sexta-feira, 29 de julho de 2011

O pioneirismo do estimado professor Teixeira

Onde o senhor nasceu?

Eu nasci no município de Careaçu em 1935. Vim para Santa Rita em 1948, no segundo semestre. Eu era interno do Instituto Moderno de Educação e Ensino. Depois do científico, comecei a estudar direito e me formei na primeira turma de Direito da faculdade de Pouso Alegre.

O senhor foi prefeito de Santa Rita de Sapucaí?

Eu fui prefeito, professor e advogado. Como prefeito, administrei por pouco tempo, porque foi um mandato “tampão”. Fui eleito em dezembro de 1970 e tomei posse no dia 31 de janeiro de 1971.

Qual foi a grande obra do seu governo?

Quando eu assumi a prefeitura, o principal objetivo foi cuidar de abastecer a cidade com água tratada. Logo no início do meu governo, começamos a fazer uma sondagem para que pudéssemos aumentar a quantidade de água. Uma possibilidade era tratarmos a água do Córrego do vintém, mas se a prefeitura captasse lá teríamos dois problemas: naquela região existiam muito chiqueiros e também faltaria água para os moradores daquele bairro. Passamos então a estudar a possibilidade de captar a água do rio. No começo eu não achei boa a ideia, porque sabia que a população não iria aceitar. A cidade não estava acostumada a beber  água do rio. Então eu fui a Pouso Alegre para conhecer o tratamento. A água de lá já era captada do rio. Eu gostei de ver como o sistema era feito. Aquele processo era novo para a nossa região, mas a água ficava mesmo limpinha. Eu vi uma grande vantagem nessa forma de tratamento, pois sabia que jamais faltaria água no nosso rio.

Como foi o andamento da obra da estação de tratamento de água?

No mês de maio, eu conversei com os vereadores para realizarmos um estudo sobre o caso e o engenheiro, Dr. Wellington, desenvolveu um projeto para abastecimento de uma cidade de 50 a 70 mil habitantes. A população da cidade, naquele tempo, era de 17 mil habitantes. Ao terminarmos o projeto, tivemos um novo desafio: a parte financeira. O orçamento da prefeitura na época era de 700 mil Cruzeiros e só para captar a água e levar à estação de tratamento ficava em 1 milhão e 200 mil cruzeiros. Então nós fizemos uma estação bem compacta, aproveitamos uns canos de ferro que estavam na entrada do campo de futebol e começamos a executar a obra. No dia 7 de setembro de 1972, inauguramos a estação. Nos primeiros dias, a água saía suja, porque fazia muito tempo que os canos estavam vazios. Na inauguração, o Sr. Waldomiro publicou um artigo no jornal com a manchete “Que águão!”. Alguns dias depois, ele voltou a escrever sobre o assunto no jornal, com o título “Que barrão!”. Surgiu muita discussão sobre o assunto na época, algumas pessoas eram contra. Chegaram até a organizar um grupo para impedir a obra, mas o projeto era muito moderno para a época.  Eu já estava começando a ficar meio descrente de que iria funcionar. Lembro que um professor do Inatel até chegou a me perguntar se iria mesmo funcionar porque, se não desse certo, ele iria morar em Pouso Alegre. No dia em que a água saiu limpa, nós até fizemos uma festa!

A cidade mudou muito com início do funcionamento da estação de tratamento?

Quando o engenheiro deu a obra por encerrada, ele comentou comigo: “A cidade crescerá muito a partir de agora”. E foi o que aconteceu. Até então a cidade era bem pequena. Nós não tínhamos condições de crescer  por não termos recursos de escoamento de água. Com isso, a cidade começou a crescer e começou a se desenvolver. Existiam algumas indústrias, mas não muitas. Tínhamos a Estamparia, a Malharia Marlene... A Cooperativa era a maior empresa daqui.
Como foi o desenvolvimento nesse período?

Naquela época, estava sendo implantado o Inatel. Aquele bairro em torno da faculdade não existia até então. Era um pasto. A Escola de Eletrônica já estava operando. Com o funcionamento das duas instituições, muitos jovens começaram a vir para a cidade. As pequenas experiências começaram a dar origem a pequenas indústrias, como a Linear e a Leucotron - empresas que hoje são muito grandes.

O senhor é um dos fundadores da FAI?

Eu fui uma das pessoas que ajudaram a implantar a faculdade. Fui vicediretor da instituição. A criação da FAI foi muito difícil. Uma conselheira federal levantou uma preliminar, apontando que a nossa região não comportava uma faculdade de administração. Antes, ela já havia feito a mesma coisa em relação ao Inatel. O fato é que ela estava legislando em causa própria. Sua família era proprietária de uma faculdade em São Paulo e muitos alunos da região iam estudar na instituição dela. No início, havia apenas o curso de administração. O curso de informática surgiu quando a faculdade começou a trazer professores de outras cidades e, um deles, resolveu implantar mais uma especialidade.

O senhor também modernizou a telefonia local?

 Santa Rita foi a primeira cidade da região que recebeu o telefone para ligação com Discagem Direta à Distância (DDD). Até então, a telefonia na região inteira era feita à manivela. Algumas vezes, você precisava fazer uma ligação para Belo Horizonte e tinha que esperar até o outro dia. Então veio um diretor da Telemig explicar que estava fazendo um projeto para a região e nós resolvemos apoiar a iniciativa. Desde então, para fazer uma ligação a longa distância, bastava ligar para o número do assinante. Não precisaríamos mais pedir a uma telefonista. Nessa época, nem em Poços de Caldas existia um recurso como esse. Fomos os primeiros.

O senhor também foi professor?

Eu dei aulas de 1955 até 1988. Comecei a lecionar na Escola Técnica de Comércio. Eu fui professor de Português e de noções de Latim. Quando eu fui diretor da Escola Estadual Sinhá Moreira, chegamos a ter 1200 alunos. Havia tantas turmas que chegamos a contratar professores de fora. Oferecíamos um bom curso aos nossos alunos. Eles eram muito bem preparados.

O que o senhor pensa sobre Santa Rita do Sapucaí?

Santa Rita é uma cidade muito tranquila para se viver. Hoje, nós temos alguns problemas, mas não chega, nem de longe, aos problemas de outras cidades. Para você ter uma idéia, nós já passamos 10 ou 12 anos sem ter um único crime. Eu que era um advogado criminal tive que passar para a vara cívil porque não tinha trabalho na cidade. (risos)

Esta matéria é um oferecimento de:

Um comentário:

  1. Esse é um homem a frente de seu tempo, grande doutor Teixeira. Parabéns
    E parabéns pela filha linda que é a Marcela, com um sorriso lindo, séria, pois feliz daquele que ganha um sorriso seu.

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