O nosso amigo “Cutuba”, que outrora fora dotado de todas as qualidades preferidas por um atleta, tornou-se figura conhecidíssima na região Sul Mineira, em virtude de sua extraordinária força e não menos agilidade. Após passar como vencedor por diversos rinques de boxe, luta livre, campeonatos de futebol, natação, corridas, saltos tríplices, etc. etc., enveredou-se então para a tauromaquia.
Fazendo amizades com “Parafuso, cigano, Zé Cobra” e outros toureiros, tornou-se também tão famoso ao ponto de imitá-los nas mais arrojadas lutas, então travadas na arena. Por onde se apresentava em espetáculos, todos já conheciam a sua fama, conquistada após duros combates, durante muito tempo e que, agora, consagravam-no como o melhor toureiro regional.
Possuidor de pulmões fortíssimos, consistia a sua arte em tourear, não utilizando a habitual “capa” e completamente desprovido de qualquer outro instrumento para a sua defesa pessoal. Corajoso que sempre foi, confiava nos deuses de sua apologia e principalmente nos seus gritos austeros, irritantes e estarrecedores que, por diversas vezes, fizeram touros bravios, desanimados, ajoelharem-se a seus pés. Apelidaram-no de “El Magnífico”.
Após percorrer quase todo o Estado de Minas, quando em diversas cidades, fora acaloradamente aplaudido, recebeu e aceitou um convite para tourear em Goiânia, pois os aficcionados das touradas, residentes naquela bela capital, interessavam-se vivamente pelo novo estilo de tourear, do nosso já celebérrimo “Cutuba”. Anúncios, cartazes, rádios, jornais, gazetas, enfim, todos os meios de propaganda foram aplicados e todos aguardavam com grande ansiedade o próximo Domingo”,
Chegou finalmente o grande dia e lá encontrava-se ele, pomposamente, recebendo os aplausos e flores da plateia. Agora, silêncio. De repente, o Diretor das “corridas” ordena e uma porta se abre, arremessando contra o nosso amigo “Cutuba” um boi de 20 arrobas que, furiosamente, sobre ele investe, soltando fogo pelos chifres e cinzas pelas ventas.
Na realidade, o animal parecia mesmo ter vindo do inferno. Mas, Cutuba não perde a calma e vai, paulatinamente, desvencilhando-se das horríveis investidas e, consequentemente, gritando e gritando, conforme recomendava a sua técnica, tão invejada pelos seus colegas, que já o tinham observado em triunfos anteriores. À medida que se desenrolava o espetáculo, o portentoso animal tornava-se mais bravio e impertinente. Quando menos se esperava que o nosso herói levaria novas vantagens, subitamente, ouve-se o clamor público.
Gritos aterrorizados, de pânico e “suspense”, procediam de todos os lados do grande circo. Os espectadores mantinham-se em pé, aterrorizados e surpresos com a cena projetada. O boi colheu o nosso amigo contusamente. Diversas estocadas foram-lhe dadas, fraturando-lhe quatro costelas e rebentando-lhe parcialmente o tórax. Final triste, muito triste naquela tarde tão alegre e que, de repente, se tornou sombria. O boi já se encontrava na “chiringa”, enquanto alguns curiosos rodeavam o nosso ex-herói que agora jazia estatelado na areia.
Quando alguns lhe perguntavam da nova técnica de tourear a gritos, ele, fazendo um esforço tremendo e espumando de raiva pelos cantos da boca, malcriadamente respondia: “Eu não gosto de ninguém! Não gosto do diabo, não gosto de meu pai, não gosto de minha mãe, não gosto de Goiânia e nem desse povo que fez a maior safadeza de soltar em cima de mim, um boi louco, bravo e surdo dos dois ouvidos!!!” L.E.R.
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