Outro dia, ao subir as escadas do Banco Itaú para usar o caixa eletrônico, me deparei com um grupo de jovens que sempre ficam sentados por ali. Ao me aproximar da porta, um deles falou uma frase que mudou completamente a minha vida: “Dá licença pro tio passar!”. Tio??? Foi aí que a ficha caiu. Para aqueles moleques, eu era mesmo um tiozinho e “cair a ficha” é algo que eles nem imaginam o que seja. Na visão deles, eu era mais um exemplar da distante geração de 80. Uma espécie muito estranha que usava Kichute com o cadarço amarrado na canela e fumava cigarrinhos de chocolate. Realmente, muita coisa mudou de lá para cá. A própria praça já não é mais a mesma. Quantas vezes nadei naquela fonte luminosa, indiferente ao olhar dos adultos? Quantas vezes joguei “Mil Milhas” no fliperama do Waltinho ou comprei balas “Sete Belo” na Bomboniere Renata? Quantas vezes escorreguei na rampinha do coreto ou brinquei em torno do monumento do Chico Moreira? É, meus caros, o tempo é implacável. No entanto, lembrar esses momentos dá uma saudade danada e me inspirou a fazer este texto.
A infância na década de 80
Na década de 80, a nossa mesada era “1 Barão”. Uma pequena fortuna que, convertida para a moeda corrente da molecada, equivalia a 10 chicletes. Com essa bufunfa, a gente tinha que escolher: ou tomava uma coalhada na lanchonete do Modesto, ou tentava convencer os porteiros do cinema para assistir a filmes censurados para menores de 12 anos. Quando passava filme dos Trapalhões, o cinema ficava lotado. Saía criança pelo ladrão. Nunca me esqueço quando um desocupado pregou um chiclete na minha cabeça, durante a exibição de Crocodilo Dundee. Até hoje eu vejo o meliante na rua e ainda me lembro do episódio. A brincadeira me custou uma boa parte do topete e um mês tendo que ir de boné para a escola.
Amigos para toda a vida
De todos os amigos que fiz na infância, fico feliz em poder dizer que continuo próximo de muitos deles. Era uma turminha grande. Quando uma criança ganhava um brinquedo novo, virava febre na cidade. Todo mundo queria ter um igual. Tinha a época das pipas, a temporada dos iô-iôs da Coca-cola e o tempo de construirmos carrinhos de rolimã para descermos do alto do morro do cruzeiro.
A infância na década de 80
Na década de 80, a nossa mesada era “1 Barão”. Uma pequena fortuna que, convertida para a moeda corrente da molecada, equivalia a 10 chicletes. Com essa bufunfa, a gente tinha que escolher: ou tomava uma coalhada na lanchonete do Modesto, ou tentava convencer os porteiros do cinema para assistir a filmes censurados para menores de 12 anos. Quando passava filme dos Trapalhões, o cinema ficava lotado. Saía criança pelo ladrão. Nunca me esqueço quando um desocupado pregou um chiclete na minha cabeça, durante a exibição de Crocodilo Dundee. Até hoje eu vejo o meliante na rua e ainda me lembro do episódio. A brincadeira me custou uma boa parte do topete e um mês tendo que ir de boné para a escola.
Amigos para toda a vida
De todos os amigos que fiz na infância, fico feliz em poder dizer que continuo próximo de muitos deles. Era uma turminha grande. Quando uma criança ganhava um brinquedo novo, virava febre na cidade. Todo mundo queria ter um igual. Tinha a época das pipas, a temporada dos iô-iôs da Coca-cola e o tempo de construirmos carrinhos de rolimã para descermos do alto do morro do cruzeiro.
Os anos 80 marcaram um período muito interessante de Santa Rita. Até então, a cidade não via muitas perspectivas para o crescimento. Por morarmos em um vale, achávamos que Santa Rita não tinha mais para onde ir. Violência que não existia. O quintal da molecada era a rua. Como o Atari e o Odissey ainda estavam no início, a diversão era reunir a turma e brincar de futebol, pega-pega ou pique-esconde. Por falar em pique, existia por aqui uma modalidade dessa brincadeira que eu nunca mais vi em outro lugar: o famoso “Pique Vara”. Nessa brincadeira, a molecada se dividia em dois grupos: um pelotão para correr e outro para bater. O segundo grupo quebrava galhos de árvores ou “espadas de São Jorge” e se preparava para descer a lenha em quem achasse pela frente. O mais interessante é que valia a cidade inteira e só terminava quando a criança chegasse em casa para dormir. As regras eram claras: só eram permitidas três varadas na perna e não adiantava gritar pela mãe. Era muito comum ver um ou outro amigo com um vergão que demorava dias para desaparecer.
Modas bizarras
Como acontece até hoje, nos anos 80 a moda era ditada pela “novela das oito”. Em uma delas, um personagem chamado Greg ou Greghor, usava um fio de telefone preso com um chaveiro em torno do pescoço. Aquele colar bizarro logo se alastrou pela cidade toda. Aliás, aquilo se alastrou pelo mundo. Que atire a primeira Grapette quem passou por essa fase e nunca usou esse treco pelo menos uma vez na vida. Outra moda que toda criatura da década de oitenta ainda quer esquecer é a “MenudoMania”: um grupo porto-riquenho formado por 4 ou 5 garotos de fitinhas coloridas na testa que proporcionava altos Ibopes ao programa “Viva a Noite”, de Gugu Liberado. Tem muito marmanjo com barba na cara que já deu giradinha no refrão de “Não se reprima”. É o lado negro da força...
Discípulos de Spectroman
Lembrar da década de 80 é isso. É falar de heróis japoneses, de figurinhas feitas de lata e de tênis antimacrobióticos. Uma época em que a interação humana ainda existia e que jogar conversa fora com os amigos, sentado à beira da calçada, valia mais do que salas de bate-papo ou jogos em rede. Foi o último suspiro de um mundo inocente, onde as tardes demoravam anos para passar e a nossa vida era decidir do que íamos brincar no outro dia. Um momento que marcou o início dos enlatados e os primeiros passos do bombardeio de informações que viria a ser dos anos noventa em diante.
Dedicado aos amigos: Ricardo Foca, Léo Lambari, Mário Vaca, Paçoca, Cabeça, Jão Iti, Fábio Mazaroppi, Aldo, Guto, Juninho, Dedé, Marquinho e Jota Maquei.
Olá Carlos. Muito legal relembrar os deliciosos anos 80. Também vivi minha infância e início da adolescência nesse período. Tudo era romântico. As músicas, os desenhos animados, as brincadeiras, até mesmo a escola tinha um ar especial, diferente. A humanidade parecia mais "humana". Dentro do universo internacional da Guerra Fria, entre ameaças de bombas atômicas e disputas esportivas sensacionais entre os mundos capitalista e comunista, as pessoas apresentavam sonhos, ilusões, desejos, caráter. Talvez a conjuntura política e econômica dos anos 90, tenha ditado as regras para o que havia se iniciado no final da década de 80. Um mundo mais capitalista, mais materialista, onde os básicos preceitos da convivência humana começaram a perder sentido e os humanos deixaram muito de tudo aquilo que fazia a sociedade romântica e, se transformar em algo prioritariamente consumista. Hoje me pego pensando: será que éramos de fato felizes ou a infância e a juventude atual é muito mais feliz do que fomos? essa dúvida as vezes me invade, mas ao final acabo sempre chegando a conclusão que na frieza do mundo virtual não se pode ser mais feliz que nos tempos em que o contato humano se fazia absolutamente necessário para tudo.Para brincar, para se divertir, para ser feliz.
ResponderExcluirProf. Anderson ( EE "Sanico Teles")
Professor! Você não quer se tornar um colunista do Empório? Salário não tem, mas a satisfação é grande! Abraço! rs Carlos Romero.
ResponderExcluirOlá Carlos, obrigado pelo convite. O faria com imensa satisfação.Estou sentindo falta de escrever. Quando estava fazendo minha especialização produzia bastante. Após terminada esse ato que me concede imenso prazer e eu realmente estou necessitando exercitar as palavras. Já lhe passei meu email em algum post mais antigo. Entre em contato por ele e podemos lapidar a ideia.
ResponderExcluirabração
prof. Anderson