terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ricardo e seu Puma preto

Em 1980 eu tinha o forte desejo de pintar meu carro para preto e isso faria dele o primeiro Puma preto do Brasil. Eu o mentalizava preto. Numa viagem de Belo Horizonte para Santa Rita do Sapucaí, a última coisa que fiz em BH foi um orçamento de pintura. Só que, na viagem, eu capotei o carro.

Antes de entrar na curva fatídica, eu parei para dar carona no trevo ao terceiro ocupante, um colega da faculdade de codinome Gasolina (imaginem...rs). No trajeto, o Gasolina disse ser seu aniversário e eu, em alta velocidade, virei para cumprimentá-lo. Ao voltar a olhar para a frente, pensei: - Que bom, meu Deus, que você me guia, pois o que eu faço de bobagem... Ao entrar na curva, um matuto atravessava bêbado a estrada e, ao desviar dele, o carro derrapou. Eu fui o único que ficou dentro do carro que estava com a capota abaixada. Foram 50 metros de descida, numa altura de aproximadamente 15 metros - descendo capotado! Felizmente nada sofri, nem escoriações nem cortes, nada. Apesar de, após o acidente, eu ter imaginado que estava desfigurado, pois meu rosto veio arrastando no chão. Incrível, não é? Explico. Havia um alto capinzal que cedeu e cobriu a terra fazendo um escorrega para o carro deslizar. Esse mesmo capim protegeu meus dois amigos que nada sofreram. Aliás, até que eles descessem ao local do acidente e me respondessem, eu fiquei apavorado pensando que eles estivessem mortos ou debaixo do carro que perdeu a capota ao bater num cupinzeiro. Se o carro avançasse sobre o cupinzeiro, eu seria esmagado, pois estava dentro do carro. Nesse impacto com o cupinzeiro, a parte da frente do carro, praticamente, foi arrancada, assim como foi arrancado o tanque de combustível e o capô traseiro, durante a descida.

“Você sempre poderá dizer quem é um vencedor pela maneira que age quando as coisas não vão indo bem” - Hilton Johnson
Enfim, para quem queria um carro pintado, vê-lo todo destruído foi muito frustrante. Foi nessa hora que olhei para cima e, sem questionar, agradeci ao “Cara”.
Quando o Gasolina chegou, perguntou:
- Ricardo, por que você não joga sua placa no jogo do bicho?
Olhei surpreso para ele que se justificou:
- Hoje não é meu aniversário?
- É, Gasolina, dia inesquecível (com deboche).
- Hoje não é 29 de março?
- Sim, e daí?
- A placa do carro é 3329. Então, 29 de março!
 
Era o que eu precisava. Não vacilei. O acidente fora por volta das 14hs. Assim que o carro foi removido com o reboque, ao olhar incrédulo dos que passavam pela estrada à procura dos mortos, corri para fazer o meu primeiro jogo do bicho.

Não peço que acreditem, mas tudo o que afirmo pode ser comprovado. Resultado: 5329

Como eu joguei minhas reservas de estudante e trabalhador na época (talvez equivalente a R$ 1000 hoje), ainda que não tivesse acertado exatamente o milhar, o que ganhei no bilhete montado pelo bicheiro foi o suficiente para pagar o conserto do carro que não estava segurado! Agora o mais incrível: o dinheiro deu para uma reforma completa e pintá-lo de preto!
Retirado do blog: http://supere-se.blogspot.com
(Depoimento de Ricardo Guimarães)

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