segunda-feira, 6 de maio de 2013

Uma vida de conquistas do Professor Francisco Magalhães


Antes de se tornar o professor que mudou os rumos da educação, não só de Santa Rita, como de todo o sul de Minas, Francisco Ribeiro de Magalhães passou a infância na região do Balaio e aprendeu a trabalhar desde muito cedo. Filho de produtores rurais muito humildes, o garoto ajudava na produção de banana e café para, duas ou três vezes por semana, negociar no extinto Mercado Municipal. A vida era dura naqueles tempos. Era preciso acordar às três horas da manhã e caminhar a pé por cerca de 20 quilômetros, até chegar ao seu destino.
Em cerimônia da Academia Santa-ritense de Letras.
Na primeira metade do século XX, educação era artigo de luxo para as crianças humildes do país. Caso quisesse estudar e não tivesse recursos, era preciso escolher entre duas profissões: ou se tornava padre ou virava soldado. Vindo de tradição católica, Francisco optou pela primeira opção e ingressou no Seminário de Pouso Alegre, assim que finalizou o primário no Externato Santa Rita. Convicto de sua vocação e certo de que trilharia a vida sacerdotal, ainda chegou a cursar o Seminário de Campanha, até que conheceu a moça que o acompa-nharia por toda a sua vida. 

Ao lado de Dona Benedita, o rapaz retornou à sua terra natal onde voltaria a estudar. Nos anos seguintes, teve o primeiro de seus sete filhos e realizou um Curso de Contabilidade na Escola de Comércio, enquanto lecionou latim e integrou a banca da Faculdade de Direito de Pouso Alegre. 

Desde muito cedo, o rapaz já dava sinais de ser dotado de uma inteligência incrível, sem jamais deixar de lado a humildade que fez dele um dos homens mais queridos de Santa Rita. Frequentador assíduo dos bancos escolares, Francisco concluiu o curso de Direito, formou-se em Filosofia e realizou pós-graduação em Direito Tributário. Entre uma faculdade e outra, aperfeiçoou sua capacidade de oratória e aprendeu a falar italiano, espanhol, francês e licenciou-se em latim.
Casamento com Dona Ditinha.
Em 1963, ao perceber a tendência de empresas migrarem dos grandes centros para cidades do interior, professor Francisco juntou-se aos santa-ritenses Padre José Carneiro Pinto, Sr. José Junqueira e Professor Teixeira para criar a Faculdade de Administração. Para isso, criou um convênio com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) para trazer professores e organizar a grade curricular do que viria a ser o segundo curso de Administração de Minas Gerais.

Com vasta bagagem em Direito e Legislação, professor Francisco tinha tantos conhecimentos quanto sua biblioteca de 2000 volumes (perdida na enchente de 2000) e sabia todas as leis de cor. Sempre apoiado pela Fundação Educandário Santa-ritense, a confiança que nutria era tamanha que, nas viagens que empreendeu à Brasília para cuidar da papelada necessária à legalização da instituição, o Padre José assinava dezenas de folhas em branco para que o educador cumprisse as exigências do Ministério de Educação, sem precisar retornar a Santa Rita.

Com o sucesso na implementação da Faculdade de Administração, professor Francisco adquiriu tamanho prestígio que passou a desenvolver projetos semelhantes em diversas instituições. Em uma das conversas que teve com o amigo Aureliano Chaves, pediu para que o governador doasse um computador UNIVAC 418 e, com a vinda daquela máquina que muito se assemelhava a um Tiranossauro Rex, surgiu a idei-a de criar um curso de Informática em Santa Rita. Desta vez, encontrou apoio na EFEI e no ITA para que fosse feito um intercâmbio de professores e desse início às aulas.

Mesmo com todas aquelas atribuições, o professor encontrava tempo para assumir cargos importantes no município e até exercer funções políticas. Em sua profícua carreira, Francisco Magalhães foi diretor da Escola Estadual Sinhá Moreira, Diretor da FEBEM, Presidente da Academia Santa-ritense de Letras, diretor do Lions Club e do Sindicato dos Produtores Rurais, além de dirigir a Escola de Comércio, a Estamparia Santa-ritense e ser eleito vereador por duas gestões (cargo que só abandonou quando passou a ser remunerado.)
Formatura do Curso de Direito.
Em 1974, enquanto criava o curso de Ciências Administrativas de Poços de Caldas, Francisco recebeu um convite inusitado. Como aquela cidade era uma estância hidromineral, o governo militar exigia que o prefeito fosse eleito por indicação. Qual não foi sua surpresa quando, ao finalizar o serviço, o santa-ritense foi chamado a se tornar “prefeito biônico”. Apesar de lisonjeado com a distinção, ele não aceitou o cargo e decidiu focar suas atividades em Santa Rita.

Com tantas qualidades e dotado de uma inteligência ímpar, o leitor deve estar pensando: “Qual seria o calcanhar de Aquiles deste grande educador, nascido em 1º de maio – Dia do Trabalho?” Alguns até poderiam dizer que seu ponto fraco seria torcer para o Ride Palhaço, mas poucos diriam que, com uma vida altamente produtiva, o mestre tivesse uma saúde tão frágil. Apesar de tamanha coragem e competência, o Professor Francisco sofria com as sequelas de uma paralisia infantil, tinha duas pontes de safena, os rins pararam de funcionar, teve septicemia, foi vítima de derrame, ficou em coma por 3 dias e, ao se recuperar desses “pequenos” imprevistos, voltou para casa e continuou a trabalhar. 

Poucos dias antes de falecer, Professor Francisco foi patrono de uma turma da FAI, esteve presente no baile, dançou e voltou contente para casa. Mal sabia que, em muito pouco tempo, viria a falecer, deixando milhares de amigos e parentes absolutamente consternados com irreparável perda. Em 1993, partia, aos 62 anos, um dos mais importantes homens nascidos em Santa Rita do Sapucaí. Dono de um talento incrível, empreendedor nato e dotado de um poder de conciliação impressionante.

Nos anos seguintes, uma série de homenagens foram dirigidas a ele (inclusive emprestou nome a uma rua) mas todas insuficientes para fazer justiça ao que sua trajetória representou à sua cidade. Para nós, velhos amigos ou pessoas que tomam conhecimento de sua vida agora, fica a gratidão por sermos beneficiados por figura tão singular e o sentimento de que é possível se espelhar em homens como o saudoso professor Francisco para dar nossa contribuição ao desenvolvimento da comunidade local.

(Carlos Magno Romero Carneiro)

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