sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Rio Sapucaí: de onde vem e pra onde vai.

O rio Sapucaí é a artéria principal do corpo de quarenta e seis cidades. Quarenta e três no estado de Minas e três no estado de São Paulo. Em sua bacia vivem mais de meio milhão de pessoas.
Pescadores do Rio Sapucaí.
A Bacia hidrográfica do Sapucaí é uma sub-bacia do rio Grande que, por sua vez, pertence à bacia do rio Paraná. O rio Paraná pertence à bacia do Prata que, após margear a Argentina, deságua no Oceano Atlântico. A bacia do Sapucaí engloba microregiões do Vale do Paraíba Paulista, Alto da Mantiqueira, Planalto Mineiro e Furnas.

O rio Sapucaí é o principal rio da bacia. Nasce com o nome de Sapucaí-Guaçu, acima da Vila de Jaguaribe, em Campos do Jordão, a 1750 metros de altitude, na serra da Mantiqueira.

Antes da construção da usina hidrelétrica de Furnas, no começo da década de 60, o rio Sapucaí desaguava diretamente no rio Grande, nas proximidades de Alpinópolis. A partir de sua nascente até sua foz, sua extensão era de 405 quilôme-tros. O rio Sapucaí encerra seu curso na Vila de Pantalete, entre os municípios de Paraguaçu e Três Pontas. Nesse local, o Sapucaí se une ao rio Verde e, juntos, formam um braço da represa de Furnas.

O rio está dividido em três segmentos distintos: curso superior (Alto Sapucaí), curso médio (Médio Sapucaí) e curso inferior (Baixo Sapucaí). O alto Sapucaí atinge uma área de cinqüenta quilômetros. Inicia-se na nascente em Campos do Jordão e vai até a confluência com o rio Bicas, próximo a Wenceslau Brás. O médio Sapucaí estende-se da confluência do rio Bicas até o encontro com o Sapucaí Mirim, no município de Pouso Alegre, atingindo noventa quilômetros. O baixo Sapucaí, com 143 quilômetros, vai do encontro do Sapucaí-Mirim até a represa de Furnas.

O agrupamento de várias nascentes das vilas de Campos do Jordão, dão forma ao rio, ainda dentro do município. O rio segue, serra abaixo, rumo ao território mineiro.
A declividade do relevo nessa região montanhosa favorece o aparecimento de corredeiras e cachoeiras. O rio passa entre pedras, formando pequenas lagoas. Nesse trecho é possível atravessar a pé de uma margem para outra pois, apesar da forte correnteza, o rio atinge apenas um metro de profundidade.
Nas proximidades de Santa Rita do Sapucaí, com várzeas mais estreitas, o rio recebe as águas do Ribeirão Vargem Grande. Depois de atravessar Santa Rita, o rio dirige-se a Pouso Alegre, mudando a direção de Oeste para Norte.

A descoberta do rio Sapucaí

O rio Sapucaí foi descoberto em 1596 pelo sertanista João Pereira Botafogo, entre os municípios de Paraguaçu e Carmo do Rio Claro. Durante os séculos XVII e XVIII, o rio serviu de rota para as numerosas bandeiras que partiram das capitanias do Rio de Janeiro e São Paulo em busca de tesouros para a coroa portuguesa.
Paulo Cleto às margens do Sapucaí.
Em 1737, o ouvidor de São João Del Rei, Cypriano José da Rocha, organizou um expedição para desbravar o rio Sapucaí e afirmou: “É um rio abundante em águas, maior em muitas partes que o rio Grande, porém de vagarosa corrente.” O ouvidor, satisfeito, mandou explorar ouro das cabeceiras do rio.

Os vales férteis e as águas volumosas, continuaram a atrair aventureiros nos anos seguintes. Outros lugarejos foram nascendo às margens do Sapucaí e seus afluentes, como Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre e Careaçu.

A flora

O rio Sapucaí recebeu esse nome pela abundância das sapucaias existentes em suas margens. Sapucaias são árvores da família das lecticidáceas. Produzem frutos oleosos e comestíveis, semelhantes à castanha-do-pará. Sua madeira é dura, pesada e resistente, usada para dormen-tes, na construção civil e naval. Em tupi “Iasapuka’i” significa “fruto que faz saltar o olho, “que grita”, “que canta”.
 Dona Maria José Carvalho Viana, cronista e escritora, tinha em sua casa, alguns frutos da sapucaia que vieram de Viçosa, do outro lado do estado. Em sua fazenda ela plantou algumas mudas de árvores, compradas em Piracicaba, São Paulo.

Segundo historiadores, as sapucaias desapareceram por causa de sua madeira, ótima para obras externas. E foi a ocorrência das chamadas madeiras-de-lei ao longo da bacia do Sapucaí que acelerou o desmatamento.
A região de Santa Rita do Sapucaí possui uma mata ciliar de característica inferior à primitiva. Os óleos, ipês, ingazeiros e maçaranduvas, considerados de lei, cederam lugar às capixabas e cambuís, consideradas madeiras-brancas.

A pesca

A ação predatória do homem praticamente extinguiu uma atividade que, durante muito tempo, foi meio de subsistência para muitas famílias ribeirinhas: a pesca.

Hoje, pescadores nas margens do Sapucaí correm o risco de se tornarem mais um espécie em extinção. A poluição vem diminuindo o oxigênio das águas, o que provoca a morte dos peixes. Com a retirada da areia, a produção do Plâncton, principal alimento de várias espécies de peixes, diminui.

Cortes e represas dificultam e até impedem a ocorrência da piracema, subida dos peixes para a desova. Nessa luta pela sobrevivência, saem vitoriosos os peixes de couro como o mandi, bem adaptado à poluição.
As espécies que atualmente são encontradas ao longo do rio Sapucaí até desaguar no rio Grande são: lambari, cigarra, dourado, tabarana, trairão, traíra, piau, piapara, piau-três-pintas, flamenguinho, campineiro, sagüiru, curimbatá, canivete, mandi-amarelo, bagre, cascudo e acará.

A retificação

Até 1965 o rio Sapucaí não era muito conhecido. Antes da retificação feita pelo DNOS, havia desova em São José do Alegre que hoje não há mais. Com a interferência do homem, há um seleção de espécies de peixes que têm dificuldades de adaptação, como é o caso da piratanduva, que hoje está praticamente extinta do Sapucaí.

(Trecho da obra “Sapucaí, o caminho das águas”, produzida em 1996 por Ana Maria Beraldo, Luciane Santos da Cunha, Maria Eunice dos Reis e Sarita do Prado Amaral.)

7 comentários:

  1. Linda a história do rio. Pena que hoje é algo que não passa de uma canal de esgoto a céu aberto. Não só o Sapucaí como a maioria dos rios brasileiros e do planeta. Quem sabe um dia a sociedade consiga reverter esse quadro, embora confesso pouco otimismo quanto a essa possibilidade. Mas, o mundo gira e as vezes, mesmo que raramente o improvável acontece. Fiquemos na torcida.
    Prof. Anderson (EE"Sanico Teles")

    ResponderExcluir
  2. cezar romero de souza4 de junho de 2012 às 08:15

    Gostaria de saber como adquirir essa obra. Pelo trecho em pauta deve ser muito interessante. A história de qualquer rio do mundo haverá de ser sempre muito linda. O triste nisso tudo e, principalmente no Brasil, é o fim das histórias que se repetem com a agonia dos personagens como o nosso glorioso Sapucaí. Em uma viagem de trem "AMTRAK" da costa Oeste para a costa Leste dos USA, com três dias no trem, pude obervar os rios de vários estados americanos e constatar que, embora com alguma redução do volume as águas são límpidas e provávelmente até potáveis. Parabéns pela matéria e pela riqueza de informação.

    ResponderExcluir
  3. O MAI GOOD...EU SÓ QUERO SABER NA ONDE COMEÇA O RIO SAPUCAIII...

    ResponderExcluir
  4. SR ANONIMO , VOCE NÃO LEU A REPORTAGEM TODA E O TRECHO DO LIVRO SOBRE O RIO SAPUCAI ????
    SE LEU COM ATENÇÃO SUA PERGUNTA ESTÁ RESPONDIDA
    PONTO FINAL

    ResponderExcluir
  5. Quando me mudei para Santa Rita, em 1976, o pessoal costuma tirar sarro da minha cara (paulistano) por causa do Rio Tietê, pois na epoca o Sapucai ainda era muito limpo. Cheio de peixes, com uma natureza exuberante à seu redor, apesar de a retificação entre SRS e PA já existir. E eu sempre brincava com meus amigos santarritenses falando para eles não fazerem a mesma besteira que nós, paulistanos, fizemos com nossos rios. Parece que não adiantou nada avisar.

    Rogério Mamão Kezerle

    ResponderExcluir