terça-feira, 6 de novembro de 2012

Lembranças de Aprendiz


Diariamente, era acordado por minha mãe. Ao me colocar em pé, ela também se preparava para ir à escola (mas para lecionar), enquanto repetia com paciência as instruções: “Lave as mãos, lave o rosto, escove os dentes e penteie o cabelo!”. Como sempre morei ao lado do grupão, esperava a sirene tocar e adentrava o campus trepando em uma árvore plantada próxima ao muro. No pátio daquela centenária instituição, filas e mais filas de alunos eram formadas para que a molecada cantasse hits como “A barata diz que tem.”, “Se és feliz quero te ver fazer legal” e o “Hino Nacional”. Bem de longe, a temida diretora, Ana Abdala, olhava-nos com semblante sério e orgulhava-se do respeito com que tratávamos os nossos educadores. Não esqueço minhas “tias”. No pré-escolar, lembro da sensibilidade da Tia Fatinha (Firmino) e da afeição que nutria por Tia Cândida. No primeiro ano, vaguei entre as turmas A e B por diversas vezes, aprendi a ler com a Tia Regina Martha e a cantar (de forma razoável) com Celina Patta. Nos anos seguintes, tive boas lições com duas professoras irmãs, Amália e Heloísa Ribeiro que, até hoje, me param na rua para prosear. Na quarta-série, fui aluno da minha vizinha, Maria Helena Guerzoni, e embarquei no Ensino Ginasial com a sensação de que um novo mundo estava prestes a começar. Na sétima, junto com Jaqueline Brandão, Denisley e Adelson, criei meu primeiro jornalzinho, intitulado “Chupeta na Oreia”. Em toda edição, coalhada de apelidos da turma, desenhava um brinco em forma de chupeta pendurado na orelha de um dos professores. Com aquele título bizarro, o mimeógrafo havia nos dado a liberdade e devolvemos um conceito surreal. No segundo semestre, decidi mudar de escola e me matriculei no Sinhá Moreira. Ali, conheci um dos meus professores mais estimados e que me inspirou a misturar a paixão pelo jornalismo com o interesse pela história: Ivon Luiz Pinto. Quando chegamos ao final da oitava, os exemplares do “Dementes bem informados” já eram disputados até pela turma do Colegial. No ano seguinte, me matriculei na ETE e tive aulas com lendas como Navantino, Justino e Mury, além dos Padres Jaime e Furusawa. Junto daqueles educadores de alto nível, amadureci à força e terminei o Ensino Médio pronto para encarar o mercado de trabalho. Na faculdade, em Ribeirão, minha cabeça foi dividida ao meio nas aulas de Filosofia. Com Carmen Gameiro, descobri como funcionava o raciocínio dos pensadores e nunca mais vi o mundo da mesma forma. O tempo passou, muita coisa aconteceu e me dei conta da enorme gratidão que tenho por cada um desses mestres. Talvez, por isso, depois de tantos anos, ainda não tenha deixado de estudar e continue aprendendo. A todos eles, citados ou não, ofereço esta homenagem na edição dedicada aos professores. Que, onde estejam, saibam o quanto foram importantes e tenham consciência do meu  enorme apreço.
(Carlos Romero Carneiro)

Um comentário:

  1. Ah, sempre viajo no tempo com seus textos!!! Quantas boas lembranças do Grupão! Abs, Patrícia

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