Há alguns anos, estaríamos vivendo dias animados e alegres na expectativa do carnaval. Havia ensaios de rua e segredos guardados a sete chaves... Dizem, por aí, que neste ano os dois blocos vão desfilar! Que ótimo! Mas nada será como antes! Ou será? É esperar para conferir! Até as vacas da batucada sumiram! A esta altura já estaríamos cansados de dar moedinhas para esses simples, mas engraçados grupos que, todo domingo, paravam debaixo da janela da gente fazendo a sua coreografia de espantar criancinha. Mas que era divertido, isso era! As roupas coloridas do grupo, a vaca dando chifradas e exibindo uma armação co-berta de chitão, a animação por conta, apenas da percussão (que tinha até latas e frigideiras), não deixava ninguém em paz. A batucada era o maior barato... Será que ainda existe em algum lugar? Já os mistérios dos dois blocos rivais tomavam conta da cidade. O ponto alto da temporada (senão do ano todo) eram os preparativos. Já dizia a sabedoria popular: “O melhor da festa é esperar por ela!” Eram raras as famílias em que todos torciam pelo mesmo bloco... E até isso era interessante, dava aquela pitadinha em forma de rixa, que fingia passar depois do carnaval, para voltar com tudo no ano seguinte. Marido chegava em casa com ar mais feliz, a esposa, que era do outro bloco, imaginava que ele trazia algum segredo e tentava a todo custo que ele falasse.Mas a conspiração era séria, ninguém entregava. Chegavam a ficar sem se falar por toda a época de carnaval. A não ser para uma briguinha. Os homens trabalhavam nos carros alegóricos e, de suas mãos habilidosas, saíam maravilhosas esculturas e as estruturas que se moviam com arte, para maior destaque das figuras principais do bloco. Esmeravam nos efeitos da iluminação. As esposas faziam tudo para tirar do marido alguma dica, mas eles não se traíam nem traíam o bloco do coração. Já as esposas, quanto trabalho para esconder as fantasias ricamente bordadas de pedrarias, paetês e plumas! Não só dos esposos, mas dos familiares que eram do “outro bloco” e que se achavam no direito de fazer “visitas” bem naquelas horas em que eram confeccionadas as fantasias... Claro que as intenções não eram das melhores! Esconder ou brigar? Às vezes não dava tempo de esconder, o jeito era mentir descaradamente que perdeu a chave! Ninguém nunca mostrou... E havia broncas também! A gente, que não era da panelinha do costurar, colar, bordar, ensaiar, era só de torcer e aplaudir, vivia na curiosidade. O que será? E ficava imaginando os reinos do Oriente, de onde vinham inspirações. Houve um ano em que os dois blocos tiveram a mesma ideia e usaram o mesmo tema. Foi um “deus nos acuda” e, até hoje, se discute quem ganhou... Pena (ou muita sorte...) que não houvesse disputa com votação. As apresentações eram aquele delírio. Carros artísticos ostentando deslumbrantes destaques e os pares no chão, ricamente vestidos em prata ou ouro. As fantasias eram mesmo deslumbrantes. Usavam e abusavam de plumas lindíssimas. As cabeças, ricamente ornamentadas, incitavam ainda mais a admiração. Quem era apenas torcedor ia dos lados cantando, segurando os cordões de iluminação e isolamento. Foi o melhor carnaval do interior, ninguém pode negar. O mais luxuoso, o mais criativo. Um encantamento! As fotos e filmes estão aí para comprovar. E nas noites de folia ainda ressoam “Ride Palhaço” e “Vibrem fanfarras” para aumentar a saudade de quem viu e não esquece jamais. Mesmo que voltem a desfilar não creio que será como antes. Vão ficar faltando as famosas rixas dos casais, as tentativas de descobrir o tema rival, pois a paixão está menos quente e uma verdadeira multidão de saudosos fanáticos já partiu para o andar de cima. Nós, que ainda aqui estamos, esperamos ansiosos a apresentação de nossos blocos Ride Palhaço e Democráticos, este, em seu octogésimo ano de fundação. O povo de Santa Rita quer bater festivas palmas, para ambos e cantar “Parabéns a você” ao Democráticos!
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Vivi por muitos anos este maravilhoso carnaval que é descrito neste artigo. A unica reclamação que eu tinha nessa epoca era o desrespeito que os blocos tinha pelo horario do desfile. Muitas vezes ficavamos na terça feira até duas horas da manhã na praça e isso atrapalhava o baile do Country.
ResponderExcluirUm carnaval maravilhoso, com Ride, Demo, Cravinas. E os blocos da "bagunça". Sindicato do Alcool, Vaiquemqué... E os de salão, o nosso Bakaninhas, o Cinismo total do Mucio, Pedro e cia, o Sanatorio Geral e varios outros. Hoje tem o Urso, que para mim não é carnaval (respeito e admiro a grandiosidade e a organização, mas não é carnaval mesmo), de vez em quando Ride e Demo. As escolas na Delfin Moreira. Carnaval de rua, aquele do povão, onde foi parar? O Piranhas virou uma coisa estranha, bem diferente daquele um bando de malucos (eu entre eles) "bolaram" (não foi nada planejado, apenas aconteceu). Os outros desapareceram..... Saudades, mas a vida segue. Alguns dirão que o carnaval de SRS foi modernizado. Para mim, poderia ser modernizado, sem perder sua essencia, que era do carnaval espontaneo e divertido....
Bom carnaval a todos,
Mamão
Achei maravilhoso o texto. ler sempre as ricas visões de tempos vividos e não vividos é deveras muito interessante e prazeroso. Textos desse nível colaboram muito para enriquecer dissertações e teses de mestrados e doutorados. De fato muito válido. Entretanto, tenho observado textos maravilhosos, mas que estão presos ao saudosismo. Não estou vendo textos que repercutem de forma positiva os tempos atuais e o futuro. Como é sabido e dito, cada época tem suas características próprias, porém, temos que aprender a valorizar o que de positivo cada uma possui. O fato do momento não gerar muitas satisfações por parte dos responsáveis pelos dois blocos devido o local atual do desfile, as dificuldades financeiras, a falta de um apoio público mais satisfatório, imagino que seja necessário criar um projeto que faça esses blocos chegarem vivos e fortes ao centenário. Seria um passo inicial e uma razão para não desistir de suas existências. Foi linda e única as comemorações dos 25 anos, idem as do 50 anos. 70, 80 anos datas únicas e lindas, mas não existe data mais magna do que um centenário. Que maravilhoso e espetacular seria ver essas duas agremiações se preparando para os seus respectivos centenários!!!!!! Reforço que um projeto de permanência dos dois blocos envolvendo a sociedade e os órgãos públicos competentes visando o centenário seria e é um dos caminhos para que essa tradição cultural genuinamente santa - ritense não desapareça. Mais uma vez, parabéns pelo texto acima. Prof. Anderson. Abçs
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