas de habilidade e manobras.
Você estava em Manhattan durante o ataque às torres gêmeas?

Na ocasião, eu trabalhava como caseiro e como motorista particular de um produtor musical. Ele tinha umas cantoras em Manhattan e, neste dia, eu teria que fazer uma corrida com elas. Deveria pegá-las no hotel pela manhã, levá-las para a gravadora e passar o dia ciceroneando as moças. 

No primeiro ataque, eu estava em um lava-rápido e, ao passar pelo caixa, vi as cenas pela televisão, sem entender o que acontecia. Como estava atrasado, não dei muita atenção e saí pelo Queens,  em direção a Manhattan. Ao atravessar a ponte, em direção à ilha, recebi uma ligação de um primo, do Brasil, perguntando se eu estava bem. Só então eu liguei os fatos. Foi o tempo de desligar o telefone e chegar ao outro lado para perceber que já estavam fechando a ilha e começando a evacuá-la. 

Pra continuar em Manhattan, só quem morasse da Rua 14 pra cima. As outras pessoas tinham que abandonar suas casas e deixar a ilha.  Após cortar um bloqueio, eu me dirigia ao Hotel Muse, quando houve o segundo ataque. Ao me encontrar com as cantoras, disseram que não sairiam de lá até entenderem o que estava acontecendo e eu decidi ir embora.

Como deixou a ilha?

A única maneira de sair era pelo Norte. Estava uma correria geral. Lembro que as pessoas andavam pelas ruas como se fossem zumbis, sem a menor expressão. Não havia metrôs, ônibus ou táxis. Era preciso caminhar cerca de 12Km em direção à saída. Como trabalhei muito tempo em táxi, conhecia bem as saídas e dei a volta para retornar ao Queens. No caminho, ouvi no rádio as recomendações para ajudar quem estivesse tentando sair de lá e levei algumas pessoas. De onde estava, podia ver a fumaça e um cheiro muito forte de concreto queimado que ficou no ar por mais de um mês. Era um odor de churrasqueira mal apagada e uma poeira que causou grande mal aos bombeiros que trabalharam naquele dia. Daquelas pessoas que estiveram perto dos escombros, poucos sobreviveram por conta do amianto, muito usado nas construções das décadas de 60 e 70. 

Como foi sua vinda para Santa Rita?

Quando o meu pai, Joel Roberto Dias, se aposentou como bancário, veio para Santa Rita lidar com café e trabalhou na área até desenvolver um Alzheimer. Ele trabalhou enquanto conseguiu através da ajuda da minha mãe, mas chegou um momento em que precisei vir dar um suporte. Ao chegar à cidade, senti um impacto muito grande e achei as pessoas com quem trabalhava difíceis de lidar. Como a minha mãe precisava cuidar do meu pai, não ia muito à fazenda e o cafezal sofreu muito, a estrutura ficou bem comprometida e tive que ajudar a pôr as coisas no lugar. 

O que aconteceu depois?

A minha meta sempre foi melhorar a produtividade, aprimorar o café e lançar uma marca própria.Para aproveitar essa onda de Food Truck´s, nós lançamos uma Coffee Bike e montamos uma cafeteria 100% funcional, em cima de uma bicicleta, para levarmos a eventos pela região. No ano passado, conseguimos exportar 10% da safra e, nesse ano, serão 70%. Os outros 30% nós pretendemos vender através da bicicleta. 

Qual é o nome do café?

Chama-se “Grandpa Joe´s Coffee” que, traduzindo, é “O café do vovô Joel”. Existe uma lenda em torno desse nome. Na história americana, “A cup of Joe” é um copo de café. A expressão surgiu porque, na II guerra, os G.I. Joes recebiam café antes de serem enviados às trincheiras. O nome tornou-se uma relação com a expressão e uma homenagem ao meu pai.

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Um comentário:

  1. Cara, que história maneira. Prazer em conhecê-lo Pedro, e sucesso ao café :)

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