sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Procissão Atropelada - Por Rita Seda

Era dia de Corpus Christi. Década de setenta. A procissão saíra da Igreja Matriz. Em trajes de ver Deus, crianças, jovens e senhores, em fila, prestigiavam Jesus Sacramentado, que vinha no final, sob um pálio sustentado por homens da paróquia, vestidos com opas vermelhas. Crianças vestidas de anjo, graciosamente, traziam cestinhas com pétalas de rosa que, de quando em quando, atiravam, em direção ao ostensório, onde brilhava ao sol, a Hóstia Consagrada, o Corpo e o Sangue de Jesus. Atrás, vinha a banda de música entoando, ora hinos religiosos, ora ritmados dobrados. As ruas estavam enfeitadas com passadeiras, casca de arroz e de ovos, desenhos de imagens religiosas, utilizando serragem colorida e até pó de café! Muitas flores, principalmente “bico de papagaio”, faziam a bordadura das passadeiras. Algumas ruas apresentavam arcos de bambu, ricamente ornamentados com fitas e flores. Desde a madrugada, os moradores trabalharam para que o resultado fosse o melhor possível. A procissão passou, reverentemente, por algumas ruas e quando estava prestes a chegar ao seu final, na Igreja São Benedito, através da Rua Quintino Bocaiuva (da Cadeia),aconteceu um tumulto que não estava no script... Era um tempo em que ainda existia o antigo matadouro, ali perto de onde é a atual Câmara dos Vereadores. Naquela época os animais que seriam abatidos vinham livres pelas ruas, tocados por um cavaleiro. Tudo normal, nunca houve problema. Mas, naquela tarde, ao se encontrarem, frente a frente, animais e procissão, na esquina da Rua José Feliciano Marques (Rua dos Marques) com a Rua Quintino Bocaiuva (da Cadeia),  o pior aconteceu. Os poucos (dois ou três) animais que, inocentemente, vinham tangidos para ser sacrificados, não pararam, e entraram na procissão,  assustando e muito, os fiéis. Foi uma correria geral. Graças a Deus que  naquele tempo não se fechavam casas e portões como agora, pois o povo se abrigou onde pôde. Eu fui da turma que invadiu o quintal do Sr. Cornélio, bem na esquina da Igreja. Não pude ver nem como o boiadeiro dominou os animais e os levou ao destino... E o principal, como reagiu a turma que levava o pálio com o Santíssimo Sacramento, o Sacerdote, os anjinhos... Foi um “salve-se quem puder!” e tratamos de correr para casa com os idosos e as crianças para acalmá-los com um chá de hortelã! São flashs da vida que ficam guardados em nosso inconsciente e que um dia aparecem para quebrar a monotonia...

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