segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Serra da Mantiqueira (Ivon Luiz Pinto)


A nossa cidade está cercada por Serras como a da Bela Vista ou Paredão, a de Natércia, a do Balaio e muitas outras. Todas fazem parte do conjunto geográfico da Serra da Mantiqueira.

A Serra da Mantiqueira  tem   nome de origem tupi-guarani Amanti-Kir e significa “Serra que chora”, devido à grande quantidade de nascentes e riachos encontrados em suas encostas. No início da ocupação do Brasil, ela  foi um grande obstáculo a ser vencido pelas expedições que iam para o interior em busca do ouro e das pedras preciosas.
Com a descoberta do ouro, a Coroa Portuguesa, no intuito de controlar o trânsito do metal e facilitar a cobrança dos impostos, definiu o único caminho permitido para o acesso às minas e para o transporte do metal, e que ficou conhecido como Caminho Geral do Sertão. Este se iniciava em Paraty, atravessava a Serra do Mar e atingia Guaratinguetá. Daí seguia pelo caminho dos Paulistas, atravessando a Mantiqueira e passando por onde estão hoje Passa-Quatro, Itanhandu, Santana do Capivari, Consolação, Pouso Alto, Boa Vista, Baependi, Conceição do Rio Verde, Cruzília e Ingaí. Ali atravessava o Rio Grande chegando a Ibituruna e subia o Rio das Velhas até o Arraial do Rio das Mortes, hoje São João Del Rey. Seguia então até a Vila Rica, hoje Ouro Preto. Outro caminho era feito saindo de Taubaté, passando por Lorena, subindo a serra até Delfim Moreira e depois Itajubá, Natércia e Santa Rita do Sapucaí até o Mandu.

A Lenda da Mantiqueira

Conta a lenda que vivia uma prin-cesa encantada da Brava Tribo Guerreira do Povo Tupi. Seu nome, o tempo esqueceu, de seu rosto a lembrança perdeu; só se sabe que era linda.

Era tão linda que todos a queriam, mas ela não queria ninguém. Vira homens se matarem por vê-la. Tacapes velozes triturando ossos, setas certeiras cortando carnes. Como poderiam amá-la se não amavam a si próprios?

A bela princesa se apaixonou pelo Sol, o guerreiro de cocar de fogo e ouro, que vivia lá em cima, no céu, caçando para Tupã. Mas o Sol, ao contrário de tantos príncipes, não queria saber dela. Não via sua beleza, não escutava suas palavras nem se detinha para tê-la.

Mal passava, cálido, por sua pele morena, sua tez cheirando a flor, mal acariciava seus pelos negros, suas pernas esguias, e, fugaz, seguia impávido a senda das horas e das sombras. Mas ela era tão bonita que senti-la nua, seus pequenos túrgidos seios, seus lábios de mel e seiva, sua virginal lascívia, acabaram também encantando o Sol. E o Guerreiro de Cocar de Fogo fazia horas de meio-dia sobre o Itaguaré…

A Lua, mal surgia sobre a serra, já sumia acolá. Logo, não havia noite. O sol não se punha mais e não havia sono, e não havia sonho, e tão perto vinha o Sol beijar a amada que os pastos se incendiavam, a capoeira secava e ferviam os lamaçais…

De tênues penugens de prata, plumas alvas de cegonhaçu, a Lua viu que estava ameaçada por uma simples mulher. O Sol, que na Oca do Infinito já lhe dera tantas madrugadas de prazer, tantas auroras de puro gosto, se apaixonara por uma mulher…

E tanto, de tanto que Tupã quis saber o que era, que a Lua, cheia de ódio, crescente de ciúme, minguando de dor, se fez um novo ser de noite-sem-lua e foi contar tudo para Tupã. Como uma simples mulher ousou amar o Sol? Como o Sol ousou deter o tempo para amar alguém ?

Que ele nunca mais a visse! Mas o Sol tudo vê! … Tupã ergueu a maior montanha que existia e, lá dentro, encerrou a Princesinha Encantada da Brava Tribo Guerreira do Povo Tupi. O Sol, de dor, sangrou poentes e quis se afogar no mar. A Lua, com a dor do seu amado, chorou miríades de estrelas e prantos de luz. Mas nenhum choro foi tão chorado como a da Princesinha, tão bela, que nunca mais pôde ver o dia, que nunca mais sentiria o Sol… Ela chorou rios de lágrimas, Rio Verde, Rio Passa Quatro, Rio Quilombo, rios de águas límpidas, minas, fontes, grotas, ribeiras, enchentes, corredeiras, bicas, mananciais. Seu povo esqueceu seu nome, mas chamou Amantikir, a “Serra-que-chora.

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