quinta-feira, 19 de julho de 2012

Orozimbo Silva, o cantor mais extraordinário que a cidade conheceu

Orozimbo Silva até hoje é lembrado pelos santarritenses que viveram a era de ouro do bailes e serenatas como o maior cantor que a cidade conheceu. Com uma voz potente e um incrível talento para a interpretação, sua presença era sempre requisitada nos bailes da cidade e nas rodas de seresta que varavam noite adentro.
O talento do cantor foi descoberto, ainda na infância, quando foi convocado para cantar em uma festa da Escola Normal. “Se eu me tornei cantor nos anos seguintes, devo muito à Dona Maria José Souza. Foi ela quem me viu cantando o Hino Nacional em uma comemoração na escola e espalhou para a cidade inteira. Depois disso, passei a ser chamado para tudo o que acontecia.”

Momentos marcantes ele viveu inúmeros. Talvez um dos mais inesquecíveis tenha sido quando cantou no Bloco dos Democráticos, na lendária noite espanhola. “Eu me vesti de toureiro, com uma grande capa e cantei no alto do carro-alegórico. Só não entendi porque me colocaram sentado sobre um Sputnik, porque não tinha nada a ver com o tema da noite”. – recorda o estimado artista.

Das recordações que guarda sobre sua juventude, uma das mais interessantes é de quando ia até a casa do delegado Assumpção pedir para fazer alguma seresta: “A gente tinha que pedir a ele para cantar na madrugada. De vez em quando, ele fazia a gente cantar em sua casa e só íamos embora quando estava amanhecendo.”

Durante as serenatas, que começavam por volta de uma da manhã, o cantor era acompanhado pelo violonista José da Liquinha e também por Gema Grillo, que cantava como ninguém. “As pessoas saíam nas janelas e gostavam muito das apresentações. Era uma coisa emocionante.”

Outra passagem que Orozim-bo guarda sobre o famoso Assumpção aconteceu quando um rapaz da época, conhecido como Lotita, cometeu assassinato na vizinha Bela Vista e foi condenado a uma pena que o impedia de fazer o que mais gostava: beber vinho e participar das serestas. “De vez em quando, o delegado me chamava para cantar em sua casa (em frente ao Grupão) e eu presenciava uma cena interessante. Ele mandava recado para os guardas libertarem o Lotita e passávamos a noite inteira cantando. Antes de amanhecer, ele voltava correndo para o xilindró.”

Sempre presente nas Orquestras dos senhores Allan Kardek do Nascimento e João de Abreu, Orozimbo lembra que cantava todas as semanas no Clube Santarritense, no Centro Operário ou na Associação José do Patrocínio (Cravinas). Quando não estava se apresentando, o artista sempre passava pelas três agremiações para saber como estavam as coisas e se recorda das festas promovidas por Maria Cutuba: “Ela fazia ótimas festas juninas, no final da rua do queima. A gente tinha muita amizade com o Dito (seu filho), mas o amigos dele eram meio barra-pesada.”

Em uma das apresentações da Banda Jazz Brasil, Orozimbo teve a oportunidade de participar do último grande baile para eleição da rainha do Clube Santarritense (Marly de Castro) e conta que teve o privilégio de cantar para a Miss Minas Gerais, Anelise Kjaer. “Na hora de homenagear a Anelise Kjaer, eu cantei Violetas Imperiais e foi um grande sucesso. Depois disso, toda vez que ia fazer uma serenata, tinha que executar essa música.” – recorda.

Além de se tornar uma espécie de ícone santarritense, o talento do grande cantor ia além das canções que interpretava. Orozimbo gostava muito de um carteado no bar do Paulo Cleto e sempre passava pelo bar do Paulino para pescar dourado e jogar conversa fora. Em uma dessas jogatinas, acontecidas no Clube Santarritense, o artista quase partiu dessa para melhor quando colocou uma bomba debaixo da mesa dos jogadores. “Um deles puxou a faca. Quase me dei mal naquele dia.”

No início da década de 60, Orozimbo decidiu começar a trabalhar com venda de doces e comprou o caminhão de um comerciante conhecido como Davi Português. As vendas não iam mal. Ele sempre vendia para cidades de toda a região, mas acabou recebendo uma oferta irrecusável do amigo Carlos Magno Maia Dias: “Certo dia, eu estava com o Carlos Magno e ele me falou que estava voltando para Brasília e que queria me levar junto. Foi aí que eu me mudei e passei a trabalhar na Companhia Enérgica. Eu me saí bem por aqui, mas confesso que tenho uma saudade imensa dos amigos e dos tempos em que vivia em Santa Rita.”
Um de seus grandes amigos, Carlos Alberto Campos do Amaral, falou com emoção sobre Orozimbo: “Ele sempre foi muito querido por aqui. Junto comigo, com o Claitão, o Geraldo Adami, o Nego Adami, o Sapico, o José Alfredo e outros, passamos ótimos momentos juntos. A voz deste homem era a coisa mais bonita do mundo. Ele cantava no nível de artistas como Orlando Silva e Nelson Gonçalves. Como pescador também fez história. Não era daqueles que apenas davam banho na minhoca. Junto com o Paulino estavam sempre pescando dourados e outros peixes. Como jogador de truco era uma lenda. Jogava muito com o José Viana, o José Seda, com o Júlio Gabriel e com o pai do José Arthur. Tenho muita saudade dele. Espero vê-lo em breve para contarmos os causos daquele tempo e passarmos bons momentos juntos.”
(Carlos Romero Carneiro)


OFERECIMENTO: RADIOADORES DO VALE

Nenhum comentário:

Postar um comentário