quinta-feira, 8 de maio de 2014

Ilha Fiscal, Titanic e o grandioso Cassino no sul de Minas

Corria os olhos na internet em busca de algo interessante para conhecer no sul de Minas, quando deparei-me com um fato tão incrível quanto o naufrágio do Titanic ou o último baile da Ilha Fiscal. A descrição que várias páginas faziam do episódio era, de certa forma, uma mescla dessas duas histórias e aconteceu a uma hora e pouco de Santa Rita, na vizinha cidade de Lambari. Como na tragédia vivida pelos tripulantes da embarcação que “nem Deus poderia afundar”, o drama do suntuoso Cassino construído às margens do Lago Guanabara ocorreu em sua primeira e única noite. Assim como no baile de 9 de novembro de 1889, onde cerca de 3 mil pessoas viveram o excesso e a extravagância que marcaram o fim da Monarquia no Brasil, soube que o empreendimento criado pelo primeiro prefeito de Lambari – Américo Werneck - também foi marcado pelo luxo e pela ostentação. As coincidências e a grandiloquência são muitas e bem parecidas. No baile da Ilha Fiscal, na então capital do império, Rio de Janeiro, oferecido aos tripulantes do navio chileno Cochrane, foram importados lanternas chinesas, balões venezianos e vasos franceses. Já na inauguração do que seria o maior Cassino de Minas Gerais, os pisos e forros vieram da Ásia, azulejos e peças sanitárias trazidos de Portugal e Inglaterra, as telhas francesas e algumas gôndolas de Veneza colocadas no lago. Apoiado pelo governador de Minas, o itajubense Wenceslau Brás, Werneck quis produzir um relicário onde o Cassino seria a sua mais preciosa joia. 
 Na manhã de 24 de abril de 1911, a estação férrea de Lambari viu desembarcar centenas de personalidades ilustres como o presidente, Marechal Hermes da Fonseca e o próprio governador, que o sucederia 3 anos depois. 
Os primeiros convidados que chegaram à construção de 2800m², executada pela firma Poley & Ferreira, viram a luz de um farol iluminar as vidraças da fortaleza. Do hall, perceberam que estavam diante de um ambiente único e caminharam, lentamente, pelos luxuosos aposentos. Estatuetas de gueixas, dragões e garças, candelabros dourados, lustres de cristal e paredes repletas de obras que remetiam à natureza brasileira proporcionavam uma atmosfera requintada, enquanto a orquestra dava início ao espetáculo, no salão de música.
Se o mais famoso transatlântico do planeta afundou após forte colisão com um iceberg no oceano Atlântico, fato parecido aconteceu na inauguração do Cassino, quando o prefeito iniciou uma discussão com o governador, quando transitavam pelo passadiço coberto de telhas de ardósia que dava acesso às torres. “Esta será a última noite!” – teria dito Wenceslau. 
Ao amanhecer, o Cassino foi fechado e assim permaneceu nas décadas seguintes. De lá pra cá, quase todo o acervo foi saqueado, um incêndio queimou boa parte dos livros que antes ocupavam o salão de leitura e o local pareceu ter se congelado, como os náufragos à espera do salvamento.
Hoje, quem chega à simpática Lambari, nota certa melancolia. Os moradores, cordiais e agradáveis, parecem esperar que algo aconteça. Em torno do Cassino, destelhado e rodeado de tapumes, materiais de construção indicam que as obras estão em andamento. Enquanto isso, a população leva a vida e rememora uma época em que a Princesa Isabel ali esteve para curar-se da infertilidade; do tempo em que daquelas terras brotava a água mais pura do país e em que o sonho do grandioso Cassino do Lago Guanabara dissolveu-se como a brisa que encobre suas montanhas.



(Carlos Romero Carneiro)

3 comentários:

  1. Sensacional a matéria !!!
    como já dizia Chico Xavier "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim." ,..
    Triste realidade de Lambari !!!

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  2. Ao Blog Empório de Notícias (que bem poderia se transformar no "Empório de Notícias Sul-Mineiras"), parabéns por mais essa excelente reportagem! Já que um "blog" é um "diário eletrônico", o blogueiro do Vale da Eletrônica poderia chamar para si tal missão e apresentar de forma sistemática, e não mais esporádica, o Sul de Minas - aqui nessas cativantes páginas eletrônicas -! Só teríamos a agradecer - ainda mais -!

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  3. Oi Cristina! Foi você quem me deu o toque e gostei da ideia. Vamos produzir pelo menos uma matéria por edição sobre a região! Abraço!

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