Bloco dos Democráticos. Este carro foi premiado até em Belo Horizonte. |
A disputa entre os blocos mais tradicionais da cidade, Ride e Democráticos, acontece desde a fundação das duas agremiações. O Democráticos, na verdade, foi fundado por um dos criadores do Ride, Ângelo Bonorino, um ano depois, em 1935.
Disputa que atravessou décadas
Em Santa Rita, nos tempos em que a rivalidade estava no auge, era comum você conhecer alguma pessoa da cidade e ela perguntar o seu nome e para qual bloco você torcia. Em famílias em que os integrantes eram do Bloco dos Democráticos, por exemplo, havia uma resistência precoce por fantasias de palhaço, desde a infância. Já nas famílias formadas por integrantes do Ride, usar roupas com as cores “Preta e Branca” nem no sonho. A rivalidade era tanta que os dois blocos mal podiam se encontrar sem que rolasse alguma provocação ou brincadeira de uma das partes. Isso só aumentou a paixão de seus foliões e fez com que essa disputa atravessasse mais de 7 décadas.
A rivalidade e o morro
Em Santa Rita, nos tempos em que a rivalidade estava no auge, era comum você conhecer alguma pessoa da cidade e ela perguntar o seu nome e para qual bloco você torcia. Em famílias em que os integrantes eram do Bloco dos Democráticos, por exemplo, havia uma resistência precoce por fantasias de palhaço, desde a infância. Já nas famílias formadas por integrantes do Ride, usar roupas com as cores “Preta e Branca” nem no sonho. A rivalidade era tanta que os dois blocos mal podiam se encontrar sem que rolasse alguma provocação ou brincadeira de uma das partes. Isso só aumentou a paixão de seus foliões e fez com que essa disputa atravessasse mais de 7 décadas.
José da Silva e sua companheira Dinorah. A paixão era tanta que o morro dos Democráticos ganhou o seu nome. |
Para os Democráticos, que sempre iniciavam os desfiles do “Morro do José da Silva”, era inadmissível a hipótese de o Ride descer aquela rua com seus carros. Aquela descida era como uma marca registrada. Quando os blocos partiam da Rua Antônio Moreira era comum o corre-corre dos organizadores dos Democráticos quando o Ride resolvia subir um pouco mais com seus carros. Bastava o caminhão do gerador chegar à altura da casa da dona Lydia para que aquele gesto “i-nocente” fosse interpretado como uma provocação sem tamanho. Há quem diga que a Dona Dinorah, que sempre morou no alto do morro conhecido pelo nome do seu marido, nunca viu o Ride Palhaço desfilar em toda a sua vida.
Torcida Organizada do Bloco Ride Palhaço. Tempo bom quando os desfiles ainda era na praça. |
Os mais antigos costumam dizer que o ápice da disputa aconteceu no final da década de 70. Naquele mesmo período, o Ride passou a executar a música “Turbilhão” como marco de um ano em que teria vencido o rival e o Democráticos, por sua vez, passou a executar a marcha “Bandeira Branca” por considerar que naquele ano teria vencido também.
As três filhas do amigo Tito de Oliveira encantam durante desfile do Ride Palhaço. |
Certa vez, em um ano em que o Ride deixou de desfilar, alguns dos foliões mais fanáticos dos Democráticos encontraram uma peteca gigante no barracão dos escultores conhecidos como “Irmãos De Franco” e resolveram propor uma brincadeira com o Ride. A proposta foi aceita por unanimidade. Em pouco tempo, uma enorme peteca vermelha foi ins-talada em um dos carros alegóricos com os seguintes dizeres: “Do nosso lado ela não cai”. E o bloco desceu. Entretanto, o que os foliões não esperavam era que as penas gigantes da peteca ameaçassem cair logo que o bloco chegou à praça Santa Rita. Há quem diga que as penas quase foram derrubadas com a força da mente dos furiosos adversários. O importante foi que a peteca não caiu e os Democráticos conseguiram dar a volta sem maiores contratempos.
Década de 80. Três garotinhas fazem pausa para fotografia em frente ao cinema. |
Outro episódio muito comentado foi quando os foliões dos Democráticos resolveram criar um carimbo gigante, feito com chapas recortadas de raio-x e sair carimbando a cidade inteira com o lema do bloco naquele ano: “Agora e sempre”. No calor da brincadeira, carimbaram até o muro da casa do Caponi. Aquilo rendeu. Logo os integrantes do Ride também criariam um carimbo com a palavra “Perdendo” e sairiam pelas ruas da cidade, na calada da noite, completando a frase dos adversários.
Quando o navio do Capitão Gancho invadiu as ruas de Santa Rita do Sapucaí. |
O caçador de Rolinhas
No passado, os dois blocos escondiam seus carros a sete chaves. Os trabalhadores dos barracões eram terminantemente proibidos de contar como seriam os carros alegóricos e o suspense pairava sobre a cidade até chegar o momento dos desfiles. Certa vez, os trabalhos no barracão dos Democráticos estavam a pleno vapor quando foi ouvido um barulho suspeito vindo de trás do prédio. Qual não foi a surpresa ao descobrirem que a movimentação era de um integrante do bloco adversário que estava “supostamente” tentando espiar as esculturas. Ao ser questionado sobre a sua presença naquele local, o rapaz respondeu a primeira coisa que passou pela sua cabeça: “Estava caçando rolinhas, oras!” A resposta virou apelido. Até hoje o curioso é conhecido como “Rolinha”.
No passado, os dois blocos escondiam seus carros a sete chaves. Os trabalhadores dos barracões eram terminantemente proibidos de contar como seriam os carros alegóricos e o suspense pairava sobre a cidade até chegar o momento dos desfiles. Certa vez, os trabalhos no barracão dos Democráticos estavam a pleno vapor quando foi ouvido um barulho suspeito vindo de trás do prédio. Qual não foi a surpresa ao descobrirem que a movimentação era de um integrante do bloco adversário que estava “supostamente” tentando espiar as esculturas. Ao ser questionado sobre a sua presença naquele local, o rapaz respondeu a primeira coisa que passou pela sua cabeça: “Estava caçando rolinhas, oras!” A resposta virou apelido. Até hoje o curioso é conhecido como “Rolinha”.
Nem a paixão pelos blocos do coração é capaz de separar o amor em família. |
A disputa continua
No últimos anos, a rivalidade diminuiu muito, mas ainda acontece, vez ou outra. Hoje em dia é comum a presença de foliões tradicionais de um bloco adentrarem os cordões do bloco rival para cumprimentarem grandes amigos ou mesmo posarem para fotografias juntos, cada qual com a camiseta do seu bloco do coração. No entanto, aquela brincadeira sadia de dizer que o seu lado está mais forte, ainda existe e tem sido a tônica deste dois grandes grupos de artistas. No aniversário de 70 anos do Democráticos, por exemplo, a camiseta do Ride exibia o irônico texto “70 + 1”. No mesmo ano, o carro da “Ira” - o tema do Ride era “Os 7 pecados Capitais” - acabou “quebrando” em um ponto estratégico para que o Democráticos terminasse o desfile e retornasse ao morro. Nos últimos tempos, tem sido comum o Ride aplicar uma cartolinha, símbolo do Democráticos, em seus prospectos impressos e escrever “Cartola de Mágico” como justificativa. No entanto, com essas brincadeiras, a tradição sempre foi mantida. Através desse amor pelos blocos, o espetáculo já dura quase 75 anos e a alegria revive a cada fevereiro. O negócio é aguardar. O Ride Palhaço conseguirá vencer em 2009? Os Democráticos conseguirão conquistar o 74º campeonato consecutivo? Brincadeira, Brincadeira... Que vençam os dois blocos, simultaneamente, como sempre aconteceu desde que o mundo é mundo. Sempre com muito respeito, com muita alegria e com a perfeita harmonia entre os opostos que, no fundo, mas bem no fundo mesmo, se amam de paixão.
(Carlos Romero Carneiro)
Será que vai ficar tudo na saudade?
ResponderExcluirOu vamos virar este jogo?
Linda matéria Carlos,parabéns.
ResponderExcluirNão podemos deixar esta tradição acabar.