sábado, 26 de fevereiro de 2011

O diagnóstico Vale da Eletrônica

Ontem estava conversando com alguns amigos e chegamos à conclusão de que existe uma grande estratificação social na cidade. A base da pirâmide tem aumentado cada vez mais enquanto poucos enriquecem. Existe uma imensa maioria de trabalhadores que pagam pilhas de parcelas para mobiliar a casa com baixos salários, enquanto poucos patrões dividem e ostentam o famoso um bilhão de faturamento. O que a gente mais vê são santarritenses qualificados irem para as capitais em busca de bons salários, enquanto profissionais dos grandes centros chegam a Santa Rita para receberem o triplo do que receberia um nativo com a mesma experiência. E sabe por que isso ocorre? Isso acontece porque um cara de fora não tem o menor vínculo com a nossa terra. Eles não estão nem aí com o crescimento da cidade e, consequentemente, não irão contaminar os outros funcionários com "manias de grandeza". Neste ciclo, a base cresce, os filhos dos santarritenses que conseguiram estudar vão embora, pessoas desqualificadas ou descomprometidas tomam conta da política pública e o caos aumenta.

Quanto ao sindicato dos trabalhadores, ao nosso ver, pouco ou nada defende os operários. Para nós, eles são coniventes com a desvalorização dos salários para não gerar desníveis. Já ouvi diversas conversas sobre empresas que chegaram na cidade e acabaram reduzindo o valor dos salários por interferência de "forças ocultas". Na minha opinião, da maneira como age, o sindicato dos trabalhadores de Santa Rita do Sapucaí mais atrapalha do que ajuda o trabalhador. Se eu fosse operário não confiaria nele. 

A nossa dúvida é: porque as cabeças pensantes do município vêem os erros mas não se manifestam? Por que, enquanto os despreparados ocupam cargos públicos e produzem dezenas de escândalos, os grupos organizados - com bons propósitos - não tomam partido? Afinal, se nós não nos unirmos por uma cidade que favoreça a todos e que promova os pequenos trabalhadores, que são maioria, continuaremos morando em um Vale da Eletrônica cheio de piratas que ancoram seus navios no Rio Sapucaí, saqueiam tudo o que podem, dão um espelhinho ao operário e deixam a cidade com a mala cheia de dinheiro. Enquanto as pessoas de bem acreditarem que a coisa pública não é um problema que interfere na vida delas, continuaremos morando em um Vale da Eletrônica todo arrebentado, cheio de buracos e sem qualquer aparelhamento urbano, pronto para ruir a qualquer momento.

Nos últimos 30 anos, acredito que só um prefeito tenha cumprido seu mandato de forma integral. Tem alguma coisa errada nisso, não? Será que não é hora da gente acordar e colocar os pingos nos i's? Será que não chegou o momento dos santarritenses que realmente amam a cidade e valorizam o que nossos antepassados fizeram tomarem as rédeas da situação? Será que não está passando da hora do trabalhador entender porque ele tem que trabalhar tanto para comprar uma bicicleta barra-forte ou um Fiat Uno? Se não for agora, em breve teremos uma cidade cheia de bandidos, piratas, drogados, depravados, traficantes e larápios comandando os destinos de quem ficou. Se é que isso não já está começando a acontecer.

Afinal, qual é o diagnóstico para Santa Rita do Sapucaí? Que Vale da Eletrônica é esse onde forasteiros chegam de todos os cantos em busca de exploração e dinheiro fácil e nada produzem em contrapartida? Por que alguns políticos ignorantes e egoistas mandam e desmandam enquanto os cidadãos de bem sofrem as consequências? Por que os bons empresários não saem em detrimento da coletividade? Convidamos vocês a discutirem aqui, ou na sociedade, e encontrarem respostas para isso. Ou os cidadãos honestos começam a administrar nossos rumos a partir de agora - propondo soluções inteligentes - ou teremos um escândalo cada vez que algum desqualificado perder suas regalias particulares.
(Carlos Magno Romero Carneiro)

9 comentários:

  1. Daniela Gaudino Palma Azevedo26 de fevereiro de 2011 às 12:50

    Caro Carlos Magno:Primeiramente,parabéns pelo magnífico texto.Com dizeres,tenho convicção,tirados da boca de muitos santarritenses indignados com nossa realidade.Mais ao mesmo tempo,muitos outros "santarritenses" criam essa situação.Acham bonito o que é novo,valorizam o que vem de fora.Como diz o ditado:Santo da terra não faz miligres.Aqui é assim,infelizmente.As cabeças pensantes do nosso município,tenho certeza,não têm apoio.Porque muitas vezes os próprios conterrâneos não reconhecem suas capacidades.vamos mudar isso.Estou com vocês.Abraços.

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  2. Daniela Gaudino Palma Azevedo26 de fevereiro de 2011 às 13:02

    Caro Carlos Magno:Primeiramente ,parabéns pelo magnífico texto.Com muitos dizeres,tenho convicção,tirados da boca de muitos santarritenses indignados com nossa realidade.Mais ao mesmo tempo muitos outros "santarritenses"criam essa situação.Acham bonito o que é novo,valorizam o que vem de fora.Como diz o ditado:santo da terra não faz milagres.Aqui é assim, infelizmente.As cabeças pensantes do nosso município ,tenho certeza,se sentem totalmente sem apoio.Porque muitas vezes os próprios conterranêos não reconhecem suas capacidades.Vamos mudar isso.Estou com vocês.Abraços.

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  3. Mais uma vez, algo que só investimentos pesados em educação podem resolver. Por que as empresas vão buscar gente fora? Porque para áreas que vão além da engenharia ou da eletrônica, dificilmente tem mão de obra qualificada. Não acredito que isso se resolva com protecionismo, mas com qualificação.

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  4. É uma pena, mas Santa Rita guarda um grande ranço da escravidão e do imperialismo: não valorizamos o que é nosso e a maioria acha que o que é bom deve vir de fora. É muita falta de auto-estima!
    Com isso, todos perdemos e não se percebe que o que produzimos é levado para fora porque os "estrangeiros" não aplicam nada aqui. Pelo contrário: nosso povo, que não procura se instruir, está sendo espoliado.
    Acorda, santarritense!
    Comece a valorizar e a administrar o que é seu!

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  5. O santarritense acabou se transformando em subproduto do Vale da Eletrônica! Só servimos para oferecer mão de obra barata! Com essa onda de empresas virem apenas para receber "bolsas" do governo a coisa tende a piorar... Perderemos também a credibilidade. Precisamos voltar a dar as cartas...

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  6. Realmente interessante....
    Por que empresas de grande porte não vem para SRS?? já ouvi dizer que é devido ao medo da concorrência... empresas maiores pagam melhores salários, oferecem beneficios aos seus funcionários, plano de carreira, entre outras coisas....
    Se vierem, as empresas que hoje estão localizadas em SRS, ou se adaptam a concorrência, e passem a oferecer melhores salários e beneficios, ou vão perder mão de obra especializada para as "Grandes" empresas.

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  7. Vejo 4 cenários...

    1 - Empresas da cidade em busca de competitividade precisam de gente qualificadíssima para trazer conhecimentos que a mão de obra da cidade teoricamente não teria. É uma situação. É inteligente deixar santarritenses irem para foda e depois trazê-los. É inteligente trazer gente de fora para que os da cidade aprendam com eles. Minha humilde opinião.

    2 - Santarritenses que trabalham fora. Há diferença entre o custo de vida em Santa Rita e em São Paulo? Muita. Empresas de Santa Rita movimentam tanto dinheiro quanto as de São Paulo? Não. Assim é claro que SP paga mais. Como Santa Rita fica ao lado, o sujeito consegue deixar a família na cidade, trabalhar a semana toda em SP e ter uma vida boa aqui com custo de vida local e salário de capital. Não é questão de auto-estima, é questão de economia.

    3 - Pobreza na cidade. Não vejo relação alguma com os 2 pontos acima. Começou com casas populares e aumentou com o episódio da Phihong. Só o desenvolvimento do comércio de Santa Rita, da cidade como pólo turístico e a chegada de uma empresa com linha de produção grande para começar a resolver.

    4 - Criminalidade. Só trabalho não resolve. Onde estão os investimentos públicos e privados na cultura?

    Bjo, Cris

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  8. O prefeito-empresário faz o mesmo que faziam os prefeitos-fazendeiros: evitar a concorrência.
    O bem comum? O que é isso? Está falando grego???

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  9. É fato que o mercado de trabalho santarritense remunera mal seus profissionais, e não me refiro à mão de obra de qualificação mediana, mas àqueles que indiscutivelmente agregam valor às empresas para as quais produzem.
    Há empresas que contratam profissionais oriundos de outras localidades por salários bons, mas que recusam profissionais santarritenses com a mesmíssima qualificação, ou até maior, por salários que não sejam significativamente mais baixos. Tudo leva a crer que de fato exista sim uma cultura de não disseminação de práticas salariais adequadas entre os cérebros santarritenses. Afinal, se isso acontece, como controlar depois o grau de exigência dos profissionais?
    E isso não se refere a salários de multinacionais, mas no mínimo um salário maior do que os rendimentos de um pedreiro ou outro profissional de pouca formação.
    Muito bem colocado pelo texto, isso promove o enraizamento da cultura provinciana de se bastar com a novela das oito todas as noites, o churrasquinho nos finais de semana e a felicidade de ver seus dividendos alcançarem a Barra Forte ou o Fiat Uno semi novo no final do ano. Santa Rita corre para o “Pequeno Perfil de um Cidadão Comum”, como dito na canção de Belchior:
    “Era feito aquela gente honesta, boa e comovida; Que tem no fim da tarde a sensação da missão cumprida; ...Que caminha para a morte pensando em vencer na vida”.
    Há muito tempo tem sido comentário entre os santarritenses mais esclarecidos, que vivem longe ou na própria cidade, de que esse é o mais cruel mecanismo de controle do progresso santarritense.
    É fato que a base da pirâmide insufla e o comércio da cidade gradativamente só comporta os piratas do Vale que vendem aquele aparelho de DVD a ser pago com os suados 36 meses de prestação do honesto operário, único cidadão que distribui seus dividendos no município.
    É frustrante assistir as reportagens veiculadas na mídia que se referem ao Vale da Eletrônica preconizando a idéia de que aqui os cidadãos têm ótimos salários e alta qualidade de vida, de que não há violência e o cenário urbano é bucólico e romântico. Com exceção das maravilhosas instituições de ensino existentes em nossa terra, o resto é um engodo !!! É querer fazer Santa Rita parecer com uma vila européia ou um Vale do Silício que nunca foi !!!
    Parabéns ao texto que não faz afirmações, contudo lança uma provocação inteligente, para que o bom cidadão faça desse tema um debate nas escolas, nos lares, nas ruas, nos bares, nas empresas. E talvez, em algum momento passe a questionar, dando início a uma mudança de paradigma.

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